Quando fiquei sabendo do lançamento de Especulações cinematográficas, segundo livro do cineasta Quentin Tarantino, no Brasil eu sequer tinha lido a sua obra anterior (a versão romanceada de seu último longa, Era uma vez... em Hollywood, que - eu confesso - achei fraco). E ao contrário de seus fãs mais devotos, não saí correndo para comprar, pois estava entretido com uma adaptação em quadrinhos de Drácula, de Bram Stoker.
Passadas algumas semanas - e comentários divididos sobre o livro na internet - me deparo com ele em versão PDF num desses sites de compartilhamento e acabo fazendo o download. Devoro o livro em três dias, uma prosa fácil e rápida, porém... Fiz bem em não comprá-lo. Não só esperava bem mais, como acho que Tarantino fará mau negócio em trocar o cinema pelo mercado editorial.
Especulações cinematográficas mostra um Tarantino fascinado pela década de 1970 do cinema americano. Mas não pelos clássicos que eu amo - Um dia de cão, Rede de intrigas, Serpico, etc - e sim por longas mais cáusticos, ácidos, perturbadores, fora da curva, por vezes depravados, indecentes, até. E sobre eles faz monólogos saudosos e até mesmo inspiradores (principalmente quando lembra das idas ao cinema com a mãe e seus namorados).
Com seu livro, descobri que Quentin prefere Steve McQueen à Paul Newman (meu pai, se lesse, com certeza discordaria!); que acha Dublê de corpo uma ode erótica e vazia; que - como eu - sempre achou Ali MacGraw sem graça em Os implacáveis, de Sam Peckinpah (meio que um diretor-fetiche para ele); que venera o extraordinário Don Siegel, parceiro eterno de Clint Eastwood e diretor dos extraordinários Dirty Harry e Alcatraz - fuga impossível; e, principalmente, que o mórbido e o extravagante, de certa forma o excita. E por isso se tornou diretor de cinema.
A primeira coisa que eu entendi de cara, ao término das mais de 450 páginas, foi o porquê ele precisou dirigir À prova de morte, parte integrante (junto com Planeta terror, de Robert Rodriguez) no projeto Grindhouse. E o quanto os fãs aqui no Brasil não entenderam absolutamente nada da sua proposta! Tarantino é nostalgia pura, na melhor acepção do termo. Fã das músicas da década de 1950, dos faroestes clássicos, de John Flynn e da raiva por vezes contida, por vezes direta, do roteirista Paul Schrader.
No último capítulo ele ainda dá uma colher de chá ao oitentistas para falar de Pague para entrar, reze para sair, de Tobe Hooper (um clássico da minha adolescência) e aproveita, claro, para destrinchar o maior longa do diretor: o irracional, e não menos cult, O massacre da serra elétrica. E eu me senti um pouco carente, pois queria que ele continuasse por ali mais um tempo, mencionando os slashers (Freddy, Jason, Myers), mas - infelizmente - era hora de colocar um ponto final no livro.
Ao fim, o sentimento que me ficou foi meio nostalgia, meio bate-papo entre amigos cinéfilos, com algum palavrão aqui, uma gíria ali, um descompromisso acolá... E não necessariamente isso é positivo como avaliação da obra. Mais: achei o preço do livro, em várias livrarias onde entrei, bem salgado para quem oferece algo tão informal e não tão diferente do que vejo em muitos blogs e sites sobre cinema atualmente. Enfim...
E me peguei pensando se seu último longa, The movie critic, terá essa mesma pegada. Espero sinceramente que não. É a despedida dele, não é? Que o último ato, como costumam dizer os grandes diretores, seja glorioso. Do contrário, de que adiantou acompanhar a carreira dele até aqui?
Em outras palavras: que o livro - e suas limitações - o inspire a voos maiores. Os fãs, que sabem do que ele é capaz (eu já vi em Pulp fiction e Bastardos inglórios), certamente agradecerão...
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