sexta-feira, 7 de março de 2025

40 anos do começo de um sonho rebelde


Fazia mais de três anos que eu não ouvia o álbum de estreia da banda de rock Legião Urbana - que comemora 40 anos de lançamento em 2025 - e, mesmo assim, depois de ouví-lo novamente (umas duas vezes), o sentimento permanece o mesmo: algo entre o delírio e a rebeldia.

Legião foi dos primeiros artistas que comecei a ouvir por conta própria, quando passei a ter ciência de minhas escolhas e não simplesmente ouvir junto com o restante da família o que tocava nas rádios, nos toca-discos e tape recorders. A primeira vez que entrei na loja Modern Sound, em Copacabana, foi à procura de um álbum do grupo. E isso sempre me soou bastante sintomático. 

Mas o que teve de tão avassalador, se olharmos faixa a faixa, nesse álbum que poderia ser tudo ou nada na vida daquele (então) quarteto brasiliense? A certeza de me sentir representado nas letras e de ouvir uma sonoridade diferente de tudo que eu ouvira em termos de música até então. E não foi à toa que Renato Russo, líder do grupo, tornou-se uma espécie de guru da minha geração. 

Normalmente divido este álbum em três segmentos: primeiro, o das canções mais famosas, que ganharam notoriedade, e hoje fazem parte de qualquer playlist que se preze da legião (da qual fazem parte "Será", "Ainda é cedo" e "Geração Coca-Cola"); segundo, o de canções menos conhecidas que - para mim - se tornaram meio que a cara e a personalidade da banda ao longo da carreira (e aqui cabem "Baader-Meinhof blues" e "O reggae"); e, finalmente, músicas que eu costumo eleger como as minhas B-Sides pessoais, embora muitos outros fãs as considerem como hits de longa data (casos de "Teorema" e "Por enquanto", que acabou sendo redescoberta no Acústico MTV pela voz de Cássia Eller).

Quanto as temáticas presentes no álbum, aqui se vê o começo da revolução proposta por Renato e que ganharia ainda mais força nos álbum seguintes, principalmente Dois e As quatro estações

Reacionarismo diante do sistema; o machismo e o sucessivo desrespeito às mulheres; a infantilidade de quem se acha à frente do seu tempo, mas não passa de uma cópia xerográfica das gerações passadas; o sentimento de niilismo diante de um futuro que parece cada vez mais opaco, sem perspectivas; enfrentar o hoje depois de duas décadas de repressão e uma sociedade de controle; a indefinição sobre quem está certo ou errado, quem é o herói e quem é o vilão; uma série de imperativos ("não esqueça isso", "não vá por ali", etc) que, no fundo, só delimitam uma jornada que é complexa por natureza...

Tudo está lá, o embrião desse sonho rebelde que vinha para ficar. E ficou. Está aqui comigo, agora.

E vê-los se apresentar em shows, dar entrevistas, parecia ainda mais inebriante. Depois do lançamento de Legião Urbana (1985), eu quis saber tudo sobre eles, ler tudo sobre eles, mais: eu queria ser um deles. E por causa disso continuo ouvindo tudo, como se fosse a primeira vez. Putz! Quatro décadas, já! E eles continuam tão vivos e necessários nesse momento que o país atravessa. 

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