Meu pai dizia sempre quando via seus faroestes em vhs: "Existem artistas e 'artistas'. Não se deixe enganar por qualquer um". Aqueles entre aspas eram sempre os eternos canastrões, os inventados pela mídia sensacionalista, fabricados pela hollywood insossa e de fácil lucro, já talento...
Eu era moleque quando ele disse isso a primeira vez e, lógico, não entendi plenamente o conceito. Era preciso dar tempo ao tempo, encontrar meus próprios ídolos, observar os que fingiam de astros de ação ou galãs (e eu nunca fui muito adepto de ambos). Em outras palavras: só quando eu envelhecesse, quebrasse a cara, perdesse o meu tempo em frente a tela, ia começar enfim a tirar minhas conclusões.
Hoje fiquei sabendo que a atriz francesa Juliette Binoche completou 60 anos de idade e, então, entendi de uma vez por todas o que disse o meu pai. Por quê? Porque ela, definitivamente, é artista com A maiúsculo. E também musa de toda uma geração.
A sensação que eu tenho quando vejo Juliette nas telas é a de que ela trabalhou com todo mundo que realmente significou alguma coisa na sétima arte. Mesmo. De Abbas Kiarostami à Olivier Assayas, de Phillip Kaufman à Anthony Minguella (cujo projeto em parceria, O paciente inglês, lhe deu um Oscar de melhor atriz), de Louis Malle à David Cronenberg... E que cada momento seu em cena foi único e não reproduzível em outras grandes artistas.
Como esquecer da mulher adúltera em Perdas e danos, traindo o noivo com o próprio genro? E da Cathy, amada de Heathcliff em O morro dos ventos uivantes? Dos seus trabalhos mais recentes, gostei muito também da María Segovia em Os 33, sobre o caso real dos operários da mina soterrados no Chile. Enfim... Binoche é um furacão, faz de tudo. Passeia do drama à comédia com uma desenvoltura ímpar. Sorri, chora, foi mãe, filha, mulher à frente do tempo, cientista, sabe lá Deus o quê mais.
Tom Hanks ao entregar à Denzel Washington o seu Cecil B. DeMille Award mencionou a capacidade de certos atores serem reconhecidos por seus sobrenomes (Bogart, Peck, Brando, etc). Eles seriam um clube exclusivo. Para as mulheres, vale a mesma regra. Hepburn, MacLaine, Davis, Garbo... E com certeza há um lugar para Binoche. Que venham os 100, pois você, com certeza, merece!
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