Eu assisto Os simpsons desde que vi na tv o anúncio da primeira temporada. Mas tem um detalhe: nunca assisti à série animada, criada por Matt Groening, por causa da família protagonista. Homer, Marge, Bart, Lisa e Meg (e, claro, o gato e o cachorro, o ajudante de papai noel) são completos coadjuvantes no quesito "meu interesse".
Do que eu gosto mesmo em Os Simpsons é a cidade, Springfield.
É uma cidade que você olha de longe e imagina o paraíso, um lugar pacífico, irretocável, onde todos gostariam de morar. Mas essa é apenas a primeira de muitas impressões que virão logo a seguir.
Quando olhamos Springfield uma segunda, uma terceira, uma décima vez e daí por diante, nos damos conta da grande paranoia que é essa cidade. E ainda assim ela fica mais divertida. Mesmo.
O agente policial é das figuras mais sem noção que uma corporação policial já viu em todos os tempos e tem um filho ainda mais tapado do que ele. O dono do botequim, Moe, é um misto de velho rabugento com tresloucado da hora. E quando ouve os trotes do Bart sai do sério de uma forma nada convencional. O dono da loja de conveniência, o indiano, é daquelas pessoas que nós certamente já vimos pelo menos uma vez na vida em algum estabelecimento comercial de pequeno porte. A figura humorística ou infantil da cidade, o palhaço Krusty, remete à grandes psicopatas que se vestiram de palhaço na história do cinema, como Pennywise de It, criação do escritor Stephen King.
E isso sem contar - e ele merece um capítulo próprio neste texto - o milionário ranzinza e dono da usina nuclear onde Homer trabalha, Montgomery Burns. E várias vezes eu me peguei pensando no quanto numa live action, se bem escolhido o ator, aquele personagem poderia render uma indicação ao Oscar. Sua mescla de ganância e soberba, se bem desconstruída, pode levar a um personagem cheio de nuances.
Outra figura toda particular é o vizinho dos Simpsons, Ned Flanders (que já tem, inclusive, um versão live action própria: o ator William H. Macy). Cristão acima de tudo, vive numa realidade própria com a família e vê o mundo como um lugar que quer estragar tudo aquilo no qual ele acredita. Em seu íntimo, embora engraçadíssimo com suas tiradas fora de hora, é quase um surtado.
Na escola, enquanto as crianças fabricam o seu próprio pandemônio, Lisa tenta impor uma pauta ecológica e feminista (mesmo sem obter o menor sucesso) e o diretor Skinner vive à sombra da mãe e de relacionamentos vazios, o que fazem com que ele se transforme num marionete do sistema.
Isso sem contar as viagens que volta e meia a família protagonista faz em férias completamente inusitadas e cheias de acidentes de percurso. Até no Brasil já estiveram, num episódio que ganhou ares de polêmico e que desagradou grande parte da população.
Os Simpsons também foi responsável por fazer muitas "previsões" ao longo de suas mais de 30 temporadas (isso mesmo: a série encontra-se na temporada 31). E nesse aspecto rivaliza com a parte II da trilogia De volta para o futuro, de Robert Zemeckis, que também ganhou notoriedade com o passar dos anos por conta disso.
Em suma: da abertura do programa, completamente louca (e que já teve uma versão produzida com atores reais) até o créditos finais, cheios de ironias e musiquinhas estilosas, Os simpsons - e principalmente Springfield - se tornaram, pelo menos para mim, numa grande alegoria sobre a loucura humana que habita no seio de qualquer sociedade. Pena que muitos fãs não deem bola para isso e, em alguns casos, só assistam os episódios à espera de participações especiais de atores hollywoodianos e astros da música!
Eu, ao contrário, penso que a série quando chegar ao seu fim será estudada até por intelectuais de renome. Podem esperar...
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