Costumo falar de cinema por aqui. De filmes, gêneros, diretores, vanguardas... Mas, às vezes, faz-se necessário falar também de pessoas que pensaram o cinema - a sétima arte - além do fato de serem filmes. E hoje perdemos um de nossos maiores expoentes nesse sentido. A crítica cinematográfica perdeu Jean-Claude Bernardet, aos 88 anos. E olha: que crítico!
Ao contrário de figuras mais populares do segmento - como Rubens Ewald Filho, Marcelo Janot, Rodrigo Fonseca, etc -, gostava de Jean-Claude porque o via como um grande intelectual da sétima arte. Ele era, pra mim, um espécie de Antônio Cândido da cinematografia. Detalhe importante: ele atuou também em alguns longas, não deixando nada a dever a grandes artífices da nossa dramaturgia.
Sua obra Brasil em tempo de cinema foi meu livro de bolso por anos (até descobrir Pauline Kael, outra figura lendária do meio) e a cada nova leitura de um texto seu me redescobria como cinéfilo prematuro - sim, eu descobri o cinema e fiz questão de que ele fizesse parte da minha vida e formação desde os dez anos de idade.
Ele sabia ser ácido quando necessário (principalmente em sua defesa do cinema nacional), e também apaixonado, às vezes dividindo opiniões entre seus leitores. Uma pena sua partida. Dificilmente aparecerá alguém com sua verve novamente (ainda mais hoje em dia, em meio a tantos influenciadores aculturados e metidices literárias).
Já no fim da vida, doente, Jean-Claude escreveu outro livro brilhante: O corpo crítico, sobre sua própria vida e saúde debilitada. Atualmente, quando me perguntam sobre ele, digo-lhes para começar a conhecer o seu trabalho a partir deste relato. Simplesmente magnífico!
Sua partida me faz pensar, novamente, no que sobrará da crítica - e da arte cinematográfica em geral - muito em breve. Sem renovação à altura e repleta de bobalhões que ficam medindo a qualidade dos filmes através de plataformas como o Metacritic e Rotten Tomatoes, temo pela qualidade de quem pensa a sétima arte de forma reflexiva. Vamos acabar com tudo virando um festival de modismos e achismos tolos? Espero sinceramente que não.
Vai com Deus, mestre!
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