Começo a escrever uma crítica sobre o mais recente filme de Eddie Murphy quando leio nos jornais O estado de São Paulo e Folha de São Paulo que o filme Apocalipse now, de Francis Ford Coppola, completou quatro décadas de existência. Resultado: paro tudo o que estou fazendo até então e coloco o word na tela branca de novo para falar de uma das maiores obras-primas da história de hollywood e do cinema mundial.
Que me perdoe quem não gosta do filme, mas considero o longa-metragem de guerra dirigido pelo mestre que entregou ao cinema a trilogia O poderoso chefão o maior filme de guerra já feito até hoje. Digo mais: Apocalipse now é a guerra nua a crua, sem rodeios, um tapa na cara do espectador. E para vocês terem uma ligeira ideia do meu fanatismo pelo longa o documentário que conta a saga pela qual Coppola passou para realizar este filme - o também extraordinário Apocalipse de um cineasta, dirigido pelo trio Fax Bahr, George Hickenlooper e Eleanor Coppola - é também de uma visceralidade que eu poucas vezes vi no gênero e merece todos os meus elogios ad aeternum.
Apocalipse now é daquelas produções que só acontecem uma a cada década (e isso com muita sorte!) e um projeto que tinha tudo, mas tudo mesmo, para dar errado. A começar pelo ator Martin Sheen que enfartou durante as gravações e as inúmeras exigências envolvendo o ator Marlon Brando, que pediu 3 milhões de dólares por três semanas de trabalho no set (independente de seu trabalho ser usado ou não na montagem ou as filmagens com ele acontecerem de fato ou não). Entretanto, quiseram os deuses do cinema que o projeto fosse finalizado e entrasse para a história, ganhando inclusive a Palma de ouro em Cannes.
O filme narra a missão do Capitão Benjamim L. Willard (Sheen) na guerra do vietnã em 1970, que precisa encontrar - e matar - o Coronel Walter E. Kurtz (Brando), dado como louco por seus superiores e considerado um perigo para o exército norte-americano. Contudo, não se iludam com a simplicidade de meu resumo genérico. Trata-se de uma viagem alucinante que retratará todas as nuances e paranoias da guerra na forma de homens/soldados destruídos seja pelo front, seja por seus líderes hierárquicos.
Há um pouco de tudo na selva vietnamita: oficiais fanáticos por surfe, soldados rasos cujo único sonho é conseguir ver novamente uma mulher bonita em trajes sumários, helicópteros bombardeando cidades ao som de Richard Wagner, e mais, podem ter certeza, muito mais.
Dizem as lendas urbanas que regem o mundo das celebridades e dos tabloides sensacionalistas que foi com este filme que Coppola tomou uma decisão que pontuaria todo o restante de sua carreira: nunca mais se envolver em projetos cinematográficos gigantescos e milionários. E, honestamente, eu o entendo. Fico imaginando Frank quando viu Marlon Brando completamente fora do peso e careca no set de filmagem, logo ele que no passado foi um dos maiores ícones de beleza da história do cinema americano. Ele deve ter pensado na hora: "onde eu fui amarrar o meu burro!". Isso fora problemas com orçamento e prazos a cumprir.
Existem filmes e filmes. Os primeiros são aqueles que à priori muitos não apostam, chegam a debochar deles, jogam na cara do diretor "por que é que você quer perder o seu tempo envolvido nisto?". E quando menos se espera eles entram para a história, ganham Oscar, marcam uma geração, tornam-se cults. Já os segundos são aqueles que por mais que os detratores tentem, nada irá fazê-los deixar de existir, cumprir com o que está estabelecido para acontecer. Eles se tornarão gigantescos por mais que tentem impedí-los. Apocalipse now faz parte dessa segunda categoria.
Em 2001 o diretor lançou uma versão estendida do filme chamada Apocalipse now redux com quase três horas de duração e o público cativo do longa foi à loucura. Foi aqui, neste momento, que começou a minha relação quase doentia de devoção ao projeto.
Coppola fez parte de uma geração (tem gente que chama de Nova Hollywood, tem gente que chama de geração Easy Rider) que revolucionou a forma de se fazer cinema na América. Seus amigos, Steven Spielberg, Martin Scorsese, William Friedkin, Brian de Palma, Peter Bogdanovich e tantos outros, transformaram hollywood de forma definitiva com produções que entraram não só para a história como ditarão conceitos a serem seguidos nas décadas seguintes. Era o que se chamava de cinema de autor. Algo muito diferente do que vemos hoje em dia, num mercado cooptado por estúdios que visam, na maioria das vezes, unicamente o lucro.
Por que estou comentando isto? Porque acredito piamente que uma produção como Apocalipse now só poderia existir numa época como essa, que propiciasse o mínimo de liberdade criativa para seus autores. Do contrário, seria apenas mais um filme comercial que, com muita boa vontade, talvez conseguisse realizar mais duas ou três sequências, transformando-se numa reles franquia. Porém, conheço pessoas que também escrevem sobre cinema que preferem dizer que eu estou falando bobagem. Enfim, cada um segue a filosofia de vida que melhor lhe agrada.
Ver uma obra-prima como essa completar 40 anos e mesmo assim persistir relevante e gerando debates para gerações e mais gerações de cinéfilos é um feito que só me faz amar ainda mais o cinema e deixar claro o quanto eu estava certo quando decidi fazer da sétima arte uma parte da minha vida. Eu não seria ninguém não fossem momentos como esse!
Vida longa à Coppola e seu projeto extraordinário! E que venha o cinquentenário...
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