terça-feira, 12 de maio de 2020

A ignorância venceu o conhecimento


Eu ia abrir esse texto dizendo que o Brasil está uma zona e não é de hoje", mas a frase que melhor explica o país atualmente é "O Brasil continua uma zona e sem o menor sinal de mudança num futuro, num século próximo". E em tempos de Coronavírus, crise na saúde - o que, em se tratando deste país, não passa de um grande clichê - e crise política, o que nos sobrou como legado foi uma única certeza: a ignorância venceu. E de lavada. 

Já faz mais de um ano e meio que escrevi o artigo O analfabetismo nosso de cada dia, que trazia como subtítulo a frase "ignorância: uma paixão nacional" e, honestamente, não somente nada mudou, como pioramos. Ou pior dizendo: involuímos. Não bastasse o deboche declarado ao lema do governo anterior, "a esperança venceu o medo", hoje vivemos uma realidade ainda mais mórbida: a ignorância venceu o conhecimento. 

E com essa frase chego ao patamar de ódio para aqueles que adoram me rechaçar nas redes sociais. E quando digo "aqueles", me refiro única e exclusivamente àqueles que teimam em acreditar que suas visões de mundo deturpadas, ingênuas e falsamente patrióticas são as únicas realmente válidas para o atual momento que estamos vivendo. Sinto muito, mas não são. Nunca foram. 

Ser inteligente no Brasil tornou-se sinônimo de enfrentar tubarões das mais diferentes espécies. Sempre foi difícil ter conhecimento no Brasil. Do que o povo, em sua grande maioria, gosta mesmo é de portar diplomas, exibir um documento que diga que eles estão aptos a exercer uma carreira a qual eles não têm o menor talento e/ou vocação. Digo mais: de tudo o que tenho observado por aqui nos últimos, pelo menos, dez anos, tenho a absoluta certeza de que os diplomas universitários viraram os títulos de nobreza versão século XXI. Eles existem para ser ostentados e nada mais. São diferenciadores sociais e não responsáveis pelo aumento da intelectualidade no país. 

Quer saber mais sobre o assunto? Procure pelo livro Fábrica de diplomas, do escritor Felipe Pena. 

Nunca demos tanta importância a tantos discursos falaciosos (de cunho político, religioso, empresarial, etc) como atualmente. A expressão fake news, mais do que condenar o errado, virou um instrumento da dúvida, pois grande parcela da sociedade - leia-se: os mais ignorantes - passaram a classificar qualquer mínima informação como mentirosa ou, no mínimo, tendenciosa. E com isso lhes pergunto: então, por onde andará a verdade se estamos propensos a demonizá-la 24 horas por dia?

O Ensaio sobre a cegueira saiu das brilhantes páginas do nobel de literatura Jose Saramago e ganhou as ruas tupiniquins, sempre repletas de idiotas. Só que desta vez, idiotas extremamente organizados. E esse sempre foi um problema para o restante da humanidade: os idiotas e imbecis sempre estiveram em maior número nesse país que adora se esconder sob a pecha de "país em desenvolvimento". 

Frases como "onde iremos parar?" e "até quando tudo isso?" perderam completamente a sua razão de ser e existir. Envelheceram. Caducaram. Viraram reles bibelôs na boca dos poucos sobreviventes de uma "nação" (as aspas são propositais) que só pensa em oportunismos, festejos e celebrações. Como se tivéssemos algo realmente válido para ser comemorado. 

Me foge à mente agora o nome do autor que disse certa ocasião, em um de seus romances: "nos bestializamos e estamos orgulhosos disso" (quem souber o nome do escritor, por favor me repasse!). Ele estava coberto de razão. 

Em algum momento da história este país saiu dos trilhos e para lá nunca mais retornou. E não satisfeito com sua própria estupidez, ainda por cima se vangloria de seus próprios atos mórbidos e descerebrados, os canta, declama e aplaude em alto e bom som. Engasgado em minha garganta, aprisiono um grito, um sentimento de "vontade de mandar tudo à merda e pedir a Deus que me leve logo embora, pois aqui não tem mais nada para mim". 

Porém, repito: engasgado.

Pois já dizia o grande Oscar Wilde: "o ser humano só desiste realmente de alguma coisa quando morre". Descobri a duras penas o meu lugar nessa ópera negra em que vivemos. Eu sou aquele que escolheu escrever, questionar, reclamar do que está errado. E que assim seja!

Em Brasília, 19 horas, um congresso cada vez mais faminto por dinheiro (embora o país conviva com uma epidemia) e um genocida disfarçado de presidente. E no resto do país, uma sensação de niilismo, de que tudo acabou. Mas (ainda) não acabou. Ainda bem.

Que venham as cenas dos próximos capítulos...

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