terça-feira, 3 de agosto de 2021

Ouvir música ganhou outra definição


De tudo que eu escrevo na internet nada é mais complicado do que falar sobre música. E por uma razão fácil de explicar: porque é difícil fazer com que meus leitores entendam como eu recebo, ouço a música. Dentre todos os formatos que compõem o segmento cultural, vejo a música como uma disputa territorial, de gerações. Eu posso amar Renato Russo e ter um vizinho que considera o Legião Urbana uma perda de tempo (e acreditem: esse vizinho existe aqui na rua onde eu moro!). E posso achar o Sepultura um atentado contra a música e ser rechaçado - como já fui - nas redes sociais por gente que só conhece rock n' roll e nada mais. 

Entretanto, é inegável que o surgimento da MTV (ou Music Television), mudou completamente os parâmetros da minha - da nossa - relação com a música. Ela deixou de ser simplesmente ouvida para ser vista (e revista e revista e revista) ad aeternum. 

No último domingo a MTV comemorou quatro décadas de existência e, em se tratando de um veículo com proposta - na época - específica, é louvável que ela tenha chegado a tanto. Muitas outras emissoras não tiveram a mesma sorte e olha que começaram antes dela... 

Quando o videoclipe Video Killed the Radio Star, da banda The Buggles, foi exibido em 1º de agosto de 1981, a emissora ainda não sabia, na verdade não fazia a menor ideia de onde poderia chegar. E chegou longe, bem longe. 

Eu lembro de vir correndo do colégio no final dos anos 1980, largar a mochila em cima do sofá e antes mesmo de almoçar ligar a tv para ver os clipes e entrevistas do canal. Minha mãe reclamava que eu tinha preguiça até de tirar o uniforme. Mas ela não entendia. Aquelas pessoas estavam mudando completamente a minha vida, falando a minha língua, pensando com a mesma cabeça que eu. E isso não era pouca coisa, não!

Há lembranças audiovisuais minhas eternas, que moldaram minha formação musical para sempre. E só para fornecer um pequeno aperitivo para os leitores dos meus artigos, vai abaixo uma série de clipes indispensáveis para entender (por baixo) o que significou o canal para mim:

I want to break free, Queen

Freedom '90, George Michael 

Money for nothing, Dire Straits

Você não soube me amar, Blitz

Thriller, Michael Jackson

Take on me, A-HA

Vogue, Madonna

When doves cry, Prince

Kátia Flávia, Fausto Fawcett e os robôs efêmeros

Losing my religion, R.E.M

Nothing compares 2U, Sinead O'Connor

...e isso para ficar no básico. 

Outro ponto fundamental da MTV foi conhecer a legião de VJs que fizeram a minha cabeça naqueles tempos: Gastão, Thunderbird, Zeca Camargo, Astrid, Cuca, Marina Person, Léo Madeira e tantos outros. Muitos deles ainda estão por aí, em outras emissoras. Porém, não mais com a intensidade daquela época. 

E isso sem contar os shows, turnês, as coberturas do Rock in Rio, a série de CDs Acústico MTV (que eu, volta e meia, procuro para ouvir de novo no spotify) e outras informações como, por exemplo, bastidores da sétima arte. Em suma: era uma televisão que falava a língua dos jovens como nenhuma outra. 

Mas - e tudo na vida tem um mas - o tempo passou, o you tube e o vimeo chegaram e a MTV entendeu que as pessoas não queriam mais ver os clipes na sua grade e mudaram a programação, perdendo assim gradualmente o interesse desse que vos escreve. Com a chegada de programas como Namoro MTV, Os piores clipes do mundo ou séries de reality show eu entendi que era hora de procurar um outro lugar para chamar de meu. E assim o fiz. 

Contudo, confesso que sempre haverá um espaço no meu coração (e na minha memória) para relembrar desses pioneiros. E mais: até hoje não vi ninguém fazendo nada que chegasse sequer perto do que esses caras fizeram 40 anos atrás. Demérito da própria tv? Digam-me vocês, se tiverem a resposta. De concreto mesmo somente uma frase: ouvir música, depois da MTV, ganhou outra definição. 

E que saudades da porra eu tenho daquela época!


Sem comentários:

Enviar um comentário