quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Repórter era isso!


Falamos mal do jornalismo o tempo todo e, muitas vezes, por culpa do próprio jornalismo que está mais interessado em ser uma representação do poder do que fazer de fato o seu trabalho, que é reportar, denunciar, avisar o público das mazelas que o rodeia, etc. Entretanto, quando alguém dessa área exerce o seu ofício de forma digna, é impossível não homenageá-lo(a).

Pois bem: ontem o jornalismo brasileiro perdeu uma dessas pessoas. Uma mulher que foi à luta, não se abateu diante de suas próprias limitações, mostrou tudo o que estava errado, expôs erros da nossa administração pública aos montes e ajudou - sim, ajudou - muita gente na cidade do Rio de Janeiro.

Seu nome: Susana Naspolini. 

Eu acompanhei seu trabalho no jornal RJTV (ela fazia o quadro RJ móvel) todo santo dia. Vi ela rir, chorar, comer, beber, andar de skate, de carrinho de rolimã, de caiaque, subir em árvore, pular muro, comprar briga de morador do cu do Judas, cobrar de prefeito e governador na cara dura e levar seus calendários para marcar na frente da equipe ao vivo. E ainda dizer: "e eu voltar a reclamar se não estiver pronto". 

E ainda assim não conheço uma pessoa no RJ que não gostasse dela! 

Susana era o retrato vivo do que eu considero o verdadeiro repórter. Aquela pessoa que não esperava ninguém mandar. Ela ia atrás, procurava, fuçava até onde não podia e ai de quem dissesse "aí não". Com ela, o buraco era sempre mais embaixo. 

E ela fez da vida dura dos cidadãos menos favorecidos do Estado da Guanabara a sua missão de vida. Às vezes o lugar era tão detonado, mas tão detonado, que você pensava na hora: "dessa vez não vai ter jeito". Mas ela, inacreditavelmente, dava um jeito. Não sei como, mas dava. Nem que fosse na marra. E nesses momentos eu chorava, porque pensava comigo: nesse país eu ainda acredito.

Perdemos Susana, infelizmente, para o câncer, doença com a qual vinha lutando desde os 18 anos. E até nessa hora ela mostrou sua garra. Disse ao jornal que ia continuar com seu quadro ao preço que fosse. E foi, até onde deu. Quando soube de sua última internação fiquei muito triste. Quando li o depoimento de sua filha adolescente, mais ainda. Ela era energia pura, num nível que não dá sequer para explicar. 

Nos deixou como legado, além de dois livros publicados (um deles escrito durante a pandemia), uma história de vida ímpar, de quem batalha, batalha, batalha, e cai de pé. E ainda ri da cara do adversário. O jornalismo certamente tem muito a aprender com ela e ficou mais pobre hoje. Paupérrimo. Precisamos de mais Susanas e menos fake news e profissionais presepeiros que adoram se esconder atrás do sensacionalismo.

Não foi só a Júlia, a filhota dela, que ficou órfã ontem. Foi quem espera por uma imprensa séria, que não se rende ao ridículo nem ao tendencioso. Eu daria tudo para conhecer Susana Naspolini ao vivo, mas não foi possível. A vida não quis. E aonde quer que ela esteja, espero que saiba que a sua história jamais vai ser esquecida. Por quem é fã de comunicação de verdade, não mesmo. 

Fica com Deus, moça!  


sábado, 22 de outubro de 2022

Erótico, confessional e sem rodeios


Eu me pergunto de forma concomitante se o mundo ainda sabe o que significa erotismo. E digo isso porque nas últimas décadas tudo parece tão escrachado, vulgar, à flor da pele e exibido que fica realmente difícil responder a essa pergunta. O debochado perdeu espaço em meio aos conservadores babacas e religiosos cretinos ao extremo. Da cinta-liga à frase de duplo sentido, nada passa longe do radar de quem vê escândalo em qualquer coisa. Sobra o quê então, no final das contas? Aqueles artistas que nunca deixarão de peitar o sistema e os falsos moralistas. Como, por exemplo, a cantora Madonna.

