quinta-feira, 28 de julho de 2022

Cinema brucutu


Estes últimos dias andei reassistindo na tv a cabo alguns clássicos eternos do cinema de ação das décadas de 80 e 90 e vi-me radiante, refém de minha própria nostalgia. Mais do que isso: fiquei me perguntando o que foi que o hollywood (e, claro, o cinema mundial) fizeram de errado nas últimas décadas, entupindo as produções do gênero de efeitos especiais que em nada acrescentam às tramas e com heróis que flertam com o ridículo e com a cultura arrogante dos lutadores de MMA e toda aquela falácia esportiva vendida pelo UFC. 

É, meus caros amigos e leitores, assistir filme de ação não é mais a mesma coisa. E não é mais a mesma coisa há bastante tempo! Venderam-se à interesses escusos e mercadológicos que só fizeram afastar os verdadeiros fãs da gênero porradaria e entupiram as salas de cinema de nerds bestalhões e bitolados obcecados por piadinhas rasteiras e briguinhas que parecem mais arranjadas que aquelas que o SBT costumava exibir no telecatch. 

Pensando nisso - e no fato de que já há algum tempo eu não escrevia um novo texto da série memórias de infância -, chego à conclusão de que é hora de prestar uma singela homenagem a esse período (e esse gênero cinematográfico) que eu costumava chamar, quando moleque, de cinema brucutu. Não, você não ouviu errado, não! Eu chamava esse tipo de filme desse nome mesmo toda vez que eu ia alugar um vhs na locadora. Cinema brucutu. 

O cinema brucutu adentrou a minha vida (e a minha casa) lá pelos idos de 1988, 1989... Eu já demonstrava toda a minha gratidão ao cineasta Steven Spielberg (afinal de contas, o meu mundo nunca mais foi o mesmo desde que eu assisti E.T - o extraterrestre!), mas senti em meu íntimo a falta de alguma coisa. Mesmo sem saber explicar bem o porquê certa tarde de uma sexta feira deparo com uma série de fitas que traziam títulos como Conan, o bárbaro, Rocky II - a revanche (acreditem: eu vi a continuação antes do original), O grande dragão branco e Duro de matar. Na dúvida entre qual levar acabei gastando todo o dinheiro da minha carteira e levando todos. Pronto! Começava ali a minha saga pelo mundo extraordinário dos action movies. 

Como fui pego de surpresa tomando a decisão de criar esse artigo, decidi classificar as produções do gênero em categorias para melhor me fazer entender perante aquele público posterior à minha geração, que talvez não entenda muito bem o que significou aquele período ou nunca tenha assistido um exemplar sequer daquela safra. Entendido? Prossigamos, então: 

O subgênero "exército de um homem só": esse era um dos meus preferidos (senão o preferido). Faziam parte desta categoria aqueles personagens capazes - na ficção, é claro! - de destruírem sozinhos um exército com milhares de homens. E em alguns casos, usando as armas do próprio exército contra eles mesmos. Cabem aqui personagens clássicos como Rambo e Rocky (Sylvester Stallone), Exterminador do futuro (vai dizer que você nunca disse "hasta la vista, baby!" para alguém daquele jeito que o Schwarzenegger falou?), Braddock (Chuck Norris), John McClaine (Bruce Willis destruindo o Nakatomy Plaza, o aeroporto e o que viesse pela frente), Dolph Lundgren em Red Scorpion, Massacre no bairro japonês e em O Justiceiro, precursor dos filmes de super-herói da Marvel Studios, Lou Ferrigno na sua fase pós-Hulk e tantos outros. Cabeças cortadas, membros arrancados, sessões de tortura, duelos até somente um homem continuar de pé, sanguessugas, decapitações... Essa categoria aqui só perde em sanguinolência e barbárie para o gênero Slasher (você sabe: Freddy Krueger, Jason, Michael Meyers, etc etc etc). 

