quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Uma fenda no tempo musical


Alguns discos - memoráveis, é bom que se diga! - nos fazem sair pela pista de dança bailando, alucinados. Já outros, fora do óbvio, ao final da ultima faixa nos remetem a sentimentos como "que porra é essa?" e nos deixam sem chão. E há ainda um terceiro grupo: o daqueles que são verdadeiras e incontestáveis experiências sonoras, únicas, ímpares.

The dark side of the moon, álbum clássico da banda Pink Floyd que completa 50 anos em 2023 e permanece autêntico da primeira à última faixa, certamente faz parte deste terceiro time e com folga.

A primeira vez que eu o ouvi - e eu tinha um pouco mais de 14 anos, estudante do ensino médio, garimpando livros e discos em sebos - acreditei se tratar de uma grande viagem interplanetária rumo a um mundo inexplorado. Na segunda, refiz minha analise e pensei: "Não. Trata-se de uma fenda no tempo em forma de música, isso sim". E de lá pra cá venho meio que desconstruindo essa ideia.

Em meio a guitarras elétricas inebriantes, vemos outros elementos (alguns deles não necessariamente partes integrantes do universo musical) ganhando protagonismo e fazendo meu cérebro se perguntar a todo momento porque estão ali.

Refiro-me aos relógios despertadores em "Time" (com folga a música mais famosa e interessante do disco), a voz inebriante e poderosa da backing vocal em "The great gig in the sky" e da máquina registradora contabilizando cifras em "Money". Esses sons não roubam a cena. Pelo contrário: complementam ideias. 

E o Pink Floyd, no quesito rock n' roll, sempre esteve muito além da alegria festiva dos Beatles, do hard rock do Led Zeppelin bem como do mais sujo heavy metal. Em outras palavras: eles sempre foram experimentais em essência. Essa sempre foi a grande marca registrada da banda e mesmo depois que os integrantes seguiram em carreira solo.

No caso de Dark side ele poderia com todo mérito, se quisesse, se tornar a trilha sonora de qualquer longa cinematográfico de ficção científica das décadas de 1980 e 1990. Assistiria tranquilo filmes como Tron e Outland: comando titânico embalado por essas canções que fogem à primeira (e segunda vista) de qualquer convenção social.

Sim, The dark side of the moon divide opiniões entre roqueiros clássicos e moderninhos. E cá entre nós: está tudo bem. Acho até louvável essa postura do trabalho. Para os não iniciados na banda demanda tempo e eu recomendo a esses que comecem por outros trabalhos. É preciso uma audição prévia do grupo para entender quais as intenções aqui. 

Mas depois que você, ouvinte, pega o jeito e deslancha... ah! é um deleite. 

Li hoje um artigo na revista Rolling Stone que diz que o ano de 2023 foi meio que inicializador de muitas bandas e boas ideias acerca do rock (dentre elas, este disco). Logo, procurem. Deem uma chance a essa inovadora revolução. 

Até porque se levarmos em consideração o que a indústria fonográfica virou nos últimos anos, com tanta voz deturpada por autotune e tanta coreografia distraindo o público, não é todo dia que trabalhos inusitados como esse acontecem. E chamam tanta atenção.    


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