Falamos mal do jornalismo o tempo todo e, muitas vezes, por culpa do próprio jornalismo que está mais interessado em ser uma representação do poder do que fazer de fato o seu trabalho, que é reportar, denunciar, avisar o público das mazelas que o rodeia, etc. Entretanto, quando alguém dessa área exerce o seu ofício de forma digna, é impossível não homenageá-lo(a).
Pois bem: ontem o jornalismo brasileiro perdeu uma dessas pessoas. Uma mulher que foi à luta, não se abateu diante de suas próprias limitações, mostrou tudo o que estava errado, expôs erros da nossa administração pública aos montes e ajudou - sim, ajudou - muita gente na cidade do Rio de Janeiro.
Seu nome: Susana Naspolini.
Eu acompanhei seu trabalho no jornal RJTV (ela fazia o quadro RJ móvel) todo santo dia. Vi ela rir, chorar, comer, beber, andar de skate, de carrinho de rolimã, de caiaque, subir em árvore, pular muro, comprar briga de morador do cu do Judas, cobrar de prefeito e governador na cara dura e levar seus calendários para marcar na frente da equipe ao vivo. E ainda dizer: "e eu voltar a reclamar se não estiver pronto".
E ainda assim não conheço uma pessoa no RJ que não gostasse dela!
Susana era o retrato vivo do que eu considero o verdadeiro repórter. Aquela pessoa que não esperava ninguém mandar. Ela ia atrás, procurava, fuçava até onde não podia e ai de quem dissesse "aí não". Com ela, o buraco era sempre mais embaixo.
E ela fez da vida dura dos cidadãos menos favorecidos do Estado da Guanabara a sua missão de vida. Às vezes o lugar era tão detonado, mas tão detonado, que você pensava na hora: "dessa vez não vai ter jeito". Mas ela, inacreditavelmente, dava um jeito. Não sei como, mas dava. Nem que fosse na marra. E nesses momentos eu chorava, porque pensava comigo: nesse país eu ainda acredito.
Perdemos Susana, infelizmente, para o câncer, doença com a qual vinha lutando desde os 18 anos. E até nessa hora ela mostrou sua garra. Disse ao jornal que ia continuar com seu quadro ao preço que fosse. E foi, até onde deu. Quando soube de sua última internação fiquei muito triste. Quando li o depoimento de sua filha adolescente, mais ainda. Ela era energia pura, num nível que não dá sequer para explicar.
Nos deixou como legado, além de dois livros publicados (um deles escrito durante a pandemia), uma história de vida ímpar, de quem batalha, batalha, batalha, e cai de pé. E ainda ri da cara do adversário. O jornalismo certamente tem muito a aprender com ela e ficou mais pobre hoje. Paupérrimo. Precisamos de mais Susanas e menos fake news e profissionais presepeiros que adoram se esconder atrás do sensacionalismo.
Não foi só a Júlia, a filhota dela, que ficou órfã ontem. Foi quem espera por uma imprensa séria, que não se rende ao ridículo nem ao tendencioso. Eu daria tudo para conhecer Susana Naspolini ao vivo, mas não foi possível. A vida não quis. E aonde quer que ela esteja, espero que saiba que a sua história jamais vai ser esquecida. Por quem é fã de comunicação de verdade, não mesmo.
Fica com Deus, moça!
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