O cinema de terror sempre esteve povoado de personas insólitas (psicopatas, serial killers, palhaços e bonecos assassinos, etc), pragas científicas, figuras sobrenaturais e outros algozes quiçá ainda mais terríveis e, por que não, inexplicáveis à nossa vã filosofia. Contudo, houve um tipo de diretor muito comum nos anos 80 e 90 que soube se apropriar bem daquilo que o gênero sobrenatural tinha de mais alucinante e completamente fora do que chamamos costumeiramente de realidade.
Tem quem chame essas produções hoje em dia de trash ou filmes B, mas acreditem: elas fizeram um enorme sucesso de público entre os fãs da nobre arte de dar sustos. E às vezes com narrativas que são uma ode ao nonsense.
Esta semana, por exemplo, me deparei no you tube com uma cópia dividida em episódios do filme A bolha assassina, remake de 1988 do diretor Chuck Russell para o clássico cinquentista de ficção científica de Irvin S. Yeaworth Jr, que tinha em seu elenco o astro Steve McQueen. E qual não foi a minha surpresa ao ver, mesmo três décadas depois e hoje vacinado contra todos os delírios e distorções da narrativa, que eu ainda me divirto - e muito - com a película!
A bolha assassina, embora seja um projeto anterior ao sucesso comercial que Russell faria seis anos depois com a comédia O máskara (que eternizaria o humorista Jim Carrey), traz em seu bojo todos os elementos do que aquela geração cinéfila considerava um ótimo entretenimento. Quer ver só?
O longa conta a história de um meteoro que cai numa cidadezinha de interior nos EUA e traz em seu núcleo uma substância gosmenta e púrpura capaz de aumentar de tamanho à medida que se alimenta de seres humanos. Não, é isso mesmo que você leu! Ela chega ao centro da cidade após ficar presa no braço de um morador de rua que é levado, por dois adolescentes, ao hospital mais próximo. A partir daí esperem por muita matança, correria, desespero e, claro, não sejam exigentes com o roteiro.
Há uma subtrama mal explorada - e normalmente, nos filmes de terror desse período, elas sempre existem! - sobre uma equipe de cientistas contratada pelo governo para transformar a tal bolha numa arma de guerra. Aliás, bem a cara da hollywood daquela época. E também há a figura de um padre apocalíptico que vê no nêmesis púrpura o prenúncio do fim dos tempos. Mais do que isso: o diretor chega a preparar o terreno para uma possível continuação (que, claro, nunca existiu).
De concreto mesmo parece que somente os jovens Brian Flagg (Kevin Dillon) e Meg Penny (Shawnee Smith), interessados em destruir de uma vez por todas a malévola criatura. Entretanto, há muito pelo qual se divertir também, vide o inusitado da situação. Que o digam o casal de namorados num encontro romântico no carro e a dupla de garotos dentro do cinema para ver o último lançamento de terror do momento. Mais anos 80 do que isso, impossível!
Mas como eu disse em parágrafo anterior: não sejamos exigentes. E esse era justamente o maior barato para quem assistia cinema naqueles tempos. Pergunte a qualquer um que você conheça que viveu o mesmo período. Eles certamente lhe dirão: "eu daria tudo para viver isso de novo".
A bolha assassina é a cara do terror que se produzia no final dos anos 80 e início dos 90: ilógico, surreal, extraordinário em suas intenções, cheio de clichês os mais inverossímeis possíveis, prometendo relações sexuais que nunca iria entregar (pelo menos, não do jeito que nós realmente queríamos) e com desfechos totalmente loucos, quando não contraditórios. Some tudo isso rapidamente e o que vocês terão é: diversão, diversão e mais diversão. Pronto. Só falta juntar a pipoca e o refrigerante para concluir o programa da noite.
P.S: tenham agora, os distintos leitores deste texto, a dignidade de admitir: quantos de vocês viram essa pequena joia pela primeira vez no antigo Cinema em Casa, do SBT? Ah! Vai ter gente escondendo a idade. Ah se vai!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário