terça-feira, 5 de agosto de 2025

O camaleão da MPB


O cantor Ney Matogrosso completou 84 anos de idade mais influente e na crista da onda do que nunca. Virou tema do filme Homem com H, de Esmir Filho e será enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense em 2026. Porém, mais do que isso, permanece referência quando o quesito em questão é liberdade. Manter-se atual, relevante e sem se repetir numa era onde a própria classe artística prefere, muitas vezes, ser a cópia da cópia, é para poucos. E eu sempre quis ler mais sobre ele, sobre sua vida, suas escolhas, a trajetória até que chegasse aonde ele chegou.

Resultado: fui ler Ney Matogrosso: vira-lata de raça, livro de memórias produzido a quatro mãos, junto com o escritor Ramon Nunes Mello (que, desde já, adianto: pretendo procurar mais obras dele, que é um pesquisador nato).

Da infância nostálgica (com um pai pra lá de difícil, um militar velha guarda) aos palcos, desenhos, vestimentas, luzes, paetês... O homem que cantou "o vira", "sangue latino", "rosa de hiroxima", "bandido corazón" e tantos outros hits, também já quebrou muita pedra, sobreviveu de artesanato vendido nas ruas, trabalhou em hospital e se utilizou da estrutura militar oferecida pela Aeronáutica para sair de sua cidade e recomeçar do zero.

Assim como a canção homônima de Rita e Beto Lee, que dá título ao livro, Ney foi realmente "uma criança problema no meio de um dilema". E superou tudo isso com garbo, foi além, muito além na verdade, de suas próprias expectativas. E a consequência disso para nós, fãs extasiados, foi a presença desse camaleão da MPB nos palcos, nos clipes, nas entrevistas, etc.

Lembro de Ney Matogrosso cantando "América do sul" e exaltando sua defesa em nome dos latino-americanos, um postura totalmente de confronto a muitos vira-latas e baba-ovos do made in USA que adoram dar pinta de moralistas por aqui. Foi um deslumbre em todos os sentidos. A postura corporal, a voz, a afronta, o significado de tudo aquilo, e mais do que isso: um sentimento de "se ele pode escancarar, encarar o leão de frente, eu também posso e vou". Virei fã pra vida (e deixo aqui meu muito obrigado ao cantor pela influência).

Ao fim da leitura fico sabendo da existência da biografia, escrita por Júlio Maria. Já estou no encalço, é claro! E para não perder a viagem também recomendo os longas-metragens no qual trabalhou como ator (sim, meus amigos leitores desse blog, ele também atuou em outros palcos, e com primazia!). Procurem no IMDb a lista com seus créditos cinematográficos. Vale - e muito - a pena.

Faltou falar alguma coisa? Sobre o Ney? Lógico! Ele é uma enciclopédia viva da transgressão. Uma tese de mestrado talvez não explique sua persona. Então vê se toma vergonha na cara e procura esse livro aqui sobre ele o quanto antes, pelo amor de Deus... 

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