Encontrei uma edição de Música para antropomorfos, de Fábio Zimbres, numa banca de livros de segunda mão em frente ao Norte Shopping por módicos 5 reais. E que presente de começo de ano! Estava atrás desse épico underground desde que foi lançado em 2006, sem sucesso.
O projeto é uma parceria de Zimbres com a banda de rock goiana Mechanics, que lançou um álbum com 15 faixas no mesmo período (por sinal, procurem no you tube que tem o arquivo de áudio completo!). E ao fim da leitura - e audição - a sensação que me ficou dessa combinação foi uma representação légitima do caos cotidiano em que vivemos, com toques de sci-fi e grafites paulistanos da melhor categoria.
Preparem-se para tudo, principalmente para o nonsense puro e hardcore. No mundo criado por Zimbres dividimos nossa atenção entre duas cidades-robôs ou fortalezas andantes: SP (San Paolo) e SF (San Francesco). Já na prática, o que vislumbramos nas páginas em preto-e-branco são núcleos da mais pura violência e estupidez humana.
Pessoas mudam de caráter como mudam de roupa; pântanos, florestas, desertos e campos povoados por jacarés musculosos, vacas amáveis e cães sem cabeça. Aliás, eu falei em vaca? Uma delas é o protótipo vivo da tirania, faz gato e sapato dos seus subalternos e dirige sua empresa com mãos de ferro. Há, inclusive, uma subtrama interessante envolvendo o papel das editoras no mundo contemporâneo que me fez pensar aqui nesses leitores de mediocridade pop que fazem tanto sucesso na internet.
Resumindo: Em Música para antropomorfos o caos já chegou faz tempo e você nem percebeu, porque estava preocupado demais com o seu próprio umbigo e a própria vaidade fútil, regada a reality shows desnecessários e modismos atrozes. Deu no que deu.
E, se puderem, não esqueçam (mesmo!) de ouvir as faixas do álbum musical. A voz rascante do vocalista da banda dialoga - e muito! - com o clima desesperado e apocalíptico da trama surrealista proposta.
De resto, só mais uma puxada de orelha na Marvel e DC (coisa que faço com bastante frequência neste blog): esse tipo de material vocês não oferecem para o seu público, não é mesmo? Pois deveriam. Porque esse negócio de engajamento, divas e hype, cá pra nós, já deu o que tinha que dar faz tempo.
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