terça-feira, 12 de março de 2024

Aqueles tempos que não voltam mais


Nessa última semana por duas ou três vezes vi textos e comentários na internet a respeito dos 50 anos da sessão da tarde, horário de filmes que por anos marcou época na Rede Globo (hoje, honestamente, não mais). E pensei comigo: por que não lembrar daquele tempo em que a tv aberta ainda valia a pena?

Minha primeira impressão acerca desse horário automaticamente remete, é óbvio, à comédia Curtindo a vida adoidado, de John Hughes. Lembrar das peripécias de Ferris Bueller (Mathew Broderick) fingindo de doente para matar a aula e curtir a cidade junto com os dois amigos, enquanto o diretor da instituição tenta desmascará-lo, é praticamente obrigatório para qualquer pessoa da minha geração (falo do final dos 1980, início dos 1990). 

E eram tempos da chamada geração B.R.A.T (dos filmes feitos para jovens), com Robert Downey Jr. em O rei da paquera, Molly Ringwald em A garota de rosa shocking, os moleques investigando o tesouro do pirata Willie Caolho em Os goonies (não esqueçam: até Thanos fazia parte dessa turma!), a dupla Corey Feldman e Corey Haim em Sem licença para dirigir... E eu, em frente a tv, ávido, querendo entender e fazer parte de tudo aquilo. 

Mas não esqueçamos, como sempre, das grandes franquias. Cocoon trazia o trio de velhinhos sabichões que ficavam mais espertos após se banharem na piscina energizada dos alienígenas; Indiana Jones (Harrison Ford) era o professor, aventureiro e herói que resumia a nossa paixão adolescente em belezas e frenéticas imagens; Christopher Reeve era o Superman, Lou Ferrigno era o Hulk e ninguém falava ainda em Liga da justiça e Os vingadores; haviam vampiros, dinossauros, gnomos, fadas e duendes para dar e vender. 

Aliás, um breve aparte desse cinéfilo angustiado e saudosista: por que o cinema americano não consegue mais produzir longas como Krull, Caravana da coragem, A lenda (um dos primeiros filmes da carreira de Tom Cruise), Willow - na terra da magia, Labirinto, A princesa prometida, O matador de dragões, Conan - o bárbaro e Guerreiros de fogo? Parecia tudo tão simples naqueles anos! 

Rimos com Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito na pele dos irmãos gêmeos mais impossíveis que hollywood já produziu. Rimos com Steve Martin sendo incorporado por Lily Tomlin numa sessão espírita, pagando de pastor charlatão, de investigador particular, pai de primeira viagem e até encalacrado com John Candy numa viagem sem fim. Rimos com o policial Frank Drebin (Leslie Nielsen) fazendo tudo errado em Corra que a polícia vem aí. Rimos com Jim Carrey na pele do Máskara, de Ace Ventura, do Charada, do substituto de Deus. Finalmente: rimos - e muito! - com Eddie Murphy em Um príncipe em Nova York e na pele do detetive Axl Foley de Um tira da pesada.

Em outras palavras: era uma época alegre, divertida (ah! quase me esqueço de Gene Wilder e Richard Pryor).

E, infelizmente, hoje vemos - eu, pelo menos, vejo e até demais - isso tudo ficar no passado com programações semanais que, muitas vezes, beiram o ridículo de tão mal feitas e abaixo da crítica. Confesso que parei de acompanhar as sessões na época em que entupiam o horário com aqueles filmes meia-boca, feitos para a tv americana, com as gêmeas Olsen (eu nunca vi a menor graça nelas!). Às vezes eram 3, 4 por semana. Fora os longas que não passavam de sequências ruins, sem o elenco original, de produções que fizeram sucesso nos cinemas. 

Foi então que eu decidi: "já deu! próximo capítulo". Troquei tudo por dvds, blu-rays e agora o famigerado streaming (que começa a cair na mesma esparrela e crise de criatividade ocorrida aqui). 

Como não sei de que maneira terminar este post que já estendeu mais do que o necessário, pois era para ser uma singela lembrança gostosa, me pego refletindo a respeito do futuro do cinema e, consequentemente, do que chega a posteriori na tv. A sétima arte tem pouco mais de um século de vida e se rendeu a isso, a essa coisa gratuita, por vezes vulgar, que visa unicamente ao lucro rápido e fácil? Meu Deus! E eu que pensava que nós fôssemos mais inventivos...

Breve P.S (ou delírio cinematográfico apenas): como eu AINDA QUERO que a tv seja lugar de bons filmes, à tarde ou no horário nobre, tanto faz. Será que é pedir demais?


Sem comentários:

Enviar um comentário