Meu pai - que Deus o tenha em bom lugar no céu - vivia dizendo e se estivesse vivo no Brasil de hoje diria ainda mais: "o problema do brasileiro é a inveja. Inveja é uma merda, meu filho!". E mais uma vez (a milionésima) o país provou que é refém dela.
Flávio José, um dos maiores expoentes da música nordestina em atividade, é ridicularizado naquele que é chamado de "o maior São João do mundo", que acontece todos os anos em Campina Grande, na Paraíba. Vê seu show ser diminuído em meia hora para atender aos caprichos do sertanejo Gusttavo Lima, um dos baluartes dessa onda infame financiada pelo agronegócio. Não é de hoje que eles tratam o forró como qualquer coisa ou algo indigno. E não somente ele.
Lembro-me com exatidão de outro sertanejo, César Menotti, em uma entrevista na tv chamando samba de "música de bandido". Em outras palavras: o recalque ecoa há tempos no mundo dessas pessoas que nada mais são do que ganhadores de dinheiro e prepotentes por natureza.
Para os defensores de Gustavo, César e companhia, Flávio José não passa de um reles sanfoneiro. Mal sabem eles! Sequer entendem de cultura nacional ou qualquer outro assunto. Só lhes interessa a fama, os jabás nas rádios e a tentativa de fazer da indústria fonográfica brasileira um feudo exclusivo para que possam brilhar, sem concorrência.
Adorei a entrevista que vi com Elba Ramalho no twitter. Ela diz abertamente que todos têm direito ao seu espaço. Pena que nem todos entendam isso. Diz mais: que nunca foi - nem ela, nem Dominguinhos - à festa de Barretos. E ainda querem dominar todo o cenário musical. Vou além: se fizessem 10% do que fizeram com Flávio José em Barretos certamente o meliante seria excomungado do recinto.
Pois é... Assim tratam (de novo) o nordeste. Assim tratam (mais uma vez) a cultura regional. Continuam vendo a região pela ótica da ignorância e da pobreza. Agora perguntem aos mesmos que acusam, rotulam, difamam, por vezes xingam, se conhecem Graciliano Ramos, Ariano Suassuna, Luiz Gonzaga, o Movimento armorial, a literatura de cordel, se já pisaram uma vez que fosse no Centro das tradições nordestinas, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, para entender minimamente a força desse povo que não desiste nunca.
Esse povo que um dia Guimarães Rosa falou que era, antes de tudo, um bravo.
Por um país sem tanta covardia, com mais respeito (não só a opinião, como também ao gosto alheio), onde possamos nos expressar conforme nossas crenças e não pela vontade de uma minoria - sim, eles nunca foram mais do que isso! - e que figuras como mestre Flávio José resistam. Arte é resistir. Sempre. O país nunca precisou tanto de pessoas como ele.
P.S: quanto ao rótulo de "o maior São João do mundo", talvez seja hora da população rever certos conceitos. Nem sempre a festa merece o nosso aplauso. Às vezes, o que ela quer é nos tratar como idiotas e nada mais.
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