Recentemente andaram acusando-a de Queerbaiting. Pobres coitados! Sempre quiseram classificá-la dentro de um padrão, de uma norma, e nunca conseguiram. Agora, insatisfeitos, tentam silenciá-la. Em vão, é bom que se diga! E pior: se esqueceram do que ela fez com Erótica

O álbum mais polêmico da diva pop completou na última quinta-feira três décadas de existência e ainda consegue não só permanecer relevante como também manter os fãs na pista de dança, em êxtase. Acham pouco? Então ouçam-no novamente. E, se puder, novamente e novamente. Ficarão deslumbrados com a atualidade do disco.

Erótica foi lançado no mercado fonográfico acompanhando o então primeiro livro de Madonna, o extravagante e direto Sex. Repleto de fotos da dupla Steven Meisel e Fabien Baron, mostra a cantora incorporada na personagem sadomasoquista Dita Parlo e em cenários de fantasias sexuais ao lado de outras celebridades como a atriz Isabella Rossellini, os rappers Big Daddy Kane e Vanilla Ice, a modelo Naomi Campbell, o ator pornô gay Joey Stefano e tantos outros. 

E é claro que os moralistas de plantão odiaram. Tratava-se do final dos anos 1980, no auge da epidemia da AIDS e a cantora sempre foi defensora dos gays, para o desespero dos chamados "normais" nos EUA. Já o disco - que é o que realmente interessa neste artigo - ganha contornos de confessionário sentimental, de desabafo contra todos os amores que Madonna viveu anteriormente (e foram muitos). 

Suas tiradas ácidas acerca dos relacionamentos amorosos pontuam todo o álbum. Ela vai de "você sabe que eu te amo porque eu te odeio" (em Bye bye baby) à "estou esperando você e espero que não parta o meu coração" (em Waiting). Em determinado momento se assume bad girl e chama seu amado de ladrão de corações. Mas como resumo da ópera sabemos bem o que ela está dizendo: que é indomável e sabe ser de todos - e de ninguém - quando bem quer. E ainda assim não deixou de casar (e se divorciar) e ter uma filha.

Adoro a sonoridade do disco, a mescla entre instrumentos e ruídos, sirenes de carro, máquinas de escrever, castanholas, o piano elegantíssimo que abre Secret Garden... Erótica é tudo que promete e mais um pouco. 

Minhas favoritas? Além da faixa-título com seu clima e ritmo de boate lotada, impossível deixar de fora Deeper and deeper e Rain (que entra em qualquer top list meu da musa). Contudo, é impressionante o que ela fez com o cover de Fever - mudando completamente a intenção da música - e vale a pena dar uma segunda chance, caso você nunca tenha ouvido, à Why's it so hard. Característica primordial do trabalho: altamente dançante e pessoal ao extremo. Ou seja, a cara da cantora. 

Bastou que eu colocasse a foto do álbum e anunciasse os 30 anos do trabalho no meu perfil no twitter e rapidamente pipocaram fãs alucinados agradecendo a notícia, prova cabal do sucesso - e também da atualidade - do disco. Logo, só posso pedir aos desavisados e não conhecedores da obra que pelo amor de Deus corrijam essa lacuna em suas formações. 

Um tapa na cara do conservadorismo ou um libelo ao empoderamento feminino? É provável que Erótica seja ambos e com muito orgulho. Mas o mais importante: é o retrato vivo de uma artista que nunca se encolheu diante de nada ou de ninguém. E só por isso já vale a pena dar uma fuçada no Spotify, no Deezer, no Itunes ou qualquer outro streaming e ouví-lo de novo. E de novo e de novo, é claro! 


domingo, 16 de outubro de 2022

O "problema" dos blockbusters


Enquanto os nerds detonam e os cinéfilos comentam a última palestra proferida pelo diretor Martin Scorsese em que, entre outras declarações, rotula de "nojento" e "repulsivo" a eterna obsessão da atual hollywood pelo lucro e as grandes bilheterias e premières, eu me pego pensando na minha própria relação com os chamados blockbusters e o futuro do cinema americano. 

E não dá para ser hipócrita nessa hora: eu fui cria deles. Toda a minha geração foi. Disputávamos a tapa lugares nos cinemas lotados para assistir a produções como O exterminador do futuro, Indiana Jones, De volta para o futuro, Conan o bárbaro, Duro de matar (e eu já quis ser John McClane matando geral no Nakatomi Plaza), A hora do pesadelo, Sexta-feira 13, Desejo de matar, Clint Eastwood humilhando os vilões na franquia Dirty Harry, Tubarão, Gremilins e... ufa! um mundo de outras coisas extremamente divertidas.

