Os anos 1980 eram foda! E quem não os viveu, nunca irá entender isso completamente. Apenas imaginará e nada mais.
Minha televisão foi refém de meu delírio paranoico adolescente nessa década por conta das sessões de madrugada nos fins de semana (mais especificamente de sexta para sábado e de sábado para domingo, pois este que vos escreve não precisava acordar cedo no dia seguinte para ir à escola). Duas emissoras de tv dividiam minha atenção: o SBT - muito por conta da famigerada Sessão das Dez, que nunca começava às dez da noite e sim depois de meia-noite - e a Globo (leia-se: Corujão, Sessão de Gala, etc). E parte do atrativo gerado por essa faixa de horário relacionava-se diretamente com os filmes de terror.
E sendo ainda mais específico: os chamados slashers (em outras palavras: Freddy Krueger, Michael Meyers e, claro, Jason Voorhees).
Pois bem: eis que o filme que tornou Jason famoso, o hoje cult Sexta-feira 13, completou no último dia 9 de maio 40 anos de existência. O tempo passou, a franquia Jason ganhou nove continuações, um derivado (no qual enfrenta Freddy), uma série de tv, um remake, e ele continua vivo na mente fértil de adolescentes os mais diversos ao redor do mundo. E com toda justiça, é bom que se diga...
Detalhe: no longa de estreia não é nem ele o responsável pelos assassinatos que movem a trama, e sim sua mãe (interpretada pela atriz Betsy Palmer). A matança irrefreável de Jason - que é trabalhado por seu diretor, Sean S. Cunningham, sob a ótica do "whodunnit", em que os assassinatos são cometidos em primeira pessoa e nunca vemos o rosto do vilão - só viria a acontecer de fato nos longas posteriores. Ou seja: sua fama é anterior aos próprios crimes cometidos.
A produção, que custou míseros 550 mil doláres e arrecadou mais de 40 milhões, se pensou como negócio lucrativo desde o início. E mais: a Paramount, que faturou o título do longa - antes mesmo de existir um roteiro - num leilão, queria que o diretor bebesse na fonte de Halloween: a noite do terror, de John Carpenter, lançado dois anos antes. Ou seja: não se pensavam em inovações, mas em investir no certo, no que gerava receita.
E não é que Sexta-feira 13 superou sua referência e seu design de produção primário e se tornou um fenômeno global do gênero horror até hoje? A crítica especializada, logicamente, detonou o longa, acusando-o inclusive de misoginia, por conta da violência praticada contra as mulheres na história. Desavenças à parte, o filme de Sean não era mesmo feito para eles, mas sim para adolescentes à procura de aventuras (como as praticadas no acampamento em Cristal Lake) e, claro, sustos e mais sustos.
Aliás, Cristal Lake (assim como Amity, em Tubarão) virou referência de cinéfilos e pesquisadores da sétima arte, ponto turístico a ser repassado de geração em geração.
Uma pena que com o passar dos anos - só na década de 1980 foram realizados oito filmes da franquia - o personagem tenha perdido o fôlego e virado meio que "veneno de bilheteria".
Digo isso porque há em curso um novo reboot do personagem, envolvendo entre os produtores até o jogador de basquete da NBA LeBron James, que não anda nem desanda faz tempo, bem como uma novo seriado televisivo, que está completamente parado. Dizer que se encontra "em pré-produção" seria até um elogio. Não, está engavetado mesmo.
Talvez os EUA venham enfrentando nas últimas décadas vilões tão aterradores, como os do terrorismo internacional, o Oriente Médio, etc, que Jason tenha virado peixe pequeno em suas intenções culturais ou de entretenimento. Vai saber. O que importa mesmo agora para hollywood são heróis e personagens estereotipados ao extremo.
Já para os fãs originais sempre haverá um lugarzinho especial guardado para esse grande assassino da sétima arte, responsável por muitas mutilações, facadas, flechadas, decapitações, machadadas e o que mais os fãs pudessem imaginar de tenebroso.
P.S: no atual momento puritano em que vivemos no mundo vai ter muito conservador babaca dizendo, após ler este texto, "ainda bem que não fizeram mais nada dele; as famílias de bem agradecem". Honestamente... Acompanhei a franquia durante anos, ainda revejo os filmes quando posso, e nunca me tornei um assassino, uma pessoa do mal. Não acredito que filmes transformem pessoas em seres piores.
P.S 2: eu sempre quis conhecer pessoalmente o ator que interpretou Jason Voorhees no cinema. Mais: queria ver o rosto dele. Sem maquiagem. Eu sei o que vocês vão dizer, mas eu avisei lá no segundo parágrafo que eu era paranoico, não avisei?
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