Os extraordinários (e únicos) filmes de kickboxing: essa categoria eu boto na conta das minhas noites e madrugadas assistindo tv aberta (não tinha esse papo de HBO, Netflix, Amazon studios nessa época, não!) até perder a hora de vista ou minhas pálpebras cansarem. E eu chegava na escola no dia seguinte na merda total. Billy Blanks (de O rei dos kickboxers), Don "the dragon" Wilson, Lorenzo Lamas (do seriado Renegado), Loren Avedon, Olivier Grunner, Jean-Claude Van Damme eram os que eu mais assistia. Inclusive - devo confessar aqui - os filmes do Van Damme que eu mais gostava de reassistir eram Retroceder nunca, render-se jamais e Contato Mortal, pois em ambos ele fazia o papel de antagonista e apanhava na cena final com grande maestria. Haviam coisas terríveis também, como Garras de águia e alguns longas com o Mark Dacascos (que fez o hoje inesquecível - para mim - Esporte Sangrento, onde  flertou até mesmo com a capoeira), mas em sua grande maioria eram divertidíssimos e volta e meia eu os procuro no youtube. 

Policiais alucinados, durões, investigadores à moda antiga: tirando o Martin Riggs feito por Mel Gibson em Máquina mortífera, essa é uma seção em que eu devo toda a gratidão a meu pai, pois tratam-se dos atores veteranos que acabaram me ganhando por sua classe e suas falas pitorescas (nesse tempo, eu ainda assistia filmes dublados). Paul Kersey, o vingador de Desejo de Matar vivido por Charles Bronson e Dirty Callahan, da série Dirty Harry com Clint Eastwood disputavam o posto de matador mais durão da época. E eu tinha um certa predileção pelo segundo, pois assistia também os faroestes do ator junto com meu pai, que nunca escondeu sua admiração pelo eterno e cult Era uma vez no oeste. Porém, além do trio, ainda havia espaço para personas que miravam mais o tipo engraçado, como o policial Dolley - interpretado por James Belushi - de K-9: um policial bom pra cachorro e o até hoje surtadíssimo Burt Reynolds em filmes como Caçada em Atlanta e Encurralado em Las vegas. E, claro, para encerrar com grande estilo, o megalomaníaco Axl Foley, com o qual Eddie Murphy nos presenteou na trilogia Um tira da pesada. Precisa mais?

O nossos amigos asiáticos também eram foda: Bruce Lee, mestre-eterno das artes marciais, homem por trás de épicos como Operação Dragão e O Voo do dragão; seu filho, Brandon, morto durante as filmagens de O Corvo, mas que mesmo assim nos presentou com Rajada de fogo (assistam! agora, se possível); Jackie Chan - que foi dublê de Bruce Lee uma época -, mestre em fazer suas próprias cenas de perigo e que ganhou hollywood, chegando a ser reconhecido pela academia; Chow-Yun Fat, este apresentado a mim por um dos maiores diretores asiáticos que eu tive o prazer de assistir no cinema: Mr. John Woo (e olha que o cara dirigiu até comercial da Nike com a seleção brasileira, na época de Romário, Bebeto e companhia limitada), e para ficar só no óbvio: assistam O Matador e Fervura Máxima. O resto eu deixo com vocês; Bolo Yeung, mais conhecido como coadjuvante de Van Damme em muitos dos seus filmes, mas também arrasador em Kickboxer - Dragão de fogo. Uma dica para essa categoria: procurem pelas produções da Golden Harvest e os longametragens produzidos em Hong Kong. Os mais fanáticos pelo tema ficarão de queixo caído. 

