segunda-feira, 1 de junho de 2020

O eterno caubói de hollywood


Embora a geração do meu pai que frequentou as salas de cinema veja na figura do ator John Wayne um símbolo da masculinidade americana e do heroísmo hollywoodiano, aqui em casa a história foi bem outra. Ele viu nas caras e bocas de Clint Eastwood, o eterno caubói e detetive durão, um sinônimo de excelência cinematográfica. Passava madrugadas e madrugadas assistindo seus filmes na Sessão de Gala e no Corujão (numa época em que a tv aberta passava coisa boa!). Ai de quem dissesse que Clint não era o fodão. E cá entre nós: eu o entendo perfeitamente. O cara é uma lenda.

Pois bem: onde quer que meu pai esteja (ele partiu para o outro plano tem mais de uma década) certamente ficaria orgulhoso da notícia que acabo de ler no site da Folha de São Paulo: Clint Eastwood completou 90 anos mais lúcido e relevante artisticamente do que nunca. E soube se reinventar como poucos na indústria. 

"Ele poderia ter sido um grande galã, se quisesse; era uma homem extremamente bonito", me disse certa vez uma senhora de seus 70 anos de idade dentro de um cinema em Copacabana. E era verdade. Procure pelos westerns no qual trabalhou - principalmente a trilogia na qual foi dirigido pelo mestre italiano Sergio Leone (um dos responsáveis por despertar o interesse de Clint em migrar para trás das câmeras).

Eu confesso que me deparei com ele cinematograficamente já mais tarde, quando encarnava o eterno detetive Dirty Harry e desafiava seus arqui-inimigos com sua extraordinária magnum 44 (que certamente não seria hoje tão famosa não fosse por ele) e aquele seu olhar de "você sabe que já morreu, não é mesmo?. Somente bem depois, por influência do meu pai, fui atrás de seus faroestes. E aqui destaco três, para cinéfilos ansiosos por dicas: Era uma vez no oeste, Os abutres têm fome e o seu último no gênero, o fantástico e vencedor de quatro Oscars Os imperdoáveis.

Detalhe: eu fui ao cinema assistir este último e me lembro dos outros espectadores na sala de projeção, todos bem mais velhos do que eu, me olhando de forma estranha, meio que se perguntando: "o que esse garoto está fazendo aqui?". Eu, que já naquele tempo, adorava filmes antigos e atores veteranos, não dei a mínima. Clint era foda e ponto (sem contar que estava muito bem acompanhado nesta película pelos magistrais Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris). Procurem o longa. Tenho certeza de que ficarão boquiabertos. 

De ídolo do faroeste americano e detetive policial linha dura à diretor de filmes memoráveis (que lhe renderam até hoje dois Oscars de direção). Na coluna da folha, escrita por Inácio Araújo, o autor menciona que ele se tornou "autor de uma hollywood tóxica". E está coberto de razão. Falou de eutanásia, mulas transportando drogas, guerra no Oriente Médio, tsunamis devastando cidades e até mesmo de terrorismo internacional.

Clint se provou um diretor interessantíssimo - prova de que aprendeu bem o ofício com seus mestres Don Siegel e Sergio Leone - e nunca fugiu de polêmicas (seu último longa, O caso de Richard Jewell, expôs uma repórter como oportunista e deu o que falar, sendo boicotado entre os indicados ao Oscar) e ousadias (até musical ele já dirigiu, com Jersey Boys: em busca da música). Gosto muito de seus dois longas de guerra A conquista da honra e As cartas de Iwo Jima, projetos ambiciosos que ele rodou paralelamente em 2006 numa idade em que os grandes diretores preferem descansar ou não arriscar tanto assim, e considero Sobre meninos e lobos (adaptado do romance de Dennis Lehane) um filme subestimado pela crítica. 

Em 2008 quando atuou e dirigiu em Gran Torino disse à imprensa que seria seu último longa atuando. E, no entanto, depois deste já participou de mais três (ou seja: em se tratando de aposentadoria é melhor não acreditar em sua palavra, pois ele mesmo pode queimar a própria língua). 

No seu perfil do IMDb e em sites sobre sétima arte não encontro informações sobre novos projetos dele, mas em se tratando de Clint isso não quer dizer absolutamente nada. Tenho certeza de que não demora muito e me depararei de novo com os créditos "A Malpaso production" na tela. É apenas uma questão de ter paciência. 

E como sei de antemão que parte de meus leitores vão me pedir um kit básico para conhecer a obra do mestre, segue abaixo uma lista básica de filmes indispensáveis de Mr. Eastwood (obs: os fãs da velha hollywood vão querer fuçar na filmografia completa dele depois. Podem me cobrar!): 

Por um punhado de dólares (1964)
Por uns dólares a mais (1965)
Três homens em conflito (1966)
O estranho que nós amamos (1971)
Perseguidor implacável (1971)
Doido para brigar... Louco para amar (1978)
Alcatraz: fuga impossível (1979)
Bronco Billy (1980)
Bird (1988)
Sobre meninos e lobos (2003)
Menina de ouro (2004) 

E isso é só um aperitivo, hein! 

Faltou falar alguma coisa? Faltou. Pedir que ele chegue ao centenário, como fez o também ótimo Kirk Douglas que nos deixou recentemente, e que continue nos propiciando experiências cinematográficas únicas. Vida longa, Clint!

Sem comentários:

Enviar um comentário