domingo, 21 de janeiro de 2024

Rito de passagem? uma ova!


Depois que vi no cinema A sociedade dos poetas mortos, de Peter Weir, lá pelos idos de 1990, passei a rever completamente o meu conceito sobre educação e, principalmente, sobre as instituições de ensino. E desde já digo aqui nesse post que sou muito grato por isso. Fui um aluno que olhava a própria escola onde estudou até a página 2, pois acreditava (e ainda acredito) que todo aluno precisa ter uma formação fora dos bancos acadêmicos. Além disso, escolas - e faculdades não fogem disso também! - são territórios repletos de feudos, guetos, turminhas, muita maldade e esnobismo e também de perspicácia (para conseguir sobreviver a tudo isso).

Tem quem chame isso de rito de passagem. Eu acho essa uma definição simplória e um tanto inadequada. 

E por que me lembrei dessa época tão distante? Porque meio que revivi esse sentimento cheio de antagonismos ao assistir hoje, enfim, ao tão famigerado Saltburn, novo longa da diretora Emerald Fennell. 

Em muitos aspectos me vi na figura do jovem e de poucas palavras Oliver Quick (Barry Keoghan), o aluno bolsista de Oxford, na maioria das vezes alvo número 1 das chacotas da burguesia londrina que nunca perdoa quem não pertence ao seu meio e faz questão de deixar claro qual é o seu lugar naquele mundo. Oliver precisa se formar, pois é sua única chance de chegar a algum lugar no mundo real, fora das paredes daquela instituição dissimulada. Isso até conhecer Felix Catton (Jacob Elordi).

Ele se encanta pelo universo apaixonante - e viril - daquele belo rapaz privilegiado que não precisa fazer o menor esforço para chegar aonde precisa. E quando é convidado pelo mesmo para conhecer Saltburn, a residência de sua família, ele vê naquilo uma porta de acesso única a um lugar que, até então, imaginava como um mero sonho (ou delírio). 

Mas lembram do que eu falei no primeiro parágrafo? O lance de olhar a escola até a página 2? Pois bem... Nunca sabemos de fato no que as pessoas - principalmente as paixões à primeira vista, nossos colegas de longa data e também os esquisitos da sala - vão se tornar. Seres humanos são grandes incógnitas e pessoas como Oliver costumam ser desmascaradas com o passar do tempo. Elas nunca são unilaterais. 

Como pano de fundo à descoberta das reais intenções do "menino excêntrico", a família de Felix, repleta de esnobes, exibicionistas, pessoas que não estão nem aí para o mundo real (pois vivem numa redoma, intocáveis - aparentemente - a tudo e todos), incluindo os agregados, os que nem sangue azul possuem e, mesmo assim, não perdem a chance de menosprezar os demais. E a consequência do embate entre essas duas realidades costuma ser catastrófica. 

Emerald Fennell já havia mostrado bastante dessa sociedade obscura e sem limites no anterior e também interessante Bela Vingança. Porém, aqui, ele decide entornar o caldo de vez e expor as fragilidades em forma de confiança de ambos os lados. Sim, em ambos os territórios, seja você o ricaço ou o sobrevivente, nota-se o quanto não passamos de criaturas frágeis, contraditórias e capaz de qualquer coisa para aniquilar o adversário (seja ele quem for). 

Continuo acreditando que a diretora está quase no ponto, pois ela precisa aprender a produzir finais melhores, mas quer saber? Quem sou eu pra bancar o chato? É apenas o segundo longa da moça. O importante, por ora, é: ele está no caminho. E em tempos de hollywood perdendo tempo com tanta bobagem e sendo chamado de gênio, acreditem!, este é um baita elogio.   

Fico por aqui, pois não vou ensinar o caminho das pedras à cinéfilos de primeira viagem que acham que cinema se resume a Disney, Marvel, DC, Star Wars e criaturas sobrenaturais. E, além disso, vocês já estão bem grandinhos para se permitirem novas experiências e saírem da zona de conforto (e nesse sentido Saltburn é, sim, uma interessante proposta). Quem gosta de mesmice, meus caros leitores, é fanático religioso e esse blog não foi criado para esse tipo de gente. Não mesmo.

Agora é com vocês, arrisquem-se!


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