Os estilosos: eu gostava de prestar atenção no estilo de cada lutador/ator, na luta marcial escolhida por ele e pude perceber muita gente boa, que até hoje não me sai da cabeça. Dentro dessa categoria, o primeiro que me chamou a atenção de cara foi Steven Seagal em Nico - acima da lei. Acho que foi a única ocasião em que eu cogitei em aprender uma arte marcial (para aprender o aikidô, estilo dele). Depois vieram Difícil de matar, Marcado para a morte, Fúria mortal e tantos outros. O tempo passou, Seagal engordou, teve aquela história mal contada de que ele foi agente da CIA e... Enfim... Outro que sempre me lembro é Jeff Speakman, mestre de Kenpo em A arma perfeita, vhs da CIC video que eu reassisti uma 7, 8 vezes (ou mais). Cheguei a praticar no meu quarto com dois pedaços de madeira serrados de uma vassoura velha. Só fiz machucar os cotovelos. E, finalmente, o mito. Digo, o verdadeiro (não certo político de araque que anda botando banca por aí). Não, meus amigos! Falo de Chuck Norris. Eu sei, eu sei que tinha mencionado Braddock lá em cima e ele merecia, na verdade, um capítulo só dele, mas tudo bem. Ele merece estar nessa categoria. Como deixar de fora a lenda por trás de clássicos como Vingança Forçada, Comando Delta, Octagon - escola de assassinos, McQuade - o lobo solitário e a série Texas Rangers? Não, eu não poderia deixá-lo de fora dessa. Ele provavelmente viria até aqui em casa para me esmurrar. 

Memórias à parte (e elas sempre são um ato falho, não importa o quanto nos esforcemos), a lista é imensa, com direito a mulheres (Cynthia Rothroack, Brigitte Nielsen), milhões de sequências, franquias sendo retomadas por outros artistas (por exemplo: as continuações de O grande dragão branco foram feitas por Daniel Bernhardt), filmes do gênero perseguição ou assalto a banco (na linha de Velocidade máxima ou Caçadores de emoção), que abriram portas para gerações posteriores (leia-se: Milla Jovovich na série Resident Evil, Angelina Jolie na franquia Tomb Raider e em Salt, Kellan Lutz, Tony Jaa, Jason Statham e muito, muito mais).

Para alimentar ainda mais a sanha dos cinéfilos insaciáveis, uma pequena lista obrigatória: Operação Kickbox, American Kickbox, O Combate - lágrimas do guerreiro, Duplo impacto, Fúria Cega, Arena da morte, Jogo duro, O predador, trilogia Mad Max, Condenação brutal, Inferno vermelho, Flcão - o campeão dos campeões, Comando para matar, Leão Branco - o lutador sem lei,, A força em alerta I e II, Kinjite - desejos proibidos, Na linha de fogo, Malone: o justiceiro, Os bons se vestem de preto, Os irmãos kickboxers...

Eu sempre serei grato as sessões do Cinemax na Rede Bandeirantes, a minha antiga locadora Brother's Video (hoje extinta) e a uma galera com quem eu andava na época e com quem trocava filmes de vez em quando. Vi muitas raridades, inclusive filmes de kung fu antigos nas sessões duplas do Cinema São Geraldo (sempre intercaladas com sessões pornôs, que não podíamos assistir por sermos menores de idade). Pode parecer bobagem dito hoje, mas essa geração formou o cinéfilo e o crítico que habita dentro de mim até hoje. E sempre serei devedor disso.

E finalmente pergunto aos admiradores de meus artigos nesse canal: dá para cultuar o que se chama de cinema de ação feito hoje em dia? Pois é... Os brucutus ainda são eternos!!!


quarta-feira, 20 de julho de 2022

O rei do rock ainda vive, sim


Tem gente que diz até hoje que ele não morreu. Que está por aí, bem longe de Graceland, dos holofotes e dos fãs alucinados, curtindo a sua merecida aposentadoria. E ao descer dos créditos do filme espantoso de quase duas horas e quarenta de duração, repleto de glamour e pura adrenalina, eu me dou conta de que talvez eles, os alucinados, estejam cobertos de razão. Elvis Presley era realmente mítico, único, e uma figura dessas não merecia morrer. De jeito nenhum. 

Essa é a primeira sensação que me ficou ao fim de Elvis, novo longa do diretor Baz Luhrmann (dos filmes cheios de estilo Moulin Rouge e O grande Gatsby) sobre ele, o eterno rei do rock n´roll. E mais: saí da sala de projeção querendo saber ainda mais sobre o astro. Sinal de que a produção atingiu o seu objetivo - e com folga. 

