O cinema faz parte da minha vida desde que me entendo por gente. Talvez até mesmo antes disso. Bendito o dia em que fui ao cinema com meus pais assistir à E.T - o extraterrestre, de Steven Spielberg. Ao final da sessão, senti-me como Mia Farrow em A rosa púrpura do Cairo, de Woody Allen, vendo o personagem do filme a que assistia na sala de projeção sair da tela para conversar com ela.
Contudo, é preciso fazer um adendo: sempre me perguntei - já mesmo naquele momento - que máquinas seriam utilizadas para produzir aquele espetáculo que já comemora mais de um século de existência. E essa curiosidade me perseguiu por décadas.
Pois bem: saio da exposição Galáxia(s) do cinema: máquinas, engrenagens, movimentos ou this strange little thing called love, realizada no Museu de Arte Moderna, no Flamengo, com os olhos envoltos em lágrimas e com uma certeza na cabeça - a de que meus sonhos de criança foram todos atendidos com juros e correções monetárias.
Galáxia(s) do cinema, organizada pelo curador da própria cinemateca do Museu, Hernani Heffner, é um passeio nostálgico e delicioso pelo mundo das máquinas e apetrechos que fazem da sétima arte o espetáculo que se tornou no último século. São mais de 400 objetos, entre câmeras, refletores, travellings, mesas de animação, cartazes e o que mais o seu imaginário cinéfilo for capaz de conceber.
Imagine poder estar frente a frente com a câmera que rodou Terra em Transe, clássico do cinema novo dirigido pelo cineasta baiano Glauber Rocha. Pois é... Eu estive. E foi emocionante. Mais: quase fui às lágrimas ao me deparar com os projetores alemães de 35mm que, no passado, fizeram a alegria de fãs e mais fãs das sessões da era de ouro da cinemateca. Fizeram me lembrar dos tempos em que eu mesmo, funcionário de uma rede de cinemas, entrei pela primeira vez numa cabine de projeção e me imaginei como Toto, o menininho italiano vivido por Salvatore Cascio em Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Como eu disse no terceiro parágrafo: lágrimas, muitas...
O acervo em si, reunido para mostrar a história do cinema através das décadas, conta paralelamente a história de nossa própria cinematografia. Há objetos que foram utilizados por grandes nomes de nosso cinema, como Luiz Carlos Barreto, Dib Lufti, Humberto Mauro, entre outras feras cujos nomes não envelhecem na cabeça dos verdadeiros cinéfilos.
Percebi em certos olhares de outros espectadores que acompanhavam comigo a exposição um desejo de "se pudesse, levaria tudo isso para a minha casa". Acreditem: para quem é fã do gênero, a vontade que dá é exatamente essa.
Resumindo a ópera, quer dizer, o filme (se é que, nesse caso, isso seja possível): Galáxia(s) do cinema é, mais do que um reles passeio, uma viagem no tempo à um era de descobrimento cultural. Vêem-se, através de máquinas e instrumentos, o registro de um tempo que se imortalizou nos olhares, sorrisos, lágrimas e desejos de uma geração apaixonada por imagens e sons.
Diferentemente de hoje, onde se percebe nitidamente um interesse muito maior no aspecto monetário desse mercado, aqui o que pude ver é que o que faz da sétima arte a grande celebração que se tornou, não é a grana que se gasta e sim a que se propôs o uso de toda essa tecnologia. Que, aliás, não parou de se reinventar.
Pois no dia que parar, podem ter certeza: o cinema terá morrido.
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