Lembro de quando escrevi o obituário do Stan Lee aqui no blog em 2018. Na mesma hora veio à minha mente o seguinte pensamento: "minha relação com os quadrinhos, a nona arte de um forma geral, nunca mais será a mesma". E não foi. Fato. Contudo, estava acometido de forte emoção naquele dia, pois muitos outros artistas grandiosos povoaram a minha cabeça de igual maneira por décadas. E hoje, para minha infelicidade, mais uma vez tenho o mesmo sentimento.
Em outras palavras: a nona arte e os fãs de quadrinhos se despedem a contragosto do (também) mestre John Romita, que nos deixou aos 93 anos.
Como explicar John Romita em poucas palavras para quem não conheceu sua arte? Impossível. Ele foi um artista que nunca se bastou por si mesmo. O Brooklyn, onde nasceu, não foi suficiente para ele. Queria mais. A School of Art & Design, em Manhattan, onde se formou, também não. Os oito anos que passou na DC Comics no início da carreira muito menos. Ele sentia, no fundo no fundo, que algo maior estava próximo.
E estava certo. Absolutamente certo. Faltava a parceria com Stan Lee para revolucionar aquele que virou (e ainda é) o meu super-herói preferido até hoje: o homem-aranha.
Eu já disse isso anos atrás em outro texto e repito: em meu íntimo, sempre fui um Peter Parker antes de ser picado pela aranha radioativa. Era o tímido, que ficava na minha, pouco falava no meio social e quando falava era somente sobre o que me interessava de fato, interesses românticos completamente frustrados até conhecer alguém que me olhou diferente... Só faltava escalar as paredes.
E o principal legado de Romita para o herói, na minha visão, passa antes de qualquer coisa pela humanização de Parker, apresentar seus dilemas, suas decisões dúbias, sua dificuldade em se envolver com mulheres, sua vida dupla entre a faculdade e combater o crime nas ruas... E nisso ele foi primordial, praticamente cirúrgico. Criou um estilo, uma maneira de pensar únicas.
E por mais que eu sabia que sem ele não haveriam também figuras icônicas das HQs como Wolverine, o Justiceiro, Rei do crime - algoz do Demolidor -, Luke Cage e, principalmente, Mary Jane Watson (Precisa explicar quem é? Sério?), eu não consigo desvinculá-lo do papel de reinventor do aracnídeo mais famoso dos quadrinhos. Sou de opinião que o homem-aranha tem três criadores: Stan Lee, Steve Ditko e, claro, John Romita. E nem pensem em discutir comigo, caros leitores!
E agora, enquanto assimilo o golpe da perda irreparável e encontro meus gibis antigos no armário para reler - claro, vocês acham que eu vou deixar passar uma oportunidade dessas? -, pergunto-me o que sobra de lúcido nesse universo. Sim, a pancada foi grande. De novo. E os leitores de longa data, nostálgicos, vão sentir por um bom tempo. Às novas gerações? Pelo amor de Deus, conheçam o trabalho dele. Agora!
Só faltou dizer (com eu sempre digo quando me emociono ao escrever estes textos de despedida): fica com Deus, mestre! Você merece!
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