Elvis (Austin Butler, simplesmente magnífico!) era fruto de uma família extremamente religiosa e marcada por uma tragédia: seu irmão gêmeo morreu no parto. A partir daí, ele precisou acreditar desde pequeno que estava vivendo por duas pessoas. E assim o fez. Porém, possuía um dom destinado a poucos. Ainda moleque, descobriu no blues cantado pelos negros sua válvula de escape, e fez dela um caminho para trilhar o sucesso. Mas jamais conseguiria chegar nesse Olimpo sozinho, é bem verdade! 

E nesse momento cruza com ele o inescrupuloso, porém visionário, Coronel Tom Parker (Tom Hanks), que possuía até então uma trupe circense dessas mambembe (ou o que os americanos chamam de Carnival Ride) praticamente às portas da falência. Quando Tom ouve a respeito de Elvis, do quanto ele está chamando a atenção em suas apresentações cheias de swingue e rebolado, ele corre atrás para ver do que se trata. E imediatamente vê ali uma mina de ouro. 

A ascensão de Elvis - chamado pela mídia de "a pélvis" - é meteórica e ele enlouquece as mulheres por onde passa. Contudo, os conservadores de plantão (sempre eles!) não podiam permitir que essa "degeneração" prosperasse por muito tempo e passaram a perseguí-lo com unhas e dentes. Foi rotulado como doença moral dos EUA, o que obrigou seu empresário a mandá-lo para o exército. Acham que conseguiram silenciá-lo depois disso? Nada. 

Nem mesmo seu casamento com a bela Priscilla (Olivia DeJonge) e o nascimento da filha, Lisa-Marie, diminuíram seu ímpeto nos palcos, muito menos o interesse sexual das fãs. Era tarde demais para seus críticos e detratores. Elvis agora se tornara uma lenda. Seu único revés direto: a ganância e a exploração financeira promovida pelo Coronel, principalmente ao perceber o interesse de outros produtores por seu pupilo, quer dizer, sua criação. E o filme aborda isso de uma maneira bastante direta, para minha total surpresa.  

A entrega de Austin Butler ao protagonista é simplesmente sublime. Cheguei a assistir, dois dias antes de ver o longa, uma entrevista com o ator no programa do Jimmy Fallon, no qual ele explicava como aprendera a fazer a voz do cantor. E o resultado na tela é impressionante. E digo mais: é desde já o melhor filme da carreira de Baz Luhrmann, que surpreende com um trabalho coeso e que não tem o menor interesse de ser chapa branca e vazio. Não entendi os críticos na internet que acusaram o filme de "superficial", "mero espetáculo visual" e "muito show para pouca reflexão sobre o personagem". Definitivamente não foi isso que meus olhos viram durante a sessão.

Ao fim da projeção o legado que fica do longa é o registro apaixonado de um dos maiores mitos da história da indústria cultural, e não somente do mercado fonográfico. Um artista que encantou multidões não só cantando, mas também atuando (trabalhou em mais de 30 filmes), até mesmo na maneira como se vestia e que nunca deixou de dar o seu recado, não importa o quanto tentassem castrá-lo ou moldá-lo. 

P.S: antes do início da sessão sou abordado por um senhor na casa dos seus 70 e tantos anos. Identifico-o imediatamente como um fã de Elvis Presley de longa data. Ele me entrega um cartão onde estão escritas as palavras "Elvis e eu" e abaixo um link de um vídeo. Termino de ver o filme, saio do cinema completamente extasiado, vou para casa, abro meu notebook e procuro o tal vídeo. Trata-se de um colecionador apaixonado e um entendido notório sobre o rei do rock. Seu vídeo está repleto de comentários de fãs também apaixonados por Elvis. 

Moral da história: como é que eu posso acreditar, depois de tanta paixão e envolvimento do público com a obra dessa lenda, que esse homem simplesmente morreu aos 42 anos, no auge, com tanto ainda a entregar? De jeito nenhum. Elvis vive. Ele está por aí. Para sempre. E lhe desejo toda felicidade do mundo, pois pouquíssimos na história conseguiram chegar tão longe quanto ele.

Vida longa ao rei!  


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Harrison Ford, 80


Ele já foi chamado de "o astro do século" e, podem acreditar!, mereceu cada verbete dessa frase. E num mundo onde lendas são construídas a cada ano com menos intensidade (pois os canastrões e sem talento ditam a tônica da hollywood atual), manteve seu reinado até com certa folga. 

