quarta-feira, 8 de abril de 2020

O pajé do teatro nacional


Primeiramente: longa vida ao mestre, sempre!

Leio em matéria do blog de Miguel Arcanjo no UOL entretenimento que o grande gênio do teatro brasileiro, José Celso Martinez Corrêa, completou neste 2020 83 anos. E a priori acho até pouco (já o considerava na casa dos 90 anos! enfim...), tamanha a sua representatividade para a história das artes cênicas nacionais. 

É difícil (digo mais: impossível) falar de teatro no Brasil sem mencionar o nome deste senhor que, por mais que seus detratores tentem, permanece um poço de lucidez e um marco de nossas artes. Certa vez li num livro sobre indústria cultural que os grandes artistas de nosso tempo e de todos os tempos são lembrados pela capacidade que têm de permanecerem relevantes e lúcidos. No caso de Zé Celso, acredito que a palavra relevância funcione como um adjetivo para seu talento, tamanho o seu papel na cultura desse país (que adora, infelizmente, virar as costas para a sua própria cultura). 

E se você, estudante, leitor ou interessado em teatro, não conhece ou nunca ouviu falar, pelo menos, das montagens de Zé Celso para O rei da vela (obra antropofágica do modernista Oswald de Andrade) e Roda viva (peça cult de Chico Buarque), que ganhou uma nova versão nos teatros recentemente, você não merece - mesmo! - terminar de ler este humilde artigo. 

Zé Celso, mais do que um encenador teatral e um reinventor de histórias, é o melhor exemplo de provocador que eu conheço neste país. Capaz de enfrentar as maiores guerras para defender suas ideais, vistos por muitos como "controversos". Nunca me esqueço de um documentário que assisti sobre a sua carreira artística, em que ele relacionava o poder estatal com o "foder cultural", numa analogia que deixou muitos espectadores dentro da sala de cinema de cabelo em pé, pensando: "quem é esse depravado?". 

A última grande polêmica que ouvi envolvendo ele foi o processo em que se meteu contra o empresário Sílvio Santos por conta da localização do Teatro Oficina em São Paulo. Uma discussão que envolvia até a possibilidade de demolição do espaço (o que seria, a meu ver, uma barbárie!). Contudo, isso não significa que Zé Celso esteja aposentado. Longe disso! Prova viva disso foi seu espetáculo Canudos, visto como visionário por grande parte da classe teatral, e que rendeu inclusive uma versão em DVD - feito raro no formato. 

Como muitos outros brasileiros lúcidos, Zé também se encontra em quarentena por conta da avalanche promovida pelo novo Covid-19. Mas podem ter certeza: sua mente deve estar fervilhando de novas ideias (e provocações). Podem dar tempo ao tempo e esperar a poeira baixar, que vem coisa boa aí. 

E, enquanto a poeira não baixa, uma certeza: certos artistas só envelhecem mesmo no papel. E quando se trata, então, de um pajé do teatro... Sai de baixo!

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