O mundo do boxe costuma dizer que o confronto entre Muhammad Ali e George Foreman em 30 de outubro de 1974, no Zaire, foi o ato definitivo do esporte. Alguns chegam a dizer que nunca mais algo do tipo existirá (e é provável, em tempos de UFC e lutas fakes, arranjadas, entre subcelebridades e lutadores aposentados). Meu pai sempre se lembrava do combate com um brilho nos olhos. "Nunca mais haverá outro Ali", dizia ele sempre.
Passei anos querendo entender o que foi aquele duelo. Nasci em 1976 e só me restavam as imagens de arquivos e livros sobre esportes. Mais do que isso: queria me deparar com um material que traduzisse o que foi aquele período, que mostrasse a rotina de treinamentos, as dúvidas e escolhas de ambos os lutadores, o papel da mídia ao vender a luta, etc... E por muito tempo não cheguei nem perto de ler (ou ver) algo do tipo.
Até me deparar, essa semana, com o exuberante A luta, do consagrado escritor Norman Mailer.
Sempre fui fã de Mailer por conta de sua ironia fina e seu sarcasmo sempre bem vindo em narrativas fortes, como Os nus e os mortos, Marilyn, A canção do carrasco e Um sonho americano. Ele faz parte de uma galeria de ficcionistas irretocáveis que deveria ser leitura obrigatória na vida de qualquer leitor que se preze.
Em A Luta, ele promove um grande ensaio inesquecível sobre uma era que, infelizmente, já se foi. Mais do que a rivalidade entre dois gigantes dos ringues, o livro nos traz uma investigação profunda sobre duas personalidades metódicas rodeadas por uma imprensa ácida, sempre a postos para jogar um contra o outro, além do próprio staff de cada um deles, que compunha um retrato do que era os Estados Unidos daquela época.
Em alguns momentos caí na gargalhada, em outros me enfureci com a postura de certos agentes que tornaram essa luta um marco histórico sem igual, e em outros ainda fiquei estático com a narrativa precisa - e quase mediúnica - de seu autor. E que autor!
Recomendo a leitura não somente para amantes do boxe ou esportes em geral, mas também para fãs de jornalismo investigativo e que sabem apreciar uma pesquisa bem feita!
Excepcional.