Falamos tanto do que está fechando, acabando, falindo no país que esquecemos de homenagear o que permanece de pé, lutando, enfrentando as adversidades, os governos caóticos, custe o que custar. Parece mais legítimo nos últimos anos para a sociedade brasileira se bastar com o que aconteceu com o Teatro Oficina após a morte do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa - ou seja: o arrependimento - do que acreditar na resistência de quem decidiu não abaixar a cabeça.
E o Teatro Rival, que completa 90 anos hoje, é exatamente isso: a decisão de uma família fascinada por cultura em não querer desistir, de jeito nenhum.
O Teatro Rival nasce em 22 de março de 1934, graças à vontade de Vivaldo Leite Barbosa, proprietário também do edifício Rex, ambos nos arredores da Cinelândia. Contudo, ele passou por várias mãos até chegar Américo Leal, um famoso empresário do ramo do teatro de revista em 1970, e adquiri-lo. De lá para cá o espaço ganhou uma cara nova, um foco novo. Ele decidiu resistir, contra tudo e todos.
Totalmente dedicado à cultura musical e às artes cênicas, o teatro iniciou sua jornada com a comédia Amor, estrelada pela grande atriz Dulcina de Moraes, mas foi palco para praticamente tudo o que você puder imaginar. Os maiores nomes da MPB por ali passaram, grandes encenadores teatrais, até mesmo as travestis do lendário Divinas Divas (que chegou a virar documentário pelas mãos de Ângela Leal, neta de Américo), tiveram o seu destaque merecido.
Inclusive, foi a partir da entrada de Leandra assumindo o legado da família, que o teatro assumiu um novo projeto, abraçando de uma vez por todas a trinca música, gastronomia e boemia (do qual os fãs do espaço são devotos até hoje).
Entre os espetáculos que marcaram época, os frequentadores mais antigos gostam de citar Dona Xepa, de Pedro Bloch, mas praticamente a nata da cultura nacional passou por ali: de Grande Otelo à Oscarito, de Dercy Gonçalves à Rogéria... Um lugar que enfrentou ditaduras, diversas obras no centro da cidade (muitas delas polêmicas) e vários planos econômicos fracassados. E ainda assim, com tudo isso, permaneceu vivo e no imaginário de quem o frequentou e ainda frequenta.
Hoje tem festa no Rival, com roda de samba e homenagens à Zeca Pagodinho (que completou 40 anos de carreira esse ano) e à saudosa Beth Carvalho. A noite certamente promete. E que venha, claro, daqui 10 anos, o centenário. O lugar merece!
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