sábado, 15 de agosto de 2020

O cronista visual da Guanabara


Como é bom ter acesso a boa informação sem precisar sair de casa, pegar trânsito e encarar fila em bilheteria... 

Em tempos de confinamento social (eu sei... não seguido por muita gente negacionista e nada afeita à acatar ordens estatais) e muito estabelecimento cultural fechado, torna-se para o colunista cultural uma saga hercúlea encontrar bons temas sobre o qual escrever. E ainda assim - acreditem! - é sempre uma grande surpresa, principalmente para os interessados em conhecimento, encontrar boas ideias que reapresentem a maneira de saírmos em busca de cultura, de informação de entretenimento. 

Foi exatamente isso que aconteceu essa semana, quando sem sair de casa pude apreciar a maravilhosa exposição virtual J. Carlos além do tempo, de curadoria de Rafael Peixoto, no site da Galeria Danielian, cuja sede física fica localizada no bairro da Gávea. 

Conheci a obra de J. Carlos uns 15 anos atrás, através de revistas antigas que faziam parte do acervo de uma biblioteca pública de subúrbio da qual fui sócio quando morava no Méier. E é díficil classificá-lo em uma só categoria: chargista, ilustrador, designer, cartunista, caricaturista, desenhista, ufa! Honestamente... Prefiro ficar com a expressão gênio do traço. Mais do que isso: J. Carlos foi um cronista visual de nossa cidade. E conheceu-a como poucos em sua época. 

Dito isto, a exposição realizada num 3D imersivo preenche de forma esplêndida a barreira de não podermos ver a exposição in loco. Foi minha primeira experiência com o formato e desde já adianto que fiquei encantado. Imaginava algo mecânico, sem graça, mas não foi essa a percepção que tive. Pelo contrário. É possível "passear" pela galeria, olhar quadro a quadro, subir escadas, puxar resumos... Há links os mais diversos (inclusive, para os interessados em comprar as obras, o valor de cada uma disponível). 

Vê-se um retrato básico de tudo que nossa cidade representou e representa até hoje: sátiras políticas - inclusive com as caricaturas de figuras famosas como Mussolini, Hitler, Churchill -, tipos populares, carnaval, as mulheres (que eram a coqueluche do artista, que o diga a melindrosa!, tanto que as roupas que desenhou para elas em suas telas viraram tendência junto ao mercado de confecção de roupas da burguesia que viveu aqueles dias), etc etc etc... Eu não quero me estender mais do que isso, senão estrago a surpresa de quem ainda não viu a expo. 

Era um nacionalista de mão cheia, volta e meia fazia questão de mostrar a bandeira nacional e os desafios pelo qual o país passava em seus trabalhos e combateu de forma ferrenha o fascismo que surgia naquele período. Certamente enfrentaria muita briga no Brasil de hoje!

Teve seus trabalhos publicados para revistas como Careta, Fon Fon e Tico-Tico, entre outras, além de anúncios publicitários que realizou para a Caixa Econômica Federal e a Souza Cruz. Por sinal, fica aqui uma dica para estudiosos de artes visuais e desenhos em geral: há uma série de trabalhos expostos que são estudos para capa de revista (ou seja, trabalhos ainda a lápis, crus). Logo, a expo é também uma grande oportunidade de conhecer um pouco do processo criativo do artista. 

Ao fim do passeio grandioso, fico na expectativa de que mesmo depois de passada a pandemia e suas consequências catastróficas, que outras galerias de arte e espaços culturais também ofereçam este formato virtual. Fiquei realmente impressionado com a qualidade da plataforma e o quanto de informação ela foi capaz de me proporcionar no conforto da minha residência.  

Já estou a espera da próxima aventura online, ansioso.

Nota: para quem quiser dar uma conferida, clique em https://www.danielian.com.br/


Sem comentários:

Enviar um comentário