quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Altman, eterno rebelde

 


Existem diretores de cinema que se contentam com a glória oferecida pelo sistema hollywoodiano. Nunca saem da sua zona de conforto, dificilmente proporcionam algo diferente do velho e, às vezes, bom "mais do mesmo" e se refestelam na ideia de ser idolatrados e reconhecidos pela indústria. Definitivamente, esse nunca foi o caso do diretor Robert Altman (que chega ao seu centenário em 2025).

Pense num artista inquieto, rebelde, agressivo, que não levava desaforo pra casa e só filmava aquilo que queria. Foi chamado em alguns momentos pela crítica de cineasta irregular... e porquê? Porque escolheu, ao longo da carreira, não seguir os ditames do mainstream. Para ele, ser original e fiel às suas próprias ideias era o mais importante. 

Altman foi produto de uma época que, infelizmente, não volta mais. Seu cinema começa a despontar num período em que a chamada nova hollywood precisava quebrar com o modelo de cinema americano vigente. E ele também precisava disso para realizar a sua arte. Prova viva disso é M.A.S.H. No fundo, no fundo, a sociedade americana se comportava exatamente como aquele hospital de guerra: eram capazes das maiores loucuras, mesmo que sob uma enorme pressão. 

A partir daí viriam outros clássicos, não menos avassaladores, como Quando os homens eram homens e Nashville. Lembro de quando assisti sua adaptação de Popeye, com Robin Williams na pele do famoso marinheiro brigão, e quase tive uma síncope. Virou um de meus clássicos instantâneos. Além dele (que volta e meia revejo no you tube) também tenho uma tara por Short Cuts - cenas da vida Kansas City. Robert era um mestre na façanha de desconstruir os mais diferentes gêneros, principalmente os clássicos. 

E não somente isso... Seus diálogos eram sobrepostos e cheios de improviso, adorava filmes episódicos, tramas múltiplas, o som era um personagem à parte em suas narrativas, um olhar específico e original para qualquer aspecto do mundo e a capacidade - assim como Woody Allen - de reunir elencos grandiosos, repletos de estrelas.

Muitos fãs dizem que seu último grande longa foi Assassinato em Gosford Park, mas eu ainda fico com Kansas (que é um deleite visual e gênero quase em extinção na atual hollywood). Mas, cá entre nós, isso é o que menos importa. Triste mesmo é saber que Altman nos deixou em 2006 e eu ainda aguardo por um sucessor à sua altura. Seu modelo ímpar de cinema nos deixou órfãos de uma forma melancólica, com aquele sentimento de "faltou alguma coisa, só não sei explicar exatamente o quê".

Enfim, ele era isso e sua obra, também. Que fique em paz no olimpo cinematográfico!

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