domingo, 3 de março de 2024

A febre do swing é real, gente!


O sucesso não cai do céu e todo artista que se preze sabe disso como ninguém. Mas refazer a rota é também um gesto de lucidez necessário para quem quer continuar em evidência, relevante e atento ao seu público e às novas gerações que estão chegando. 

Construir uma carreira é difícil? Reinventá-la é ainda mais. Lutar contra a certeza de que aquilo que você sempre fez, que o colocou no olimpo da sua profissão, não está mais funcionando (não daquele jeito) e recomeçar. Às vezes, do zero. Rod Stewart conseguiu, um pouquinho, um tijolo de cada vez. Foi do hitmaker de "Maggie may", "Sailing", "Da ya think i'm sexy?", "Tonight's the night", "Hot legs" e tantos outros sucessos ao regresso às origens da canção americana. E nunca foi tão feliz em suas escolhas! 

Com seu mais novo álbum, Swing fever, atingiu o zênite de sua musicalidade e, principalmente, provou por a mais b ser um notório pesquisador de repertório. O conjunto de canções aqui proposto passearam não somente pelo imaginário norte-americano como também produziram uma espécie de fenda no tempo em minha mente. Coisas que eu sequer imaginava que existiam e fiquei encantado de conhecê-las pela primeira vez (e pela segunda, a terceira, a quarta também...).  

Acompanhado do pianista - e também apresentador - Jools Holland, Rod nos faz cantar junto, fazer coro, sapatear, procurar as letras no google (fiz questão de encontrar as traduções das músicas para entender o significado de cada uma, saber o que elas representam para aquele povo) e tudo num clima altamente dançante, no melhor estilo "arraste o sofá da sala agora e requebre o esqueleto também".

E se você já assistiu aqueles filmes antigos hollywoodianos, com aquelas jazz bands maravilhosas, únicas, e se pegou com os olhos brilhando, querendo fazer parte de tudo aquilo, no meio daquela multidão de ensandecidos, então meu caro leitor, este álbum foi feito sob medida para você. 

Como escolher as melhores canções num monumento à canção como esse? Vocês só podem estar malucos! Enfim... Ouvir (e reouvir) todas as músicas é quase uma obrigatoriedade para o fã de coisa boa, artigo raro hoje em dia. Mas vale a pena uma audição a mais em faixas como "Frankie & Johnny", "Lullaby of Broadway", "Them there eyes", "Oh Marie", a extraordinária "Pennies of heaven" e "Good rockin' tonight" (com um clima que me lembrou dos antigos filmes de rito de passagem dos anos 1970).

Ao fim das quase dez vezes que ouvi o disco (e querendo ouvir de novo), o que mais posso dizer? Esqueçam esses cantores fajutos, que fazem playback o tempo todo, repletos de bailarinos e coreografias indecentes; esqueçam esses falsos rockstars cheios de pose, marra e com pouquíssima ou quase nenhuma voz; e também parem com essa mania de esperar pelo próximo revival de alguma banda ou artista que fez sucesso pelo menos 20 anos atrás. 

O artista está aqui. Se chama Rod Stewart, está lúcido, cantando como nunca, no melhor da sua forma, e deixando claro que quem decide a sua carreira - fazendo o que parece simples, mas de simples não tem nada - é ele, não a sua gravadora ou a mídia especializada. E caso você nunca o tenha ouvido, já passou da hora de dar uma chance, não acha? E aposto que não vai aguentar ficar sentado na cadeira o álbum todo. Eu não aguentei. Entra agora no youtube ou algum serviço de streaming e tira a prova dos nove você mesmo! 


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