sexta-feira, 21 de março de 2025

O mundo segundo Arnaldo Antunes


É sempre um prazer inenarrável ouvir um novo trabalho do cantor, poeta e compositor Arnaldo Antunes. Desde os tempos em que fazia parte da banda de rock Titãs. Sua língua afiada e suas letras cheias de denúncias ácidas e uma ironia típica de quem conhece bem o país no qual vive são suas marcas registradas. Sempre saio transformado toda vez que ouço um novo álbum ou leio um novo livro de poemas dele. É, com folga, um de nossos maiores pensadores atualmente.

Com Novo mundo, seu mais recente trabalho lançado ontem, ele mais uma vez escancara as mazelas, prepotências e desleixos desse mundo fragmentado no qual vivemos, com uma sociedade cada vez mais intolerante e oportunista. 

Muitos colegas já me perguntaram como Arnaldo consegue se manter na ativa, compondo e produzindo temáticas que vão contra grande parte do status quo atual. E eu sempre respondo: "Ele precisa ser um outsider em tempo integral para conseguir realizar o seu trabalho; do contrário...". 

Há duas parcerias aqui com outro esplêndido visionário, o cantor David Byrne, líder da banda Talking Heads. São elas "Body corpo" e "Não dá pra ficar parado aí na porta". Além disso, é possível também apreciar outras canções a quatro mãos muito bem-vindas, como por exemplo, "Sou só" (ao lado de sua parceria de Os Tribalistas, Marisa Monte) e "Viu, mãe?" (onde divide os créditos com o falecido Erasmo Carlos, eterno Tremendão da Jovem Guarda).

À parte essas colaborações mais famosas, vale a pena uma conferida em "Pra não falar mal" (no qual ele divide os vocais com a cantora Ana frango elétrico), "O amor é a droga mais forte" e, claro, a faixa título, que é uma pedrada e expõe a nu o grande caos no qual estamos vivendo nos últimos anos. 

Detalhe imprescindível que os ouvintes não podem deixar passar despercebido: o quesito sonoridade merece um capítulo especial nesse álbum extremamente bem construído. Nos últimos anos raras vezes vi uma combinação de instrumentos tão bem feita a serviço de um trabalho musical. Se Novo mundo fosse um disco instrumental ainda assim ganharia todos os meus elogios. E acreditem: são poucos os que conseguem essa façanha na MPB atual. 

No mais, prefiro encerrar por aqui e deixá-los procurar o disco nas plataformas de streaming. Aposto que mudará a sua perspectiva para esse final de semana...

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