Nunca acreditei no discurso de Império, pois ele sempre esconde falcatruas monumentais. Nunca se sabe ao certo o que existe de real no discurso do imperialista, fodão, todo-poderoso. A única "certeza" (digamos assim) é: existem os que babam o ovo do sistema e existem aqueles que confrontam o sistema. E dependendo do tipo de interpretação que você tenha, esse segundo grupo pode ser chamado tanto de revolucionário quanto de terrorista. Cabe a você, interlocutor, escolher a definição que melhor lhe agrade.
No caso particular de Bob (Leonardo DiCaprio) e Perfidia (Teyana Taylor), os catalisadores principais da trama de Uma batalha após a outra, obra-prima contemporânea do diretor Paul Thomas Anderson, a escolha foi o grupo revolucionário Friend 75 que, cansado do tratamento dado às minorias e imigrantes ilegais, decidem tocar fogo no país, da forma que for possível. E mesmo que a priori essa história se passe durante o governo Reagan, ela tem raízes muito mais profundas e incômodas.
Como toda dupla "criminosa" (vocês já entenderam o significado das aspas a essa altura, não é mesmo?) que se preze, faz-se necessário um adversário ou algoz. E ele está presente na figura do obstinado e contraditório Coronel Steven Lockjaw (Sean Penn, fantástico!), que também nutre um desejo quase doentio por Perfidia. Após a prisão dela - que vai parar no programa de proteção de testemunhas, depois de trair seu próprio grupo - e sucessivo desaparecimento, o roteiro se volta para Bob e a "filha" do casal, Willa (Chase Infiniti, uma grata surpresa!) que, 16 anos depois, se vê novamente como alvo do Coronel, bem como um segmento político dentro do país que acredita piamente na supremacia racial.
O resultado? Uma hecatombe em forma de filme político com altas doses de adrenalina.
Há muito do que gostar em Uma batalha após a outra. A começar pela trilha sonora, misto de apaixonante e incômoda, de Jonny Greenwood, uma das melhores - senão a melhor - dele. Os planos sequências magistrais de PTA estão, logicamente, presentes de novo. O elenco extremamente bem escalado e pontual quando precisa se fazer presente. E se, por um lado, é extremamente difícil adaptar o romance Vineland, de Thomas Pynchon, para as telas (e todas as obras literárias escritas por ele são!), por outro é sublime ver o diretor procurando soluções impactantes que funcionem, não como lacunas, mas como outros pontos de vista, outras perspectivas possíveis.
O filme de Anderson surge num momento extremamente propício para debates, em plena era Trump parte II, dessa vez ainda mais cruel do que o mandato anterior. E ele deixa claro o quanto os EUA (ou a tão sonhada América, como eles gostam de se referir ao país) estão em colapso - e não é de hoje. Longe disso! Trata-se da terra que inventa oportunidades e sonhos, mas não necessariamente as cumpre do jeito que você acreditou. E o legado disso é desespero, niilismo e convulsão social pra dar e vender.
Tenho lido em alguns sites e fóruns sobre premiações (leia-se: o contraditório Oscar) que o filme de PTA é um dos favoritos à melhor filme. Na boa... Será que o eterno moralismo conivente de sempre vai permitir? Adoraria acreditar que sim. Contudo...








