quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Novembro negro


Mais uma vez a história se repete. No Brasil, a ignorância, o desleixo e as histórias macabras sempre se repetem numa sucessão infinita de mal estares da civilização...

E essa história em particular parece um daqueles dramas que o cineasta Ingmar Bergman fazia como ninguém só para nos deixar de cabelo em pé ao final da sessão. E eu, que sou calvo, me preocupo logo em perder os últimos fios. 

Mas vamos logo ao assunto, que é o que interessa aqui:

Que tristeza tudo isso que está acontecendo no Amapá nos últimos 17 dias! Prova de que nada aprendemos, nunca. com as recentes tragédias de Brumadinho - e o descaso da Vale do Rio doce -, o incêndio no Ninho do Urubu, CT de treinamento do Clube de Regatas Flamengo e o acidente aéreo que levou à morte os jogadores do Chapecoense. 

Em outras palavras (e como bem disse certa comentarista da CNN Brasil poucas horas atrás quando mencionava o caso): entram governantes, saem governantes, mudam propostas e nos vemos sempre diante da mesma proposta. No caso, o descaso. E eles, os donos do poder, continuam rindo da nossa cara e se reelegendo ad aeternum. 

Não bastasse o calor atroz no norte do país, que deve ter aumentado em tempos de incêndios na Amazônia, ainda por cima pessoas dignas lutam para colocar o feijão e o arroz na mesa, improvisando do jeito que dá, pois só podem mesmo contar com a luz do sol e nada mais. 

Ninguém dorme à noite. pois a tarefa é hercúlea e para corajosos do mais alto grau - as crianças que o digam! -; e aparelhos eletrodomésticos queimam de tanto liga e desliga e tanta incerteza. Pior: grande parcela da população vive em regime de extrema pobreza, quase sem eira nem beira. Logo, precisa dizer mais alguma coisa ou está implícito na tragédia cotidiana? 

Peçam aos moradores para que eles vão ao supermercado mais próximo. Perguntem-lhes sobre o teor da água que estão bebendo. Em suma: perguntem a esses sobreviventes "como vai indo a vida". Provavelmente a resposta será um misto de Mad Max com o romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. Sim, eu sei... É trágico. 

Um agravante para piorar ainda mais o que já é ruim na essência do problema: um juiz decretou a demissão das diretorias da Aneel e da ONS, responsáveis por "tentar" resolver o problema o mais rápido possível. De concreto mesmo nem a causa da tragédia. Há quem diga que tudo começou com um incêndio na principal subestação do Estado. E eu digo de concreto nada, pois os fatos - como sempre - estão "sendo apurados" (e é justamente dessa frase que eu sempre tenho medo no país). 

E enquanto o milagre não dá as caras, sobra ao povo o rodízio de energia (que me fez lembrar aqui no RJ aquela história do racionamento energético por causa da falta de água nas estações de tratamento, lembra? E a solução do governo, com as bandeiras vermelhas, amarelas e verdes, então? Que Deus nos acuda!)

É... 2020 cada vez mais se torna um ano histórico no pior sentido do termo. O ano que não começou e só deixou cicatrizes amargas e indeléveis por onde passou e continua passando. Sim, o ano ainda não acabou, não! Ou seja: vem mais por aí. Logo, o medo continuará por mais 40 dias. 

E lembram do "de concreto mesmo?". Então... Chego à conclusão de que em 2021 vai ter muito autor - de ficção e não-ficção - escrevendo sobre esse ano que nunca deveria ter começado e o que ele fez conosco. Podem me cobrar, quem quiser.


Sem comentários:

Enviar um comentário