Andei meio desanimado nessas últimas duas semanas e, nessas horas, os quadrinhos sempre levantam o meu astral, promovem discussões interessantes, mantém meu poder de raciocínio a mil e me tiram do senso comum ordinário que é esse século XXI cada vez mais opressivo e autoritário.
Dito isto, encontro amarfanhado entre meus livros um exemplar de O nome do jogo, graphic novel sublime de Will Eisner (o mesmo de Spirit e Avenida Dropsie, autor por quem sou absolutamente viciado desde que me entendo por gente) e ao terminar de ler a última página das pouco mais de 150 vou ao delírio supremo. O cara não é o mestre da arte sequencial à toa! P.S: dificilmente haverá outro como ele.
O nome do jogo esculhamba com qualquer tentativa possível de chamar o sonho americano de algo louvável - sequer útil - para qualquer ser humano minimamente lúcido.
Acompanhamos aqui uma saga (não, um épico) sobre três famílias em eterno conflito: os Arnheim, os Ober e os Rayn, todos descendentes de judeus. O objetivo deles? A busca por uma vida plena, mas baseada em aparências e na força da instituição familiar. O problema: teoria e prática nunca querem estar no mesmo parâmetro de discussão e o resultado disso são vidas fantasiosas, onde a mentira, a falsidade, o jogo de cena e as inúmeras traições ditam as regras desse jogo sórdido.
Como pano de fundo para enaltecer ainda mais essas tragédias anunciadas, as consequências nefandas de duas guerras mundiais e a queda da bolsa de Nova York em 1929, que levaram essa dinastia infeliz a um loop temporal que dificilmente conseguirá fugir da danação e da hipocrisia.
Ao fim, a sensação que me ficou foi estar diante de um conto de fadas amargo, um jogo de cartas marcadas e previsíveis, onde já sabemos de antemão qual será o resultado final, mas ainda assim queremos testemunhar o caos até fim.
Se faltou algo na obra? O meu nível de exigência costumeiro adoraria ter lido essa obra-prima a cores, mas o preto-e-branco ressalta bastante o clima desalentador da narrativa. Leiam! É magistral.
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