Que me desculpem os fãs do carnaval, dos trios elétricos, do sambódromo e do confete e serpentina, mas para mim o grande feriado nacional são as festas juninas. Adoro aquele clima de fogueiras, pé de moleque, quadrilhas dançando, canjica, quentão e outras gostosuras. Mas, principalmente, pelo prazer de ouvir o velho e bom forró.
Engraçado que o forró nasceu meio que internacional, por conta de antigos bailes que aconteciam no país e que recebiam a visita de figuras estrangeiras (por isso, na entrada dos estabelecimentos culturais, era muito comum verem uma placa com os dizeres "for all people", ou para todas as pessoas).
Portanto, For all virou com o tempo forró.
Aqui mesmo, em casa, se existe um artista que é ouvido quase o tempo todo, esse indivíduo é Luiz Gonzaga, o rei do baião. Certamente a frase que mais ouvi no rádio da minha tia desde que me entendo por gente foi "minha vida é andar por esse país pra ver se um dia descanso feliz". Mas não somente o Gonzagão. Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Trio Nordestino e outras feras do gênero também dão as caras por aqui.
E é com enorme felicidade - mesmo! - que leio no jornal a matéria que informa que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) declarou o forró patrimônio cultural e imaterial do Brasil. Notícia mais justa e merecida do que essa, impossível! Ainda mais num momento em que os povos nordestinos vêm sendo tão atacados, de forma tão covarde, por um segmento alienado e ignorante da população.
Ainda segundo a decisão, que foi anunciada pelo Ministro do Turismo a apenas três dias do Dia do Forró, o gênero musical foi considerado um "supergênero", por também agrupar outras expressões musicais típicas, como o baião, o xote e o xaxado. Achei essa especificação o máximo, porque tem muita gente no país que realmente pensa que é tudo a mesma coisa. Não é. Procurem no you tube vídeos sobre os diferentes estilos e entenderão melhor o que eu estou dizendo.
Os artistas nordestinos - sanfoneiros, cordelistas, forrozeiros, xaxadeiros, etc - vinham aguardando esse dia há mais de três décadas, sempre esbarrando em alguma burocracia ou a falta de decisão de nossos dirigentes. Pois eis que esse momento glorioso enfim chega para a alegria desse povo tantas vezes injustiçado ao longo da história, mas que muitos não conseguem entender que sua existência se confunde com a cultura desse país.
O que seria do Brasil, de sua diversidade étnica, folclórica, cultural, não fossem figuras como Cora Coralina, Patativa do Assaré, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, Raimundo Fagner, Humberto Teixeira, Ariano Suassuna, e tantos outros que me fogem à mente neste exato momento?
Se existe uma palavra que exemplifica o nosso país como poucas, essa palavra é o nordeste. E sempre vi o forró como uma grande porta de entrada para conhecermos esse universo rico, porém doloroso; heroico, mas não menos sofrido (já bem dizia Euclides da Cunha, quando escreveu em Os sertões que "o sertanejo era, antes de tudo, um forte."). Nenhuma região do país é capaz de entender o significado da expressão "abrir mão" como o nordestino. E é justamente isso que faz deles um povo único, brilhante em suas intenções.
Termino esta rápida homenagem em forma de texto, emocionado. Sou filho de uma baiana arretada que, infelizmente, já partiu para o andar de cima, não sem antes me ensinar o valor e poder desse povo que não entrega o ouro ao bandido de jeito nenhum. E tenho certeza que ela teria ficado muito feliz de ter lido esta notícia hoje.
Viva o forró, esse ritmo que é só nosso. Sempre!
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