Sim, falo dele, do único, Mr. Harrison Ford, que na última quarta-feira completou inacreditáveis 80 anos de idade, cheio de energia e apto a lançar em 2023 mais um longa da franquia Indiana Jones. Contudo, embora a grande maioria do público que veja os seus filmes no cinema e na tv o reconheça mais pelo professor de arqueologia mais famoso do mundo ou na pele do piloto Han Solo de Star Wars, acreditem: sua carreira foi bem mais versátil do que isso. E caso os nerds de plantão não a conheçam como um todo, já passou da hora de correrem atrás do prejuízo. 

E é preciso para isso voltar bem lá atrás, mais precisamente no ano de 1973, quando seu personagem, Bob Falfa, deu as caras (junto com outras dezenas de futuras estrelas) em Loucuras de verão, de George Lucas. Hollywood e o mundo ainda não sabiam, mas nascia ali um grande fenômeno cinematográfico.

Do rebelde sem causa ao eterno parceiro de Chewbacca, passando pelo Barnsby de Comando 10 de Navarone (longa de Guy Hamilton que, aliás, precisa ser redescoberto pelas novas gerações) e a participação especialíssima como Coronel Lucas em Apocalipse now, épico definitivo sobre a guerra do Vietnã, dirigido por Francis Ford Coppola. Mas calma... Ele ainda estava apenas aquecendo a máquina. O melhor ainda estava por vir. 

A partir de 1981, com Os caçadores da arca perdida, primeira aventura na pele de Indy e começo da parceria com Steven Spielberg, ele iniciava um legado extraordinário e poucas vezes visto na história do cinema norte-americano. Blade Runner - o caçador de andróides, de Ridley Scott (o qual sou suspeito para comentar, pois considero a melhor sci-fi que eu vi até hoje); A testemunha, de Peter Weir (dos longas mais subestimados da história de hollywood); Busca frenética, de Roman Polanski (que eu tenho tentado rever nos últimos anos, sem sucesso); Acima de qualquer suspeita, de Alan J. Pakula (drama criminal que há anos não vejo similar na indústria)... E isso para se limitar rapidamente ao básico, pois sim, há muito mais. 

Com Jogos patrióticos e Perigo real e imediato deu corpo e voz à Jack Ryan, personagem-síntese da obra literária de Tom Clancy; Já na pele do Dr. Richard Kimble, de O fugitivo, desconstruiu um protagonista icônico da televisão. E para quem acha que ele já aprontou o suficiente até aqui, é porque vocês não o viram empunhando a faixa presidencial e massacrando os terroristas em Força aérea um, de Wolfgang Petersen.

Já a partir de 1998, com Seis dias, sete noites, de Ivan Reitman (da franquia Os caça-fantasmas), é preciso confessar que sua carreira perdeu um pouco de fôlego em meio a dramas rasos e um ou outro filme policial de pouca ou nenhuma repercussão. Entretanto, ainda é possível dar umas boas gargalhadas com o âncora de tv antipático Mike Pomeroy de Uma manhã gloriosa, do diretor Roger Michell e curtir o caubói Woodrow Dolarhyde de Cowboys & Aliens, de Jon Favreau (embora tenha perdido o cargo de protagonista para outras estrelas, como Rachel McAdams e Daniel Craig). 

Houve até uma aparição ligeira (e bem curtida pelo público) como o piloto Drummer em Os mercenários 3, de Patrick Hughes, mas o que o trouxe à baila - e ao tapete vermelho - novamente foi reeditar seus personagens mais famosos. É, eu sei... Han Solo morrer no episódio 7 de Star Wars deixou muito fã raiz puto da vida, mas... Há que se entender que são outros tempos, outra geração de espectadores. 

E mesmo com Spielberg cedendo a cadeira à James Mangold (interessante diretor, responsável por filmes como Copland, Johnny & June e Logan) no próximo filme do Indy, o interesse do público - repleto de nostalgia, é bem verdade! - não esmorece. E Harrison tem tudo a ver com isso. Nesse sentido, ele é como o Tom Cruise e seus personagens, Maverick e Ethan Hunt. Não importa idade, não envelhece nunca. 

