quarta-feira, 28 de maio de 2025

...e o boxe nunca mais foi o mesmo!


O mundo do boxe costuma dizer que o confronto entre Muhammad Ali e George Foreman em 30 de outubro de 1974, no Zaire, foi o ato definitivo do esporte. Alguns chegam a dizer que nunca mais algo do tipo existirá (e é provável, em tempos de UFC e lutas fakes, arranjadas, entre subcelebridades e lutadores aposentados). Meu pai sempre se lembrava do combate com um brilho nos olhos. "Nunca mais haverá outro Ali", dizia ele sempre.

Passei anos querendo entender o que foi aquele duelo. Nasci em 1976 e só me restavam as imagens de arquivos e livros sobre esportes. Mais do que isso: queria me deparar com um material que traduzisse o que foi aquele período, que mostrasse a rotina de treinamentos, as dúvidas e escolhas de ambos os lutadores, o papel da mídia ao vender a luta, etc... E por muito tempo não cheguei nem perto de ler (ou ver) algo do tipo.

Até me deparar, essa semana, com o exuberante A luta, do consagrado escritor Norman Mailer.

Sempre fui fã de Mailer por conta de sua ironia fina e seu sarcasmo sempre bem vindo em narrativas fortes, como Os nus e os mortos, Marilyn, A canção do carrasco e Um sonho americano. Ele faz parte de uma galeria de ficcionistas irretocáveis que deveria ser leitura obrigatória na vida de qualquer leitor que se preze.

Em A Luta, ele promove um grande ensaio inesquecível sobre uma era que, infelizmente, já se foi. Mais do que a rivalidade entre dois gigantes dos ringues, o livro nos traz uma investigação profunda sobre duas personalidades metódicas rodeadas por uma imprensa ácida, sempre a postos para jogar um contra o outro, além do próprio staff de cada um deles, que compunha um retrato do que era os Estados Unidos daquela época.

Em alguns momentos caí na gargalhada, em outros me enfureci com a postura de certos agentes que tornaram essa luta um marco histórico sem igual, e em outros ainda fiquei estático com a narrativa precisa - e quase mediúnica - de seu autor. E que autor!

Recomendo a leitura não somente para amantes do boxe ou esportes em geral, mas também para fãs de jornalismo investigativo e que sabem apreciar uma pesquisa bem feita!

Excepcional. 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

R.I.P Sebastião Salgado


Mais uma perda que não dá pra explicar em palavras essa de hoje... Mas, mesmo assim, vou tentar. Seja o que Deus quiser.

Há uma famosa frase que diz que "uma imagem vale mais do que mil palavras" e eu sempre desacreditei dela. Mas, em se tratando do fotógrafo Sebastião Salgado, que faleceu aos 81 anos, em Paris, é difícil não corroborar tal afirmação. Ele era, sim, um narrador das imagens. E para mim cabe no mesmo panteão de grande gênios da fotografia, como Robert Capa e Cartier-Bresson.

Eu sempre me perguntava, toda vez que via as fotos dele em exposições ou livros, como ele conseguia chegar até aqueles lugares, vários deles inóspitos. Muitas vezes parecia impossível só de imaginar a cena. E acreditem: ele sempre voltava com a foto. E que foto!

Entre seus livros publicados, tenho uma predileção doentia por Gênesis. Na primeira vez que eu o folhei, dentro de uma antiga livraria saraiva, cheguei a pensar que fossem montagens feitas por photoshop. Parecia-me improvável, à primeira vista, estar diante de um trabalho humano. Estava redondamente enganado.

Quando assisti o documentário O sal da terra (2014), sobre sua vida e obra, dirigido por Juliano Ribeiro e Wim Wenders, fiquei perplexo com seu nível de exigência e perfeccionismo. E também sua gentileza e modos simples. Na mesma hora me peguei falando: "eu jamais conseguiria construir uma carreira como a dele". Era gigantesco demais tudo aquilo.

Não à toa está sendo homenageado hoje pelos grandes nomes da arte de produzir grandes imagens. Ver as fotos de Sebastião era tão impactante quanto assistir a um longa-metragem realizado pelos maiores mestres da sétima arte. E ele foi muito celebrado no exterior - com todos os méritos.

Perde, com sua partida, não somente a fotografia brasileira (e internacional), como também a arte de uma forma geral. Sebastião Salgado foi um mago das lentes, um fotojornalista afiado e, principalmente, um criador de mundos como poucos. Vai fazer muita falta em tempos tão negros e distópicos como esse em que vivemos. 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Um clássico revisitado com estilo (e sem modinhas)


Drácula, de Bram Stoker, é daquelas obras-primas literárias que dá gosto chamar de "clássico dos clássicos". Transformou o personagem do vampiro numa quase entidade universal, e não à toa tanta gente já bebeu nessa fonte e a desconstrói em inúmeros formatos. Mas sempre ficava pensando no que poderia sair disso se fosse transposta para a nona arte. Continuaria valendo a pena? Pois é...

Encontro numa livraria menos conhecida do grande público aqui no RJ uma adaptação da obra para o formato quadrinhos, ilustrada por Matt Pagett. Esperava um espetáculo de cores acachapantes ou um visual meio estilo mangá - bem ao gosto das novas gerações -, mas confesso que fui pego de surpresa. 

Deparei-me com um artista que respeita o clássico em todos os níveis possíveis e imagináveis. E isso é raro de se ver hoje em dia!

Esqueçam as adaptações cinematográficas, o clássico da Hammer films, o show à parte da versão dirigida por Francis Ford Coppola... Aqui o artista prefere tons mais sóbrios, em alguns momentos até pasteis, e parte para uma versão mais fiel ao livro. E se sai bem na escolha, é bom avisar de antemão.

