Talvez eu tenha vindo ao mundo com este objetivo: o de não entender a sociedade, deixar pra lá, viver a minha vida, ponto. Mas que é, no mínimo, surreal, ah isso é!
Hoje, último dia do festival Lollapalooza, vejo notícias em vários sites se referindo ao festival de lama e desorganização do evento. Importante dizer: de novo. Uma palavra chegou a viralizar em redes sociais e matérias de jornais: Lamapalloza. Será tão difícil tornar o Autódromo de Interlagos, em SP, minimamente apresentável para o público?
Os acusadores com seus dedos nocivos apontarão em minha direção para dizer: "mas em evento com chuva não tem jeito, é assim mesmo, sempre será, pipipipopopo...". E por que realizar um evento dessa magnitude justo nessa época do ano, em que temporais e enchentes são costumeiros e devastadores?
Reafirmo: eu não entendo o que leva uma pessoa em sã consciência a pagar valores absurdos para ser mal tratado dessa forma. A cada dia me dou mais e mais conta de que vivo num país de sadomasoquistas. Nada é pior do que o fanatismo exacerbado. Nenhum artista da cultura pop atual merece de fato tamanho imbecilismo, tamanha falta de amor próprio.
Vi pelo canal Multishow a apresentação dos Titãs (uma banda fetiche minha e da geração a qual pertenci), em êxtase, cantando junto todos aqueles hits - "Polícia", "Televisão", "Go back", "Marvin", "Sonífera ilha", "Flores", etc - e declaro aqui, sem receio: jamais pagaria para estar ali ao vivo, não naquele lugar, não naquelas condições.
Relativizamos - ou será melhor dizer naturalizamos? agora fiquei na dúvida - o absurdo, os preços caros, o desleixo, o tumulto, a falta de compromisso com o que é correto, e passamos a chamar de experiências únicas (e tem até quem chame uma porcaria dessa de imersiva), de viver a vida intensamente, otário é quem não faz parte desse universo.
Há um filme do cineasta Michael Winterbottom cujo título explica bem o que é essa sociedade frequentadora desses festivais alucinógenos e mal organizados: A festa nunca termina. E o que interessa é ela, a festa, o evento, a balbúrdia, o sentimento de falsa rebeldia, de fazer parte de um momento único (que de único não tem nada: artistas que se repetem a cada edição, set lists quase sempre os mesmos, filas astronômicas pra tudo, muito playback, bagunça entra ano, sai ano).
E o que sobra? O delírio coletivo. Agora chega! 2025 tem mais.
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