"Bete Balanço, aquela da música, do filme, interpretada pela Débora Bloch, fez 40 anos e ninguém me avisou? Mas olha... Nem parece viu! Tá enxuta ela ainda. Quem diria!". Foi assim que eu reagi quando soube da notícia das quatro décadas de, provavelmente, a mulher mais famosa do rock n' roll brasileiro.
A mulher que sobreviveu ao paraíso perigoso que a própria palma da mão dela mostrou está mais íntegra e atual do que nunca. Na verdade, não consigo imaginá-la como alguém ou algo esquecido, largado no fundo de algum armário ou perdida no túnel do tempo. Bete é uma provocadora raiz, numa época em que a palavra sequer tinha essa conotação que tem hoje!
Muito mais do que mero tema de uma trilha sonora para o cinema, ela se tornou no período, referência de um tipo de mulher. Vejo-a como uma pós-Leila Diniz, desbocada, sem medo da nada nem de ninguém, dona do próprio destino, mesmo quando o futuro parecia duvidoso.
Bete está além de etnias, sexualidades, corpos padrão; ela sequer foi - no meu entender, pelo menos - mulher pra casar, ser mãe, ter filhos. Ela é libertina ou avant garde demais para isso (e eu sei que vai ter gente que dirá, só pra irritar, "a Rita Lee também era e casou, teve filhos").
E por isso Bete era uma personagem ficcional. Fez parte de um momento cinematográfico aqui no Brasil lá pelos anos 1980 que acabou meio que conhecido como cine rock, junto com longas como Rock estrela, Areias escaldantes, Rádio Pirata, Tropclip... Por sinal, fica a dica aqui para quem não conhece esse período do nosso audiovisual.
Antes que as morenas e as loiras do tchan rebolassem na boquinha da garrafa, antes que as passistas requebrassem as canjicas na inauguração do sambódromo, antes que Fausto Fawcett apresentasse na tv as suas loiras fatais, Marinara e Regininha Poltergheist, Bete já balançava - e encantava - o país com seu charme e irreverência indescritível.
Tenho, inclusive, um colega que defende a ideia de que ela foi o melhor alter ego que o cantor e compositor Cazuza poderia ter criado. Ela transitava em ambos os mundos - masculino e feminino - com a mesma naturalidade. E por isso hipnotizava os dois como ninguém.
Mas se você, que não é dessa geração, não ouviu a música não adianta de nada eu ficar aqui explicando isso tudo. Pare agora de ler este post e vá ao youtube ou ao spotify conhecer essa jóia quarentona (na verdade, prefira a versão videoclipe). Aposto como vai conseguir entender, nem que seja um pouquinho, o que foi aquela década louca e que - infelizmente - não volta mais.
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