O Rio de Janeiro é realmente um estado surpreendente e nem sempre no bom sentido...
Estava me preparando para postar um artigo sobre outro tema nos grupos onde faço parte quando me deparo na tv com a inusitada notícia de que o projeto do deputado estadual Dionísio Lins (PP) de criação de um segundo carnaval na cidade em Julho, foi sancionado pelo governador interino Cláudio Castro (PSC) e publicado no Diário Oficial. Ou seja: já está valendo. E olha que a maioria dos cidadãos cariocas nem sabiam da existência de tal projeto!
Foi dado ao evento o nome de CarnaRio - carnaval fora de época - e foi criado com a intenção de estimular o turismo e criar novos postos de trabalho no período de férias escolares e acadêmicas. E é bom que se diga logo de cara, para os desavisados, que o carnaval fora de época já é uma realidade em outros estados do país, com um enorme sucesso.
Ainda não existem outras informações mais precisas sobre como será o evento, mas parece que o CarnaRio acontecerá todo ano na segunda quinzena de Julho, não afetando o carnaval oficial, que costuma ocorrer entre os meses de fevereiro ou março.
Detalhe: esta decisão foi tomada num período em que o Estado vive um combate à pandemia do Coronavírus e espera por uma vacina, logo uma decisão - para muitos brasileiros - um tanto quanto polêmica ou, ao menos, passiva de reflexão. O próprio presidente da LIESA (Liga independente das escolas de samba), Jorge Castanheira, foi pego de surpresa com a sanção do projeto, que prevê a participação das ligas, agremiações e blocos carnavalescos.
Eu já fui alvo de muito deboche toda vez que disse que o Carnaval, aqui no Brasil, há anos se transformou num outro tipo de festa. Uma festa que, dependendo do interesse de investidores e patrocinadores, pode ocorrer em qualquer época do ano. Basta que haja vontade política. E eis a confirmação de minhas impressões sobre o tema. Estou louco para encontrar na rua aqueles que volta e meia debochavam de mim, chamando-me de maluco ou sem noção.
Só não quero ser chamado de profeta, pois tudo na verdade não passa de uma grande obviedade em se tratando de um país como o nosso, fanático por lucros e arrecadações.
Zé Pereira, fundador do autêntico carnaval, certamente não sorriria se lesse uma notícia dessas. Pelo contrário. Teria recolhido seu bumbo e constatado por a mais b que o carnaval carioca acabou e faz tempo.
Trocamos a alegria das ruas pelo tumulto e os cordões de isolamento. O empurra-empurra e os xingamentos dos prepotentes que não aceitam nada que seja diferente deles dita o tom da festa. O samba e a marchinhas deram lugar ao "tudo junto e misturado". Quem quer funk, sertanejo, trilha sonora de cinema, música brega, techno, às vezes têm mais vez do que o próprio folião raiz.
E a Marquês de Sapucaí? Viu o samba no pé das passistas dar lugar a coreografias exóticas e aplausos à carros alegóricos gigantescos. E a última pessoa que tem voz no Sambódromo é o povo. Ele precisa, isso sim, obedecer o horário rígido dos cronômetros porque senão a agremiação cairá para uma série inferior e perderá o direito ao barracão e privilégios junto às emissoras de tv. E chamam isso de carnaval: uma festa para ser assistida e não curtida, sentida.
Nossos governantes mais uma vez fazem um aceno ao que verdadeiramente importa: suas carteiras e contas bancárias. E os empresários, parceiros para todo o sempre de suas tramoias tendenciosas, certamente irão agradecer. E muito.
Já ao rei Momo, anfitrião da festa, só lhe resta rebolar e entregar a chave ao prefeito. A partir de agora em dobro. E vai ter gente chamando isso de "O Rio de Janeiro está crescendo de novo"...
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