Acompanhamos Jonathan Harker viajando para a mansão do Conde e sendo subjugado por sua aura misteriosa. Testemunhamos a barbárie dentro do Demeter, que traz Drácula à metrópole. Fico impressionado com a descrição de Reinfeld, seu dileto escravo, uma das melhores que eu li até hoje. Em suma: me deslumbro com o capricho da edição, sem apelar para arroubos e megalomanias (algo que tem estragado - e muito! - grande parte da cultura pop).

Ao fim da leitura, uma certeza: o mercado editorial merece mais trabalhos como esse, ao invés dessa modinha de adaptações livres e invencionices descabidas, que muitas vezes só servem para estragar o original e produzir modas passageiras. 

Leiam! Vale muito a pena e foge do padrão super-heróis que já cansou a minha paciência faz tempo...

quinta-feira, 8 de maio de 2025

100 anos de um clássico (soviético e mundial)


Acho uma covardia. Sério!

Muito se fala em meio a cinefilia mundial da grande revolução promovida pelo clássico hollywoodiano Cidadão Kane, de Orson Welles. Do quanto ele levou a narrativa cinematográfica para outro patamar, introduzindo uma nova estética, uma nova forma de se pensar a sétima arte. Honestamente... Deveriam dizer o mesmo, com todas as letras e vírgulas, da extraordinária obra-prima soviética O encouraçado Potemkin, do diretor Serguei Eisenstein. Só que eu não tenho essa impressão.

O filme de Eisenstein é, mais do que um mero longa, um estudo de caso. Sua premissa, que se dá com um protesto por causa de carnes estragadas servidas aos marujos de um navio durante um jantar, o que gera uma rebelião de proporções catastróficas, vai além do mero ato político em si. Indignados com os maus tratos sofridos, eles decidem levar a revolução no navio até a sua terra natal, a cidade de Odessa, transformando o local numa batalha campal.

O encouraçado Potemkin é a primeira obra-prima do cinema que assisti, ainda moleque (acho que tinha uns 13 anos) e até hoje fico deslumbrado - mesmo passado um século de sua existência - com seu pioneirismo e arrojo estético. 

Ele é o melhor exemplo do que eu tenho chamado em conversas com espectadores das novas gerações nos últimos anos de cinema a manivela, sem o facilitador cruel dos efeitos especiais, do chroma key artificial, do inútil 3D e outras intervenções tecnológicas, que só estão interessadas mesmo em encarecer a experiência fílmica.

Mais do que isso: fico imaginando o Eisenstein vivo hoje, realizando essa façanha em meio a um mercado que perde tempo com Barbies, franquias vazias, filmes sobre tênis e brinquedos, além de excessivos engajamentos e empoderamentos rasos. Cá entre nós... Ele ainda seria uma lenda do cinema.  

Potemkin é um clássico soviético, mundial e universal. Deveria fazer parte da vida cinéfila de qualquer amante de cinema que se preze. E ainda assim tem nerdola que sequer o conhece e ainda quer pagar de entendido na área pra cima dos outros. Fala sério! Que esse breve post sirva de motivação para que essa rapaziada dê uma chance a esse épico, tão gigantesco - ou mais - do que E o vento levou. Tem disponível no you tube.


quinta-feira, 1 de maio de 2025

Andy Warhol: mais pop do que nunca


Ele tornou a expressão "15 minutos de fama" uma marca registrada ao redor do mundo e muitas de suas inovações estéticas e visuais se tornaram não só pioneiras como referências para este século XXI repleto de imagens e famosos saindo pelos poros. Falo, logicamente, do multiartista Andy Warhol, cuja exposição Pop Art - a maior realizada sobre ele até hoje fora dos EUA - estreou no Museu de Arte Brasileira da FAAP.

Falar de Warhol rende um ensaio rebuscado (coisa que eu certamente não poderei fazer aqui, nesse mísero post). Ele foi polêmico até dizer chega, uma quase mistura de plágio com tendências inovadoras. Bob Dylan tinha bronca dele e eu entendo o porquê. Era fácil para Warhol ser Warhol, mas não se pode dizer o mesmo de quem acompanhou o trabalho dele, de quem o resenhava de tempos em tempos.

Nas famosas fábricas - os ateliês onde realizava suas provocações artísticas e estéticas - ele reinventou, de certa forma, os EUA e a própria ideia de arte. Rompeu com parâmetros que muitos consideravam impossíveis de se ir além. Conviveu de perto com muitas das mulheres mais bonitas do mundo da moda, bem como personalidades as mais distintas. 

Na expo brazuca veremos mais de 600 trabalhos trazidos diretamente do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh (o maior museu dedicado a um único artista nos EUA), uma retrospectiva inédita com trabalhos de todas as fases da carreira do rei da Pop Art.  

Entre os mais diversos módulos a serem vistos é possível conferir esculturas, fotografias, instalações e até mesmo filmes experimentais. Os visitantes terão acesso a obras primas que influenciaram não somente a história da arte, mas também o mundo da moda, a publicidade, o design e a indústria audiovisual em todo o planeta. 

Andy Warhol: pop art, que é organizada pelo Instituto Totex, reúne peças e imagens emblemáticas como, por exemplo, as famosas Sopas Campbell, Elvis Presley, Marilyn Monroe, Michael Jackson e até mesmo o eterno rei do futebol, Pelé. Recomendo de olhos fechados para quem só conhece o artista e visionário de nome e, principalmente, para quem quer saber mais acerca desse gênio irascível e altamente futurista. Cá entre nós, pouquíssimos artistas falaram de forma tão certeira sobre o amanhã quanto ele.

Vale o ingresso - e muito!