É fácil entender porque o público "sou fanático por cultura pop e a sua opinião sobre esse assunto não me interessa" adorou Nerd, livro de memórias escrito por Érico Borgo, um dos criadores do site Omelete e da CCXP, maior convenção do setor realizada na América Latina. E seguindo a máxima que o próprio autor consagrou na frase "sou fã, quero service", ele entrega todas as expectativas possíveis e imagináveis para um público que nunca vive além delas.
Desde já adianto: não demonizo o livro nem tento desqualificá-lo. Ele é entretenimento certo para quem busca exatamente por isso. Meu único questionamento (e não se trata da obra em questão) é: esse mesmo público-alvo precisa enxergar a literatura e o mercado editorial, de vez em quando, além de seus umbigos e vaidades.
Borgo tem uma formação cultural extremamente parecida com a minha. Somos contemporâneos de geração e é fácil me identificar em muitas das suas histórias e referências. O que nos difere, em alguns momentos, é apenas uma adoração mais acentuada aqui ou ali por certo livro, filme ou personagem. E não vejo mal algum nisso.
Ele fala de assuntos pessoais, do fim do casamento dos pais (que mexeu bastante com ele), da época em que sofria bullying no colégio, dos interesses românticos que nunca se concretizavam, mas o mais importante: dá destaque a seu lado empreendedor. No fundo, no fundo, ele sempre quis mesmo foi criar seu próprio universo. E nisso tem meu profundo respeito.
Seu lado colecionador (e quando mencionou as HQs na mesma hora passou um filme pela minha cabeça e também minha mãe reclamando: "qualquer hora dessas você não vai mais conseguir dormir no seu próprio quarto de tanto bagulho acumulado aqui dentro!"), o fascínio pelos jedis - e, claro, por todo universo criado por George Lucas -, as memórias afetivas do cinema americano dos anos 1980, os videocassetes, videogames e computadores...
Em suma: a sensação, a cada página, de adentrar uma fenda no tempo, capaz de me levar a lugares inimagináveis, está presente de forma nostálgica em grande parte do livro. Na verdade, na melhor parte do livro. Num segundo momento Érico passa dos sonhos à realidade e, por conseguinte, o trabalho duro. Criar o Omelete e, posteriormente, a CCXP foi algo tão gigantesco (e barra pesada) quanto os 12 trabalhos de Hércules. E certamente os fanáticos por grandes eventos devem ter adorado essa parte.
Um trabalho que não somente trouxe frutos como também abriu as portas para um mercado até então pouco vislumbrado por muitos empresários que se diziam "de visão" em nossas terras. Sim, você pode até discordar dele, não compartilhar de suas ideias, mas que seu feito aqui no Brasil é grandioso, não há dúvidas.
No final, de chato mesmo, fiquei pensando ao fim da leitura: apenas a intolerância de muitos fãs desse segmento que precisam aprender - e urgentemente - a ouvir críticas e opiniões diferentes das suas. Até quando fui comprar o livro encontrei um babaca de grife que me conhece (e sabe que eu não sou um nerd raiz) me questionando, dizendo que eu não deveria lê-lo, pois não faço parte do clã de seguidores. Parecia até um fanático dessas seitas religiosas.
Só faltou ele dizer que aquele não era o meu lugar de fala... Resultado: deixei-o sozinho, no meio da loja, pagando de maluco. Não faça como esse rapaz (que não merece sequer que eu diga o nome dele aqui). Leia Nerd. Ele é praticamente um guia básico dos diferentes. E vale a pena ser diferente às vezes. Leia outras coisas também. Coisas fora do mundo nerd. Sua vida agradecerá. O mundo também agradecerá, pois de pessoas insuportáveis e intransigentes ele anda cheio. Até demais.
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