Já faz um tempo que eu quero escrever um texto sobre o mundo nerd, mas não encontrava um mote ou mesmo a disposição necessária para tanto. E digo isso porque o nerdismo, meus caros amigos e leitores, é um caso sério. Pode até parecer para muitos tratar-se de uma grupo de pessoas bobalhonas, fanáticas, infantilizadas, que não vivem no mundo real, mas acreditem: não é bem assim.
Os nerds são vistos por onde passam como alucinados ou excêntricos ou pessoas que, simplesmente, "não tem mais o que fazer da vida". E nos últimos anos a indústria cultural andou associando eles a conceitos e valores que, cá entre nós, não condizem com a cultura que eles representam.
Nos meus tempos de colégio (leia-se: segundo grau) havia a expressão CDF para aqueles que estudavam demais e essa expressão se tornou meio que precursora do mundo nerd. Hoje, eles podem até ser mais descolados e gerar o interesse de belas mulheres, mas no geral o conceito permanece. Continuo vendo o nerd como aquela pessoa obcecada por conhecimento, que não se basta com uma mera opinião ou informação na internet. Não, o nerd corre atrás, fuça, bagunça o coreto, desconstrói o que aprendeu e procura de novo e de novo e mais uma vez.
Em suma: trata-se de um indivíduo em eterno status de insatisfação (e, muitas vezes, se orgulha disso!).
E nesse sentido foi extremamente gratificante ler Enciclonérdia: almanaque da cultura nerd, da dupla Luís Flávio Fernandes e Rosana Rios. Ele, um geek por natureza (você não sabe o que significa geek? Honestamente... Você está lendo o texto errado!) e ela, uma autora reconhecida de literatura fantástica e infanto-juvenil (os americanos talvez prefiram o termo young adults). E dessa junção a priori estranha nasceu um grande manual para entendermos o básico desse universo. Sim, eu disse o básico, pois o mundo nerd é vasto e inesgotável.
E a dupla abre o volume já categorizando tudo aquilo que os leitores mais apaixonados do gênero irão encontrar nas páginas seguintes: brinquedos, desenhos animados, ciência e tecnologia, datas comemorativas, eventos nerds, gadgets, fã-clubes e comunidades, filmes, frases nerds, hqs, nerds famosos, seriados de televisão, etc, etc e muito, mas muito etc...
O livro mexeu até mesmo com minha deficiência em física e ciência em geral, que me acompanha desde os tempos de ensino fundamental (já devo ter dito isso em outros textos que escrevi, mas não custa nada repetir: sempre fui de humanas, minha praia mesmo era português, literatura, história e campos afins). E confesso que fiquei meio perdido quando me deparei com verbetes como wormhole, paradoxo do espaço-tempo e efeito doppler, entre outros.
Mas, ao mesmo tempo, foi importante também ir fuçar um pouco mais sobre o assunto na internet. Aliás, recomendo a leitura em versão online para que vocês acompanhem o livro com o google, no mínimo, aberto.
E afora os deslizes científicos de minha parte, o restante da obra é um deleite para fanáticos do gênero. É possível encontrar um pouco de tudo no almanaque: acelerador de partículas, action figures, adaptações de hqs para cinema, albuns de figurinhas, almanaques, animes e mangás, Área 51, Arquivo X, astronomia, super-heróis, Big bang, Blade Runner, calculadora, campus party, celular, computação gráfica, colecionismo, computadores, convenções, cosplays, corrida espacial, cyberpunk, dinossauros, dna, esperanto, extraterrestres, feiras medievais, filosofia, Bill Gates, google, gravidade, holodeck, holografia, internet, jedis, Steve Jobs, jogos de tabuleiro, lego, literatura fantástica, Microsoft, mitologia, monstros, mutação, realidade virtual, rede sociais, RPG, teletransporte, teoria da relatividade, universos paralelos, viagem no tempo, videogames, wikipédia, world wide web, xadrez, you tube, zumbis, ufa!, e muito mais.
Ao final da leitura, cansado mas repleto de novos conhecimentos, entendi porque os nerds incomodam tanto. Porque eles são os diferentes da história e escolheram ser isso. Escolheram não se submeter a uma bolha ideológica ou a algum tipo de algema social fabricada pelo modelo político a, a religião b ou a cultura c. Eles resolveram trilhar seu próprio caminho, fazer suas próprias escolhas, emitir sua própria opinião. E isso, num mundo castrador, como esse oferecido pelo novato século XXI, pode não parecer, mas é muita coisa!
Eu custei a me entender como nerd. Acreditei durante anos que não possuía a habilidade necessária ou tinha o tempo disponível para me tornar mais um membro do clã. Estava enganado. Na verdade, eu acabei me tornando mais nerd do que pensava. E isso não é nada mal. Não mesmo.
Pois qualquer pessoa hoje em dia que se proponha a decidir a sua própria vida ao invés de seguir padrões e dogmas alienantes, acreditem!, está na vanguarda da sociedade. E não importa o quanto lhes chamem de infantis ou inúteis para o "progresso da humanidade", eles continuarão seguindo em frente, incomodados e sedentos por informação e conhecimento.
Para saber mais sobre o livro e o assunto, acesse o site http://enciclonerdia.com.br/
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