E, cá entre nós, será assim até seu último dia de vida. Mas com um adendo: sabendo tirar sarro com sua própria história e carreira, com bem o faz em programas como o talk show com Jimmy Fallon e premiações como o AFI entregue ao seu parceiro e mestre das trilhas sonoras, John Williams (procurem no youtube e saberão do que eu estou falando!).

Só faltou dizer, depois de todo esse palavreado, que eu também aguardo a próxima estreia do eterno astro. E vocês, não?


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Se cuida, Disney!


É impressionante o quanto a indústria cultural vem sofrendo mudanças cada vez com mais rapidez nos últimos anos e isso não necessariamente é sinônimo de boa notícia!  

Esta semana me deparei, em dois sites diferentes, com a informação de que o personagem Mickey Mouse, da Disney, entrará em domínio público a partir de 2024. No mesmo momento meu cérebro imaginou duas interpretações extremamente negativas para essa matéria: 1) "isso não vai prestar" e 2) "a dona do personagem não vai deixar isso barato". 

Na prática o que temos de concreto é: esse dia chegaria, e o mesmo acontecerá muito em breve com outros personagens da empresa (leia-se: Pato Donald, Pateta, Margarida, etc etc etc). Contudo, conhecendo o atual cenário cultural vigente, há muito a se temer com a chegada deste fatídico dia. 

Em tempos de pauta LGBTQIA+ em ascensão e detratores da Disney loucos para desmitificar suas criações, por considerá-las em muitos casos chapa branca ou moralistas em demasia, prevejo a empresa se aporrinhando no futuro. Mais: quem sabe até usando sua influência política para tentar mudar as regras do jogo ou, quem sabe, aumentar o prazo de 95 anos e permanecer com os direitos autorais do que criou. 

Sério mesmo. Já imagino certos criadores - no Leste Europeu, então, nem se fala! - se utilizando da imagem do Mickey para transformá-lo num conceito que contrarie tudo que a Disney defendeu até hoje. Um Mickey fascista ou gay ou homofóbico ou coisa até bem pior. 

Quem já assistiu os primeiros curtas do camundongo mais famoso da história da animação ou leu as histórias de detetive com ele que eram publicadas aqui no Brasil pela Editora Abril nas décadas de 1980 e 1990 (eu mesmo era viciado naqueles gibis!), entende a minha preocupação. Se Mickey é sinônimo de alguma coisa, que seja de clássico. E digo isso porque já andei vendo por aí certas modernizações que em nada mexeram comigo como leitor ou espectador (Superman com abordagem mais voltada à Rússia, Peter Parker adolescente no cinema... Isso só para ficar no óbvio). 

E esse é o maior problema da expressão "entrar em domínio público". Podem transformar o personagem no que quiser, e sem autorização prévia. Porém, fazer isso numa era em que só falamos a maior parte do tempo do que é trans e naturalizamos a linguagem neutra (como o terrível todxs), cá entre nós é procurar sarna para se coçar. 

Daí o que mencionei no quarto parágrafo: acho quase impossível que a Disney, pelo tamanho que tem dentro da indústria, não mexa seus pauzinhos para alterar a lei de alguma forma. Afinal de contas, trata-se do maior conglomerado de mídia da atualidade. 

Enquanto 2024 não chega, o jeito é esperar, continuar de saco cheio com o circuito exibidor cinematográfico que não consegue enxergar além de Marvel e DC com seus heróis cada vez mais bobalhões, ficar à espera de que uma nova joia musical surja - algo na linha Amy Winehouse, pela qual continuo de luto até hoje - e me prove que o mercado fonográfico pode ser mais do que Lady Gaga e Anitta, e continuar procurando bons livros fora da execrável seção de auto-ajuda (que não passa de manual de regras com um nome mais estiloso). 

