É impressionante o quanto a indústria cultural vem sofrendo mudanças cada vez com mais rapidez nos últimos anos e isso não necessariamente é sinônimo de boa notícia!
Esta semana me deparei, em dois sites diferentes, com a informação de que o personagem Mickey Mouse, da Disney, entrará em domínio público a partir de 2024. No mesmo momento meu cérebro imaginou duas interpretações extremamente negativas para essa matéria: 1) "isso não vai prestar" e 2) "a dona do personagem não vai deixar isso barato".
Na prática o que temos de concreto é: esse dia chegaria, e o mesmo acontecerá muito em breve com outros personagens da empresa (leia-se: Pato Donald, Pateta, Margarida, etc etc etc). Contudo, conhecendo o atual cenário cultural vigente, há muito a se temer com a chegada deste fatídico dia.
Em tempos de pauta LGBTQIA+ em ascensão e detratores da Disney loucos para desmitificar suas criações, por considerá-las em muitos casos chapa branca ou moralistas em demasia, prevejo a empresa se aporrinhando no futuro. Mais: quem sabe até usando sua influência política para tentar mudar as regras do jogo ou, quem sabe, aumentar o prazo de 95 anos e permanecer com os direitos autorais do que criou.
Sério mesmo. Já imagino certos criadores - no Leste Europeu, então, nem se fala! - se utilizando da imagem do Mickey para transformá-lo num conceito que contrarie tudo que a Disney defendeu até hoje. Um Mickey fascista ou gay ou homofóbico ou coisa até bem pior.
Quem já assistiu os primeiros curtas do camundongo mais famoso da história da animação ou leu as histórias de detetive com ele que eram publicadas aqui no Brasil pela Editora Abril nas décadas de 1980 e 1990 (eu mesmo era viciado naqueles gibis!), entende a minha preocupação. Se Mickey é sinônimo de alguma coisa, que seja de clássico. E digo isso porque já andei vendo por aí certas modernizações que em nada mexeram comigo como leitor ou espectador (Superman com abordagem mais voltada à Rússia, Peter Parker adolescente no cinema... Isso só para ficar no óbvio).
E esse é o maior problema da expressão "entrar em domínio público". Podem transformar o personagem no que quiser, e sem autorização prévia. Porém, fazer isso numa era em que só falamos a maior parte do tempo do que é trans e naturalizamos a linguagem neutra (como o terrível todxs), cá entre nós é procurar sarna para se coçar.
Daí o que mencionei no quarto parágrafo: acho quase impossível que a Disney, pelo tamanho que tem dentro da indústria, não mexa seus pauzinhos para alterar a lei de alguma forma. Afinal de contas, trata-se do maior conglomerado de mídia da atualidade.
Enquanto 2024 não chega, o jeito é esperar, continuar de saco cheio com o circuito exibidor cinematográfico que não consegue enxergar além de Marvel e DC com seus heróis cada vez mais bobalhões, ficar à espera de que uma nova joia musical surja - algo na linha Amy Winehouse, pela qual continuo de luto até hoje - e me prove que o mercado fonográfico pode ser mais do que Lady Gaga e Anitta, e continuar procurando bons livros fora da execrável seção de auto-ajuda (que não passa de manual de regras com um nome mais estiloso).
Mas não se esqueçam: faltam menos de dois anos e o Mickey, o personagem mais antigo da casa, é apenas a ponta do iceberg. A empresa, com o passar dos anos, vai perder os direitos de todas as suas criações clássicas. Logo, não tem como não dar zebra. E se a Disney burlar as regras do jogo, outros vão querer burlar também.
É... Dias turbulentos se aproximam da indústria cultural. E só nos resta esperar para ver no que vai dar (ou não) isso tudo.
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