Cabe aqui um rápido anexo: a fila astronômica para ver Batman, de Tim Burton, dava voltas no cinema de bairro perto de onde eu morava e de certa forma profetizou o sucesso avassalador de Titanic, arrasa-quarteirão de James Cameron, vencedor de 11 Oscars. Meus colegas e eu nos revezávamos na fila o dia inteiro porque só conseguimos lugar na sessão das 21 horas.

Contudo - e quando falamos de sétima arte há sempre um contudo, um porém, um todavia -, eles, os blockbusters, nunca foram a totalidade da história do cinema americano. E houve um período na minha formação como cinéfilo que eu entendi isso perfeitamente, seja assistindo os clássicos do faroeste dirigidos por Sam Peckinpah; à Amargo pesadelo, de John Boorman; Reds, de Warren Beaty; Apocalipse now, de Francis Ford Coppola ou outros filmes de nicho mais restrito, como os longas de Kenneth Anger e Eraserhead, de David Lynch.

Eu entendi naquele momento que o objetivo primeiro de determinados diretores não era gerar lucro imediato. E até aí tudo bem, problema algum. O inferno astral começou de fato quando hollywood se tornou uma selva capitalista barata.

Eu continuo indo aos cinemas (agora sinônimos de kinoplexs de última geração, com cadeiras reclináveis - que eu, particularmente, detesto - e bombonnières absurdamente caras) e converso volta e meia com a nova geração de espectadores, principalmente a formada pós-fenômeno Marvel e DC. E duas informações me entristecem em seus repetitivos discursos:

1) eles não conhecem nada além da bolha super-heroística, nem querem saber do que se trata o cinema ou quem é John Ford, Billy Wilder, Henry Hathaway, Alfred Hitchcock ou o próprio Scorsese, que nos últimos tempos virou um arquiinimigo deles; e 2) cinema bom, segundo eles, é cinema que faturou os tubos, que se pagou com folga e teve lucros milionários, pois somente assim poderá financiar continuações, spinoffs e prequels a perder de vista. 

Em outras palavras: o cinema virou uma ideia que não se esgota, não permite novas concepções ou narrativas porque quase todo o público só quer saber dos mesmos personagens matando vilões com mínimas diferenças e replicando as mesmas piadas, frases de efeito e CGIs meia-boca. E isso, para quem ama realmente a sétima arte, é no fundo pobre demais.

O que Scorsese não disse em seu depoimento, mas eu digo agora é: não há a priori um futuro mais feliz para o cinema americano nos próximos anos, pois fabricamos uma geração de alienados, embrutecidos, viciados em modinhas e estereótipos, likes, compartilhamentos e seguidores vazios.

Os espectadores decidem sua experiência cinematográfica baseados em sites, no mínimo, de gosto duvidoso, como Rotten Tomatoes e Metacritic, onde pessoas que não entendem o bê-a-bá do cinema dão notas segundo suas avaliações prematuras e sem o menor conhecimento técnico que as embase. E ainda por cima tem quem chame isso de referência e/ou influência. Se o filme que você quer ver se sai mal na avaliação dessas plataformas, ele automaticamente não merece (segundo alguns) ser visto porque... eles assim o decidiram. 

E quando paramos para pensar que no Brasil a figura do crítico de cinema é, na maioria das vezes, vista como "aquele indivíduo chato que passa a maior parte da vida falando mal de alguém ou de alguma coisa", a situação piora - e muito!

O que me resta dizer? Que fica minha torcida para que Scorsese continue batendo de frente com essa indústria cada dia mais gananciosa. Que seu próximo longa, Killers of the flower moon, a ser lançado em 2023, não se torne o seu último da carreira por conta disso. E principalmente: que outros sobreviventes da arte, como ele, continuem dando as caras. Nada contra a existência de artistas como Michael Bay, Taika Waititi e David Gordon Green, mas às vezes é importante e necessário sabermos que o cinema não é feito só de heróis x vilões, adrenalina a qualquer preço e gritinhos e vaias na sala escura. Não mesmo.


