Mal ligo o computador e a primeira informação que vejo no twitter é a de que a cantora Janis Joplin, se viva, estaria comemorando 80 anos de idade. Infelizmente ela nos deixou muito cedo (aos 27 anos, vítima de uma overdose de heroína) e os fãs até hoje choram copiosamente.
E tudo porque Janis, mesmo para aqueles que não curtiam o seu estilo musical ou maneira de cantar, era a voz por excelência. Tem inclusive quem diga que ela "cantava com a alma", por isso levou a música - e o rock - a um outro patamar. Em outras palavras: ela ajudou a construir a ideia do gênero como revolucionário, à frente do seu próprio tempo.
Porém, é preciso perguntar aos desavisados: você já ouviu Janis Joplin, nem que seja apenas uma mísera vez? Mas ouviu mesmo, sentindo cada palavra escandida em seu corpo e em seu coração? Caso ainda não tenha tido a honra, não sabe o que está perdendo. Não mesmo.
É difícil classificar uma voz como a dela. Rebeldia que chama? Não, isso simplesmente não explica o que foi Janis. Quando assisti o filme A rosa, de Mark Rydell (1979), no qual a atriz Bette Midler interpreta Janis numa atuação indicada ao Oscar, entendi imediatamente - embora tenha gostado muito do longa - que, fosse quem fosse a atriz intérprete, não emularia 10% do que ela representou.
Ouçam, quando tiverem tempo, em algum you tube ou streaming da vida, canções como "Me and Bobby McGee", "Summertime", "Piece of my heart", "Cry baby", "Down on me" (isso para ficar no básico, pois o repertório dela era ímpar) e, se possível, ouçam de novo e de novo.
Entendam aquela voz, tentem fazer com que ela faça parte do seu mundo particular. Janis, assim como Elis Regina aqui no Brasil, foi das poucas que conseguiu fazer isso ao longo da carreira. Fez de seu canto uma terapia pessoal para muitos, uma experiência de vida. Ouvir Janis cantar era mais, muito mais, do que mero entretenimento. Queríamos, no fundo, conseguir fazer o mesmo (mesmo sabendo que era impossível).
Após sua morte, trágica, ela meio que virou uma lenda urbana em tempo integral. São muitas as histórias sobre ela, verídicas ou não. Alguns afirmam que em seu testamento ela reservara a quantia de 2,5 milhões de dólares para que dessem uma festa após sua morte. Outros dizem que ela abominava maconha, LSD e alucinógenos em geral, pois essas substâncias a faziam pensar demais (e ela queria era esquecer tudo). Outro 'caso famoso' foi seu relacionamento com o roqueiro brazuca Serguei. Foi eleita - acreditem! - o homem mais feio da universidade onde estudou e colegas do campus ainda alegavam que ela traficava maconha com extrema perícia.
Sim, a menina que se encantou com Bessie Smith (dizia que era sua maior influência) e que defendeu o blues até a morte, mesmo contra os roqueiros mais ferrenhos, era do balacobaco. E era justamente essa capacidade de se reinventar, ousar, virar o mundo de ponta cabeça, que virou sua marca registrada com o passar das décadas. Em suma: ela virou sinônimo de tudo o que era mais improvável.
Infelizmente, Joplin não deixou uma herdeira à sua altura. Houve um momento que eu cheguei a acreditar que a cantora Amy Winehouse (também morta aos 27 anos, que ironia!) pudesse ser essa pessoa... Mas não. Eram vozes extraordinárias, mas cada uma em seu elemento único. Seria um crime compará-las.
Sobrou, para a felicidade dos fãs da boa música (em tempos de ridículo sonoro e artistas que não passam de reboladores de bundas e imitadores vazios), o legado discográfico. Então repito, aos que conhecem a cantora ou não: ouçam Janis Joplin. Mas ouçam agora, nesse exato momento. Aproveitem esse dia para descobrir aquela que, para muitos, é a maior roqueira que o mundo já viu. Afinal de contas, são 53 anos que ela partiu. E ela continua de uma relevância assustadora na cultura pop.
E agora que já dei a dica, corre e liga o player. De preferência, no volume mais alto. Aposto que vocês vão me agradecer depois.
Sem comentários:
Enviar um comentário