quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Depois do muro


O muro de Berlim caiu 30 anos atrás e, no entanto, o mundo não evoluiu... Ainda não.

Parece uma frase triste para começar um artigo e é, mas o mundo anda desse jeito mesmo: triste e cada vez mais difícil de engolir. Assisto a um programa de notícias na madrugada e ouço alemães da extrema direita falando em muros e restrições novamente no país. Angela Merkel que se cuide! Mais do que isso: gente dizendo que "antigamente era melhor". 

Aliás, essa frase "antigamente era melhor" aportou também por nossas terras. Gente sentindo saudade do que nunca viveu e orgulhoso da própria ignorância. 

Infelizmente somos um país que idolatra a própria falta de informação. Que vive de memes da internet e fake news nas redes sociais para se manter "por dentro" (eu sei, eu sei... você está pensando nas aspas; o Brasil tem andado nas aspas de uns anos para cá).

Gostaria muito de acreditar que o mundo contemporâneo será salvo por heróis e salvadores da pátria. Gostaria de dizer que eles estão quase chegando, que é questão de paciência. Mas não dá. Nunca acreditei em nenhum dos dois. Isso é coisa da Marvel, da DC e da eterna mania de transformarmos a política partidária naquilo que ela não é (e, honestamente, acho que nunca será). 

A noção de bolha, redoma, muito usada em décadas passadas, ganhou contornos tétricos neste século XXI. A humanidade anda cada vez mais distante da própria humanidade. Pior: bota a culpa de tudo nela própria. O problema é que essas pessoas, os acusadores, se esquecem de que também fazem parte do problema. Não adianta fugir, se fazer de vítima, ficar em cima do muro. "Ficar em cima do muro", já dizia um dos meus professores do segundo grau, também é se posicionar. Não se posicionar é uma forma de posição. Fútil, alienada, covarde, mas é. 

Tenho andado receoso pelas ruas, pensando no amanhã, se haverá amanhã, se a Amazônia sobreviverá à barbárie cometida contra ela, se a sociedade um dia tomará vergonha na cara e admitirá seus erros e más escolhas, se um dia a tão falada diversidade terá direito ao seu espaço, se deixaremos de odiar por tão pouca coisa... E não me vêm respostas à mente e isso é por demais assustador. 

Para onde quer que se olhe, Síria, México, França Venezuela, Hong Kong, Chile, Oriente Médio, a própria Alemanha, vejo problemas que já deveriam ter sido pelo menos contornados. Contudo, o ódio e a intolerância não o permitem. Eles aprisionam, impõem regras, mutilam quem pensa diferente. 

Se o mundo hoje fosse uma série de televisão, seria The Walking Dead. Estamos devorando e regurgitando uns aos outros e não nos damos conta disso. Tudo virou mentira (correção: chamam de pós-verdade agora; vai entender essa gente que cria conceitos!). 

Chego ao décimo parágrafo desse texto mais perdido do que quando comecei, mas ciente de que não sou o único habitante do planeta terra que está se sentindo assim. Sinto essa aura de niilismo no ar, pairando sobre muita gente ao redor do mundo. Quando digo que ando descrente de muita coisa hoje em dia e ouço os eternos covardes de sempre me acusando de traidor, de canalha, de radical, tenho a consciência legítima de que minha descrença é uma grande forma de lucidez. Já a raiva e prepotência de meus adversários e algozes... Serve pra quê mesmo?

Espero que no meu próximo artigo da série "reflexões" os ânimos estejam melhores, porque do jeito que a coisa vai... não sei não!

E como não quero terminar essa jornada literária falando impropérios ou desistindo de tudo (até mesmo da esperança), peço aos leitores desse texto que sobrevivamos a mais dias. Como sobrevivemos a este. 

Afinal, nesse momento é o que nos restou de verdadeiro.

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