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O pré-fim dos tempos?


Rússia x Ucrânia, protestos femininos no Irã, furacão dizimando tudo nos EUA, fascismo brilhando como nunca na última eleição italiana... Quando você pensa que não tem como o mundo te perturbar mais, ele te desmente e nos mostra algo ainda mais fora do tom. E só quem não enxerga isso é quem gostar de viver para a própria alienação!

Veja, por exemplo, o desfile da coleção de verão 2023 da Balenciaga na Semana de moda em Paris, criado pelo designer Demna Gvasalia, ocorrido no último dia 2 de outubro e que eu assisti posteriormente num vídeo no you tube. Caos simplesmente não explica o que os meus olhos viram naquela passarela.

Num pavilhão de exposições transformado num cenário distópico pelo artista espanhol Santiago Sierra a sensação que os espectadores têm é a de meio que estar dentro da Alegoria da Caverna, apresentada ao mundo pelo filósofo Platão. Não, é sério. Muito sério. Mais: havia também um cheiro de decomposição no ar - segundo quem esteve lá - providencialmente criado pelo artista Sissel Tolaas. Próximo estágio: que venham os modelos! 

O cantor (e polemizador) Kanye West abre a fila dos modelos que desfilam pisando na lama espalhada na pista e sujando completamente suas roupas, até então impecáveis. Muitas deles veem sua exuberância ser destruída em questão de segundos. Entretanto, também é possível apreciar alguns modelitos que você, reles mortal, jamais verá passeando pelas ruas. Faz parte. 

A Balenciaga, que nos últimos tempos já havia assombrado o público na internet vendendo um par de tênis completamente destroçado a um preço extorsivo, aqui se supera e entrega seu desfile mais polêmico e provocador. 

A trilha sonora que tem tons de Exterminador do futuro, de James Cameron, da terra arrasada na franquia Resident Evil e também de uma rave, dessas que você vê em qualquer praia famosa do mundo, repleta de epiléticos sociais e viciados em ecstasy contumazes, aumenta a um nível insuportável o clima de morbidez e niilismo bem como a sensação de desconforto, deixando-nos quase claustrofóbicos. 

Nunca imaginei - mesmo! - que um dia comentaria um desfile de moda em meu blog. Sempre achei o universo criado por essas pessoas completamente distante da realidade e conheço pessoas que só o acompanham, vez por outra, para ver as modelos lindíssimas e famosas de cada geração (Gisele Bundchen, Naomi Campbell, Cindy Crawford, etc). Contudo, desta vez confesso: me surpreendi com a ousadia. 

Fiquei tentando, a todo momento, fazer uma alusão entre o "andar na lama" e o mundo da moda e a única conclusão a que cheguei foi: seria a moda o último remanescente vivo desse mundo em autodestruição? É o que parece dizer Demna com o "espetáculo" oferecido. E na boa... Não parece estar tão errada, em parte. Vivemos uma crise de valores e de identidade gravíssimas e o respeito ao próximo vem sendo deixado de lado há tempos. Logo, como olhar para outra direção que não a do belo, fútil e glamouroso mundo das grifes? Foi o que nos sobrou nesta selva sem lei ou ordem. 

Quem saiu da experiência (que continua disponível no site para quem quiser ver e emitir sua própria opinião) pensando: será este o pré-fim dos tempos?, honestamente, não estará - a meu ver - completamente enganado. Resta saber se a humanidade, este grupo de indivíduos que tanto vem decepcionando nas últimas décadas com cada vez mais frequência, vai enfim tomar vergonha na cara e reverter essa situação ou continuará permitindo tamanha atrocidade com nosso estilo de vida sob a velha desculpa do "não tem mais jeito mesmo, portanto remediado está".  

Enquanto isso, aguardemos. Como sempre.


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Nem toda dor do mundo destrói uma lenda


Marilyn Monroe foi (e ainda é, não importa quanto tempo tenha passado da sua morte) a maior sex symbol da história do audiovisual norte-americano. E isso mesmo depois de tantas gerações posteriores a ela encantando a sétima arte mundial lutando bravamente para difamá-la dia após dia. E tudo por quê? Porque a inveja é definitivamente o que move a humanidade desde priscas eras. E porque, lógico, ela não está mais entre nós para se defender de tantas acusações. Nem mesmo seu nome de batismo, Norma Jean, escapou de ser espezinhado pelos haters. 

