quarta-feira, 20 de julho de 2022

O rei do rock ainda vive, sim


Tem gente que diz até hoje que ele não morreu. Que está por aí, bem longe de Graceland, dos holofotes e dos fãs alucinados, curtindo a sua merecida aposentadoria. E ao descer dos créditos do filme espantoso de quase duas horas e quarenta de duração, repleto de glamour e pura adrenalina, eu me dou conta de que talvez eles, os alucinados, estejam cobertos de razão. Elvis Presley era realmente mítico, único, e uma figura dessas não merecia morrer. De jeito nenhum. 

Essa é a primeira sensação que me ficou ao fim de Elvis, novo longa do diretor Baz Luhrmann (dos filmes cheios de estilo Moulin Rouge e O grande Gatsby) sobre ele, o eterno rei do rock n´roll. E mais: saí da sala de projeção querendo saber ainda mais sobre o astro. Sinal de que a produção atingiu o seu objetivo - e com folga. 

Elvis (Austin Butler, simplesmente magnífico!) era fruto de uma família extremamente religiosa e marcada por uma tragédia: seu irmão gêmeo morreu no parto. A partir daí, ele precisou acreditar desde pequeno que estava vivendo por duas pessoas. E assim o fez. Porém, possuía um dom destinado a poucos. Ainda moleque, descobriu no blues cantado pelos negros sua válvula de escape, e fez dela um caminho para trilhar o sucesso. Mas jamais conseguiria chegar nesse Olimpo sozinho, é bem verdade! 

E nesse momento cruza com ele o inescrupuloso, porém visionário, Coronel Tom Parker (Tom Hanks), que possuía até então uma trupe circense dessas mambembe (ou o que os americanos chamam de Carnival Ride) praticamente às portas da falência. Quando Tom ouve a respeito de Elvis, do quanto ele está chamando a atenção em suas apresentações cheias de swingue e rebolado, ele corre atrás para ver do que se trata. E imediatamente vê ali uma mina de ouro. 

A ascensão de Elvis - chamado pela mídia de "a pélvis" - é meteórica e ele enlouquece as mulheres por onde passa. Contudo, os conservadores de plantão (sempre eles!) não podiam permitir que essa "degeneração" prosperasse por muito tempo e passaram a perseguí-lo com unhas e dentes. Foi rotulado como doença moral dos EUA, o que obrigou seu empresário a mandá-lo para o exército. Acham que conseguiram silenciá-lo depois disso? Nada. 

Nem mesmo seu casamento com a bela Priscilla (Olivia DeJonge) e o nascimento da filha, Lisa-Marie, diminuíram seu ímpeto nos palcos, muito menos o interesse sexual das fãs. Era tarde demais para seus críticos e detratores. Elvis agora se tornara uma lenda. Seu único revés direto: a ganância e a exploração financeira promovida pelo Coronel, principalmente ao perceber o interesse de outros produtores por seu pupilo, quer dizer, sua criação. E o filme aborda isso de uma maneira bastante direta, para minha total surpresa.  

A entrega de Austin Butler ao protagonista é simplesmente sublime. Cheguei a assistir, dois dias antes de ver o longa, uma entrevista com o ator no programa do Jimmy Fallon, no qual ele explicava como aprendera a fazer a voz do cantor. E o resultado na tela é impressionante. E digo mais: é desde já o melhor filme da carreira de Baz Luhrmann, que surpreende com um trabalho coeso e que não tem o menor interesse de ser chapa branca e vazio. Não entendi os críticos na internet que acusaram o filme de "superficial", "mero espetáculo visual" e "muito show para pouca reflexão sobre o personagem". Definitivamente não foi isso que meus olhos viram durante a sessão.

Ao fim da projeção o legado que fica do longa é o registro apaixonado de um dos maiores mitos da história da indústria cultural, e não somente do mercado fonográfico. Um artista que encantou multidões não só cantando, mas também atuando (trabalhou em mais de 30 filmes), até mesmo na maneira como se vestia e que nunca deixou de dar o seu recado, não importa o quanto tentassem castrá-lo ou moldá-lo. 

P.S: antes do início da sessão sou abordado por um senhor na casa dos seus 70 e tantos anos. Identifico-o imediatamente como um fã de Elvis Presley de longa data. Ele me entrega um cartão onde estão escritas as palavras "Elvis e eu" e abaixo um link de um vídeo. Termino de ver o filme, saio do cinema completamente extasiado, vou para casa, abro meu notebook e procuro o tal vídeo. Trata-se de um colecionador apaixonado e um entendido notório sobre o rei do rock. Seu vídeo está repleto de comentários de fãs também apaixonados por Elvis. 

Moral da história: como é que eu posso acreditar, depois de tanta paixão e envolvimento do público com a obra dessa lenda, que esse homem simplesmente morreu aos 42 anos, no auge, com tanto ainda a entregar? De jeito nenhum. Elvis vive. Ele está por aí. Para sempre. E lhe desejo toda felicidade do mundo, pois pouquíssimos na história conseguiram chegar tão longe quanto ele.

Vida longa ao rei!  


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