domingo, 30 de setembro de 2018

A diva eterna


Eu, infelizmente, não faço parte da geração que apreciou o auge da cantora Ângela Maria (quando comecei a entender o que era Música popular brasileira ela já era uma cantora renomada e vivia uma vida confortável, longe das ousadias que marcam o tempo áureo de sua carreira), mas pertenci a uma família que soube cultuá-la como ninguém. Que a enxergam anos-luz da musa que cantava "Babalu", seu maior sucesso até hoje. 

Hoje, para minha tristeza, fico sabendo que a cantora faleceu na noite de ontem, aos 89 anos. Agnaldo Timóteo, amigo de longa data e praticamente alma gêmea da diva, e sua cidade natal, Conceição de Macacu, devem estar aos prantos! 

Da menina de 12 anos que cantava no coro da Igreja Batista até a considerada "rainha do rádio", vai uma saga que certamente daria um filme (e não duvido nada que, em breve, saia alguma coisa sobre ela). Ângela fugiu de muitos cultos para participar de inúmeros programas de calouros (donde saiu vitoriosa de vários). Escondeu seus prêmios para que os pais não vissem, mas não conseguiu fazer o mesmo com o seu talento. Ainda bem, pois teríamos perdido uma de nossas melhores vozes. 

Seu primeiro álbum data de 1951 e além de "Babalu" já traria muitos de seus eternos sucessos, como "Moça bonita", "Cinderela", "A noite e a despedida", "Lábios de mel", dentre tantos. Foram mais de seis décadas de gravações para o mercado fonográfico, construído um legado que certamente a colocou no panteão dos melhores da canção, ao lado de artistas como Cauby Peixoto, Orlando Silva, Dolores Duran, Isaurinha Garcia, entre tantos outros. 

Nos últimos anos vinha lutando contra as sequelas provenientes da idade avançada e da vida atribulada como artista. Quase surda, pouca capacidade auditiva, Ângela tornara-se apenas refém da imagem que construiu ao longo de décadas de estrelato. 

Para aqueles que não conhecem sua vida e obra e têm imensa curiosidade sobre a diva das divas recomendo a excelente biografia do crítico musical e jornalista Rodrigo Faour, Ângela Maria: a eterna cantora do Brasil. Um espetáculo cênico e lírico em forma de livro!

O falecimento de Ângela Maria vem a empobrecer ainda mais o já frágil e contraditório momento que vive nossa música popular, com artistas careteiros, de vozes insignificantes e esganiçadas, sempre exibindo seus corpos disformes e fora de contexto e que personificam compositores de quinta categoria (muitas vezes acho até uma grande ofensa chamá-los de letristas). 

Realmente vivemos um triste momento no país... Em todos os sentidos.

Que a imagem que trago dela cantando em programas saudosos como Clube do Bolinha e Cassino do Chacrinha quando era um menino de 15, 16 anos, sentado no sofá da sala da casa da minha avó, traga novas luzes para esse país obscurecido pelo ódio e pela intolerância. 

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