Contudo, sua beleza e glamour ressoam até hoje na mente de homens alucinados pelo seu brilho bem como mulheres rancorosas por não possuírem o mesmo sex appeal que ela. Dito isto, é preciso avisar aos marinheiros de primeira viagem logo de cara: se vocês procuram um filme exaltação sobre Marilyn, esse aqui realmente não é para você. Blonde, filme de Andrew Dominik produzido pela Netflix, é não somente um desserviço à imagem da diva pop, como também um grande ensaio estúpido e elogioso à misoginia. 

Sempre reclamei da maneira como hollywood retrata Marilyn em cinebiografias, narrando-a na maioria das vezes em tom pejorativo e maniqueísta. No final das contas, o que sobrava de válido eram as atrizes bonitas que a encarnavam (Michelle Williams, Ashley Judd, etc). E no caso de Blonde esse meu desaprovamento ainda piora por não se tratar de uma biografia clássica e sim da adaptação do romance homônimo da escritora Joyce Carol Oates, que já é polêmico por si só.

Acompanhamos a jornada dolorosa de Marilyn - pois é disso que se trata esse longa: uma fonte inesgotável de dor e sofrimento - desde criança, com a doença da mãe e o abandono num orfanato. E uma informação importantíssima não pode passar desapercebida aqui: ela aguardou por toda a vida o momento de conhecer o seu pai - em vão. 

A menina cresce, se interessa pelo mundo artístico, estuda, mas seu primeiro acesso à indústria cinematográfica é descrito por um estupro, perpetrado por um tubarão dos estúdios da época (e não podemos passar a mão na cabeça dos covardes nesse sentido: aquela foi uma época repleta de ídolos, mas também de cafajestes e predadores sexuais de todo tipo).

Já no quesito relacionamentos amorosos o dilacerar é ainda pior. Tirando o dramaturgo Arthur Miller (Adrien Brody), Marilyn vê sua trajetória ser corrompida por homens que só fizeram lhe explorar, usar sexualmente ou agredir, como o jogador de beisebol Joe Dimaggio (Bobby Canavale). Isso sem contar, é claro, a maneira como o filme aborda o relacionamento que ela teve com o então Presidente da República, John Kennedy. Nojento, meus caros leitores, é uma palavra que nem de longe descreve o que eu vi. 

Só resta então aos fãs mais ardorosos e apaixonados da atriz aguardar os raríssimos momentos de luz em que ela é mostrada trabalhando em seus longas de maior sucesso: Os homens preferem as loiras, O pecado mora ao lado e Quanto mais quente, melhor. Mas mesmo esses também estão impregnados de fúria, sexismo e abusos os mais diversos. 

Ao fim da amarga "experiência" (embora Ana de Armas, que dá vida à Marilyn, seja um show à parte, digno de uma indicação ao Oscar) me peguei relembrando de um livro barra-pesada, Marilyn e JFK, escrito pelo autor François Forrestier, que li há coisa de uns cinco anos. E ele, o livro, comete o mesmo nível de desrespeito sem fim com a atriz e musa. 

Mais: fiquei perplexo ao ver nos créditos o nome do ator Brad Pitt entre os produtores desse descaso. Eu sei que ele e Dominik trabalharam no longa anterior do diretor, O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, mas... Onde esse rapaz, que vem produzindo tantos projetos interessantes nos últimos anos, estava com a cabeça quando decidiu se envolver nisso aqui? Certamente entrará para a história como uma bola fora em sua carreira. 

Única certeza: a de que o diretor, que foi extremamente grosso na coletiva de imprensa do filme no Festival de Veneza, não é nem nunca foi fã de Marilyn e certamente a despreza como atriz, quiçá como mulher. Não consigo encontrar outra explicação para tamanha leviandade. 

Entretanto, fiquem sabendo tanto ele quantos os próximos a decidirem, no futuro, contar a história da loira fatal que deslumbrou hollywood, que nem toda dor do mundo é capaz de destruir o legado dessa lenda. Tanto que até hoje o sonho de grande parte das atrizes é conseguir chegar até onde ela chegou. Já a maldade e a insensatez de vocês...