segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A marchinha carnavalesca de 2024?


O ano de 2023 acabou? Em tese, sim. Mas oficialmente mesmo, como todo mundo sabe de cor e salteado neste país, só depois do carnaval. E ele aos pouquinhos vai dando as caras na cidade do Rio de Janeiro. Já começaram os primeiros ensaios técnicos na Marques de Sapucaí e alguns blocos matreiros enfrentam as exigências da prefeitura e saem por aí, de forma até ilegal.  

Não adianta. A festa de momo está no dna do brasileiro raiz que não vê a hora de poder cair na farra, viajar, etc. A possibilidade de fazer fuzarca nas ruas, beber todas, flertar, se fantasiar de personagens inusitados é algo único... É aquele momento "hora de chutar o balde e esquecer dos problemas" de todo ano. 

E quando se pensa em carnaval no Brasil, difícil não lembrar das marchinhas que embalaram multidões, como "A cabeleira do Zezé", "Me dá um dinheiro aí", "Ó abre alas", "Allah-la-ô", "Mamãe eu quero" e "Turma do funil", dentre vários clássicos. É verdade que nos tempos atuais elas perderam parte do seu prestígio na medida em que uma nova geração de compositores não surgiu para reciclar e reinventar o formato. Contudo, o mestre dos hits carnavalescos, João Roberto Kelly, ainda se encontra entre nós e atualíssimo, aprontando das suas.  

Prova viva disso é sua mais nova criação, Romeu ou Julieta, interpretada pela cantora Maria Alcina, puro retrato da androginia carioca e a cara viva dessa época do ano. E a letra promete incomodar aos mais puritanos, entrando de sola na questão da sexualidade (tema que virou tabu nos últimos anos por conta da onda conservadora que anda enchendo o saco da sociedade, cheia de não me toques, protestos e boicotes).

Eis abaixo a letra, cheia de melindres e "segundas intenções":


“Adivinhe quem quiser

 Se sou homem ou mulher

 Eu sou mistura de Romeu com Julieta

 Eu sou a cara do futuro do planeta…

Se você me quiser

Tem que ser do jeito que eu vier"


Eu já imagino a cara e os discursos revoltados de certos líderes religiosos enfadonhos e políticos demagogos, que devem até tentar proibir a veiculação da música em algum momento. Vai adiantar? Duvido muito. O povo brasileiro, que só faz aquilo que quer e quando bem quer, provavelmente irá cantá-la nas ruas, fará coro nos blocos de empolgação, nem que seja para provocar ou irritar os chamados falsos cristãos e cidadãos de bem. 

Que chegue logo fevereiro para pormos à prova o potencial de rebeldia da marchinha sacana na boca dos foliões debochados e loucos para enfrentar a horda moralista! Será ela o hit de 2024? Só o tempo dirá. Aguardemos o próximo capítulo dessa história... 


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