São 40 anos, não 40 horas ou 40 minutos ou mesmo 40 segundos... Há toda uma história por trás desse lugar que não se resume unicamente ao carnaval, à festa de momo. Vai além disso e a própria sociedade brasileira, muitas vezes, não se dá conta.
O Sambódromo completa 40 anos em 2024 e ainda parece que foi ontem. A frase, que é clichê, ainda continua a mais pura verdade. Eu mal tinha 7 anos quando inauguraram. E lembro de ir ver os carros alegóricos na Presidente Vargas no ano seguinte e de me encantar com todo aquele universo, aquelas cores, aquele brilho.
Eu perguntava à minha mãe "pra quê vai servir isso aí?" e ela respondia 20 vezes, sempre respostas diferentes, uma melhor do que a outra. Com o passar dos anos passei acompanhar - de forma quase doentia, de perder a noite mesmo - os desfiles na extinta Rede Manchete, com apresentação de Paulo Stein e comentários de Fernando Pamplona e Haroldo Costa.
Pela tela da tv eu vi o Cristo Mendigo de Joãosinho Trinta na Beija-flor de Nilópolis coberto de perto e depois desmascarado no desfile das campeãs; cantei até me esgoelar com "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós" (da Imperatriz Leopoldinense) e "Paulicéia desvairada" (da Estácio de Sá); vi a Unidos de Vila Isabel fazer seu desabafo étnico com "Kizomba, festa da raça"; chorei com o carro dos lobos da Unidos de Viradouro pegando fogo e a agremiação perdendo 13 pontos; fiquei fascinado com as comissões de frente ousadas e também com o carro do DNA da Unidos da Tijuca, façanha de Paulo Barros; deslumbrei-me com a Estação primeira de Mangueira, no supercampeonato, retornando pela pista, no sentido inverso, em direção à concentração, ao fim do desfile para delírio da plateia...
Teve tempestade em "O mundo é uma bola", em 1986 (e mesmo assim a beija-flor foi vice), teve carro alegórico atropelando foliões e arremetendo contra a arquibancada, teve drone do Alladin voando por cima do público, teve - e isso é imprescindível - vozes seminais que definem por si só essa ópera popular: Carlinhos de Pilares, Jamelão, Dominguinhos do Estácio, Rico Medeiros, Quinho, Paulinho Mocidade, Haroldo Melodia, Rixa, Gera...
E isso tudo porque eu ainda não lembrei (por alto) do espetáculo à parte das baterias e suas rainhas e musas. A paradinha funk do mestre Ciça na Viradouro, a furiosa do Salgueiro, o legado de Mestre André, as beldades Luma de Oliveira (com a coleira do Eike), Luiza Brunet, Viviane Araújo, Quitéria Chagas... A lista é imensa.
Entre o canto uníssono de toda a passarela durante o refrão Explode coração, na maior felicidade... do enredo "Peguei um ita no norte", da Acadêmicos do Salgueiro à exaltação do Orixá Exu, no primeiro título da Grande Rio no carnaval carioca, sorrimos, choramos, torcemos, fizemos figa, imploramos pra chuva parar, para o carro alegórico grande além da conta conseguir entrar na avenida, para o tempo não estourar, para a harmonia não deixar furo e o samba não atravessar.
E quer saber? Que venham os próximos 40, 80, 120, 200 anos... Que os passistas sambem, que as mulatas seduzam, que os intérpretes (ou puxadores, tem pra todos os gostos) se esbaldem, que os carnavalescos criem essa festa que é, em grande parte do tempo, um resumo do que de melhor acontece na cidade do Rio de Janeiro. E mesmo assim tem gente que não entende, que faz vista grossa, que finge que não é bem assim... Parabéns, Sapucaí!
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