Não é todo dia que um exemplar raro da sétima arte comemora mais de um século de existência. E no caso específico do longa homenageado por este singelo artigo, trata-se de uma obra ímpar, que anteviu muitas das revoluções tecnológicas pelas quais o próprio cinema passou aos longo dos anos.
Ou em outras palavras: o clássico - e por que não dizer também cult? - Viagem à lua, do diretor George Méliès, completa neste ano 120 anos. E o melhor: sem perder uma vírgula do seu estilo e elegância.
Que me perdoem os fanáticos por super-heróis, zumbis, vampiros e outras criaturas sobrenaturais, mas a produção de Méliès - que teve como assistente o seu próprio irmão, Gaston - foi precursora até mesmo do futuro dessas películas, pois tem uma estrutura que remete de cara aos grandes blockbusters do século XXI!
Na trama singela um grupo de homens viaja à Lua, sendo levados por uma cápsula lançada de um canhão gigante, mas acabam sendo capturados por seres alienígenas (os chamados homens-lua). Repleto de pequenas inovações - afinal de contas, Méliès era o mestre do gimmick ou trucagem -, o longa agradou plateias por todo os Estados Unidos, mas infelizmente não do jeito que o seu realizador queria.
Explico-me: antes do cineasta conseguir distribuição para todo o território nacional (como era seu objetivo inicial), técnicos dos filmes de Thomas Edison secretamente fizeram cópias piratas do longa e o distribuíram por todo o país, levando Méliès à falência. Sim, meus caros leitores! A patifaria também é um negócio que atravessa séculos.
Embora produzido em preto-e-branco teve uma parte encontrada na França em 2002 completamente colorizada à mão. O filme foi, então, restaurado e apresentado no ano seguinte no Pordenone Silent Film Festival, na Itália, que é considerado o maior festival de cinema mudo do mundo.
Para muitos especialistas e críticos de cinema Viagem à lua é a primeira ficção científica da história da sétima arte. E mesmo que muitos a considerem simplória em demasia no que concerne à narrativa (eu não concordo com tal declaração), ainda assim manteve seu charme com o passar das gerações e o contínuo interesse dos verdadeiros amantes do cinema - e não os reles frequentadores de fim de semana que reduzem a arte à meras franquias e reboots.
Não à toa é sempre classificado por mim, ao lado de pérolas como O encouraçado Potenkim, Oito e meio, E o vento levou..., Roma, cidade aberta e tantas outras produções magníficas, como um clássico dos clássicos.
Em 2011 o megadiretor de cinema Martin Scorsese adaptou para as telas o livro do escritor Brian Selznick A invenção de Hugo Cabret, que tinha entre seus personagens principais o cineasta George Méliès (interpretado por Ben Kingsley), e fez menção a este longa aqui homenageado. Se tiverem a oportunidade de assistí-lo, não a desperdiçem! Até mesmo para conhecer um pouco mais sobre o processo de produção do realizador.
Faltou dizer alguma coisa? Faltou. Avisar a quem ainda não conhece esta pequena obra-prima que a veja. O quanto antes. Pois nem só de Thanos morrendo, Ethan Hunt saltando de aviões e escalando prédios e assassinos mascarados cortando gargantas vive o cinema mundial. Não mesmo.
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