Mas não se esqueçam: faltam menos de dois anos e o Mickey, o personagem mais antigo da casa, é apenas a ponta do iceberg. A empresa, com o passar dos anos, vai perder os direitos de todas as suas criações clássicas. Logo, não tem como não dar zebra. E se a Disney burlar as regras do jogo, outros vão querer burlar também. 

É... Dias turbulentos se aproximam da indústria cultural. E só nos resta esperar para ver no que vai dar (ou não) isso tudo.      


sexta-feira, 1 de julho de 2022

Uma biografia, infelizmente, chapa-branca

 


Sempre tive curiosidade pela década de 1960, considerada por meus pais e seus colegas de trabalho como "a melhor da história da humanidade", por conta do sem número de manifestações artísticas e revoluções ocorridas no período. Sim, meus caros leitores! Para quem nunca leu a respeito a referida década foi um enxame inigualável de acontecimentos históricos os mais diversos. 

E dentre eles, provavelmente o mais conhecido - e com folga -, tenha sido a Beatlemania. Contudo, se iludem aqueles que pensam tratar-se o fenômeno dos Beatles de uma mera histeria, paranoia ou perseguição a um quarteto de rock n' roll (se ocorresse hoje, eles certamente seriam chamados de boy band).

O Fab Four - ou simplesmente John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, jovens oriundos de Liverpool - foi uma façanha musical tão gigantesca, que até hoje não conseguiu ser inigualada na história do mercado fonográfico. E acreditem: isso não é pouca coisa. 

Logo, onde encontrar informações minimamente coerentes sobre a banda que abalou o Reino Unido, bem como o resto do mundo? E quando escrevo "minimamente coerentes", digo isso justamente por conta da dificuldade de retratar a trajetória de um grupo tão icônico - e, por isso mesmo, repleto de especulações - como esse. 

E o que mais próximo conseguiu chegar dessa empreitada foi The Beatles - a única biografia autorizada, do escritor e biógrafo Hunter Davies. E desde já adianto: trata-se de uma obra literária anos-luz da perfeição, mas que se encaixa como uma luva no gosto duvidoso dos adoradores de biografias chapa-branca (segmento esse que anda em ascensão aqui pelo Brasil nos últimos anos).

No livro de Davies, ficamos sabendo como os quatro se conheceram, da turnê em Hamburgo que deu o pontapé inicial à banda, da expulsão de Pete Best, o baterista original (e para muitos fãs do grupo, infinitamente superior à Ringo), de como suas vidas cruzaram com a do produtor Brian Epstein, das turnês e gritarias por onde quer que se apresentassem, do envolvimento com as drogas até a viagem à Índia... Em suma: do básico. 

Entretanto, o autor acaba por perder tempo em demasia com aspectos não tão interessantes da vida do quarteto. Daí o eterno problema das chamadas biografias autorizadas (e nesse sentido eu entendo com folga a comemoração de quem vibrou, aqui no país, com a liberação das biografias sem autorização prévia por parte do STF, discussão essa iniciada quando da proibição da venda do livro Roberto Carlos em detalhes, do escritor Paulo César de Araújo).

Afinal de contas, fã que é fã raiz quer saber muito mais sobre o processo criativo de álbuns como Abbey Road, Sgt. Pepper e Magical Mistery Tour do que da vida em família dos integrantes da banda. E nesse ponto o livro pisa na bola em alguns momentos.    

Digo mais: não fosse o pós-escrito realizado pelo autor em 1985, talvez eu tivesse até abandonado a leitura pelo meio do caminho. Eu sei... Uma pena! Podemos elogiar o esforço de Hunter e sua luta para conseguir realizar uma obra relevante. O problema mesmo são os parentes e amigos do quarteto que volta e meia adoram abafar informações mais inusitadas e polêmicas. Pelo menos não compromete tanto o trabalho no quesito "registro de uma era", pois ainda assim foi possível imaginar o que foram aqueles anos loucos. 

Agora só me resta, assim que puder, tomar coragem para ler a imensa The Beatles - a biografia, escrita por Bob Spitz, e rezar que ela seja um pouco mais corajosa e livre de interferências externas. E quem sabe até eu não apareça por aqui de novo para falar a respeito... John, Paul, George e Ringo certamente merecem!!!