Cazuza foi daquelas figuras que passaram pelo país e provocaram sentimentos dúbios: foi amado com a mesma intensidade com que foi julgado, odiado, questionado. E suas canções embalaram - e ainda embalam - gerações de ouvintes de uma MPB e um rock n' roll que, infelizmente, ficou no passado, em nome de falsos moralismos e conservadores fúteis. Ele vivia dizendo que viu "o futuro repetir o passado" e estava coberto de razão. E quem cantou (e canta ainda) seus hits não esquece.
O criador por trás de clássicos como "Exagerado", "Blues da piedade", "Codinome beija-flor", "O tempo não para" e tantas outras pedradas, nos deixou há 35 anos, vítima da AIDS que tanta gente boa levou lá pelos idos da década de 1990. E semelhante data não poderia passar despercebida. Tanto que o escritor e jornalista Ramon Nunes Mello, com aprovação de Lucinha Araújo (mãe do cantor e compositor) realizou a curadoria da exposição Cazuza exagerado no topo do Shopping Leblon, que fui conferir com olhos nostálgicos.
Dividida em nove salas, a exposição conseguiu captar o espírito radical e livre de Cazuza: um homem a quem tantos tentaram colocar freios e só perderam mesmo foi o seu tempo.
É possível ver desde a certidão de nascimento do jovem rebelde, boletins escolares, roupa de batismo, fotos da época de criança até um holograma do próprio cantor fazendo suas caras e bocas. A apresentação do Barão Vermelho na primeira edição do Rock in Rio em 1985 pode ser apreciada num telão pelos fãs mais ardorosos. E, é claro, também estão disponíveis para audição as canções que embalaram toda uma década, movida a referências que vão desde o Circo voador até o filme Bete Balanço, adaptação de uma canção homônima sua.
Falar de cazuza é como esmiuçar um verbete de uma enciclopédia cultural. Durante anos ele se tornou aquela opinião incômoda que, mesmo assim, muitos queriam ouvir - quem sabe para conseguir, enfim, entendê-la. Lembro-me de quando a revista Veja fez aquela matéria criminosa expondo a doença dele. Muitos de meus vizinhos que nem seus fãs eram ficaram revoltados. E com razão.
Independente de concordarmos com suas ideias que fugiam de qualquer tipo de convencionalismo, Cazuza faz ainda muito falta no cenário musical. Digo mais: no Brasil de hoje, falta muita gente como ele, que não abaixa a cabeça para os cagadores de regra, ditos cidadãos de bem. Será que num futuro próximo veremos outro exemplar raro desses, sem papas na língua e escancarando um padrão de vida enfadonho e conveniente? Espero que sim.
No mais, convido aos visitantes deste blog para irem conhecer Cazuza exagerado. Com certeza, é dos melhores trabalhos artísticos que eu testemunhei este ano, até agora. Viva Cazuza!

Sem comentários:
Enviar um comentário