Começa fevereiro e com ele a angústia que antecipa o carnaval carioca. Os últimos preparativos para que a Marquês de Sapucaí receba as agremiações com todo o garbo que elas merecem, os primeiros blocos fazendo o esquenta, os ensaios técnicos para tirar as últimas dúvidas antes do grande desfile, as pessoas programando suas respectivas viagens com antecedência... Calma, gente! Está quase. É semana que vem.
Entretanto, há uma figura em particular que sempre me intriga nessa época do ano. São as rainhas de bateria das escolas de samba. É simplesmente impressionante o que essas mulheres fazem com os seus próprios corpos em plena avenida. Mas é preciso ressaltar: nos últimos anos eu vinha um tanto decepcionado com as rainhas e musas, achando-as mais beleza do que samba no pé (para mim, fator imprescindível para assumir tal posto, tão cobiçado a cada ano que passa).
É exuberante ver mulheres como Paolla Oliveira, Viviane Araújo, Sabrina Sato e tantas outras beldades à frente de suas baterias, mas... é magnífico ver uma rainha na excelência do seu ofício, em total sintonia com os ritmistas de sua escola. E é nesse momento que entra em jogo a personagem desse post: falo de Mayara Lima, rainha de bateria da escola de samba Paraíso do Tuiuti.
Ela não é uma atriz ou cantora famosa, uma celebridade internacional de hollywood, muito menos uma youtuber badalada. Contudo, guarda todas elas no bolso com uma facilidade assustadora. Nestas últimas semanas andei conferindo uns shots do you tube (aqueles vídeos curtos, de poucos segundos) de Mayara em plena ação em ensaios de rua da escola ou de apresentações na cidade do samba ou no próprio sambódromo. Em uma palavra? Surreal! Vejam vocês mesmo e me digam depois o que acham.
Como explicar o segredo de Mayara, logo eu que nem me arrisco a sambar? Sua sintonia com os integrantes da bateria, seu ritmo pessoal, seu carisma, enquanto os homens a olham, em êxtase. Mayara Lima é não só a melhor rainha de bateria do carnaval carioca como a cara da festa de momo, uma festa cada vez mais elitizada e que precisa urgentemente de mais figuras como ela, completamente devotada à folia.
A moça de apenas 25 anos, professora de dança e cria da comunidade do Tuiuti, em São Cristóvão, é a prova viva do elo cultural que existe desde priscas eras entre o samba e as favelas, um elo que os governantes insistem em romper sempre que podem para beneficiar uma classe elitista que, na hora H, não está nem aí para a festa, só quer saber de sua própria vaidade e privilégios. Logo, a jovem Mayara é o resquício do que (ainda) pode ser o carnaval e a cultura popular desse país se os gananciosos de plantão não estragarem tudo - de novo.
A Paraíso do Tuiuti desfila segunda, 12 de fevereiro. É a penúltima a atravessar a avenida e desde já aguardo a apresentação de Mayara, que é um capítulo à parte dentro da própria agremiação. Que ela mais uma vez mostre o que o samba tem de melhor, principalmente para aqueles que não cansam de vê-lo como mero negócio ou produto. E que venha o carnaval, porque o povo não aguenta mais de tanta ansiedade!
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