Ele era daquelas pessoas de quem eu discordava de quase tudo (principalmente de suas opiniões acerca da geopolítica mundial). No entanto, como ficcionista, foi um dos melhores que li em toda a minha vida como leitor. Digo mais: para mim, foi o último grande vencedor do Prêmio Nobel de Literatura - que ele ganhou em 2010.
De quem falo? Do escritor peruano Mario Vargas Llosa, que nos deixou aos 89 anos.
Li seu romance mais famoso aqui no Brasil, Pantaleão e as visitadoras, no começo da graduação em comunicação social e foi um acontecimento. Fez eu, inclusive, repensar minha opinião sobre a literatura latino-americana (que sempre foi uma coqueluche na minha vida).
Depois vieram A cidade e os cachorros, A guerra do fim do mundo (sobre a Guerra de Canudos), Conversas na catedral (que muitos críticos consideram sua melhor obra) e A festa do bode. Aliás, hoje em dia indico para quem está iniciando na obra dele: comece por este último. Costumo classificá-lo entre uma obra-prima não reconhecida e um clássico subestimado.
São famosas suas brigas e discussões com Gabriel García Marquez. Na verdade, a relação entre os dois Nobéis era entre tapas e beijos. Mario via García Marquez como amigo de ditadores e ele, sempre um liberal, não via tal escolha com bons olhos. Contudo, não me compete aqui falar do indivíduo Vargas Llosa. Acho bem mais interessante - e complexa - sua faceta como autor.
Era fácil ler seus romances. E, em muitos momentos, eu me senti personagem daquilo que lia. Principalmente suas criações literárias que viviam na berlinda, no submundo, enfrentando o sistema (um antítese do que ele era como pensador político).
Um antigo professor de literatura da universidade onde estudei e com quem conversava na cantina de tempos em tempos chamava o autor peruano de "uma incógnita poderosa". E eu, confesso, custei a entender o que ele queria dizer com aquilo. Só com o passar do tempo pude concordar com sua visão acerca do escritor. Ele realmente soube separar o ficcionista de tramas políticas (e tensas) bem construídas, do homem ligado à direita que acreditava no neoliberalismo.
E acho que esse foi o seu maior legado para a história da literatura. Uma pena que a atual sociedade discuta tudo hoje em dia sob a ótica da polarização e da guerra cultural. Logo, muita gente que sequer o leu vai massacrá-lo nas odiosas redes sociais de forma gratuita e sem critério. Enfim... tem quem chame essa ignorância de modernidade hoje em dia. Tenebrosos tempos!
Aos que fugirem dessa mentalidade covarde, recomendo: leiam Mario Vargas Llosa o quanto antes. Sua obra é magnífica e merece ser apreciada.
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