Faço parte de um período da história em que amores não correspondidos, videoclipes de última geração, loiras platinadas e rock n' roll tocando alto em toca-discos dividiam as atenções e se confundiam em meio a uma geração que ficou conhecida - pela música do Legião Urbana - como "filhos da revolução". E nessa busca incessante por referências e símbolos caçávamos em filmes, livros, LPs, peças de teatro, quadrinhos, todo tipo de narrativa que fosse capaz de nos definir (ou, ao menos, nos situar) dentro daquele mundo vertiginoso.
E Clube dos cinco, longa-metragem dirigido por John Hughes, que completa 4 décadas de existência em 2025, conseguiu isso com folga. É, provavelmente, o melhor exemplo do que foi a minha adolescência - e a de muita gente - naquele período em que o mundo e, principalmente, o Brasil tentavam se redescobrir, encontrar um novo caminho.
Gosto mais do título original e nunca tive vergonha de admitir: The Breakfast Club (o clube do café da manhã, parece mais a cara e o estilo daqueles cinco jovens, que tiveram de lidar com a difícil missão de passar pela detenção escolar). E acreditem: ficar de castigo depois na aula naquela época era das experiências mais terríveis que um jovem poderia viver.
Brian (Anthony Michael Hall), John (Judd Nelson), Claire (Molly Ringwald), Allison (Ally Sheed) e Andrew (Emilio Estevez) eram o retrato vivo da rebeldia juvenil daquela década. O nerd que não se encaixava em grupo algum, o bad boy revoltado com Deus e o mundo, a menina mais popular do colégio, a sua exata oposta: a impopularidade e excentricidade em pessoa e o metido a forte, ligado em esportes.
Clube dos cinco é o pilar fundador da Brat Pack (ou geração BRAT, como chamávamos por aqui; um período em que o cinema hollywoodiano começa a se interessar por filmes para jovens, até então relegados a segundo plano nas semanas de lançamento).
Se a priori juntar na mesma sala, confinados, esses cinco desajustados com personalidades completamente diferentes parece uma grande loucura, com o tempo o que se percebe é que os problemas pessoais de todos eles parecem ressoar uns nos outros. A eterna luta contra os pais - que não os entendiam completamente; a busca por afirmação; as rivalidades egocêntricas por assuntos tão banais; os flertes e paqueras... Todos os dilemas jovens se mesclam e, ao mesmo tempo, se renegam num filme que marcou uma era.
Recentemente a atriz Molly Ringwald declarou que é contra fazerem um remake do longa. "Ele faz parte de um outro mundo", disse ela. E eu concordo totalmente. E certamente, se abordassem questões dos atuais jovens - que nem querem mais perder tempo com escolas, conseguem qualquer informação fake na internet e nas redes sociais - ele iriam acabar apresentando um projeto tosco, falho, sem identidade alguma, e escondido atrás de expressões como diversidade e empoderamento. Prefiro que o original permaneça, intocável.
No mais, fica meu convite para que as novas gerações o conheçam. Aposto como vão se surpreender com o teor da história e o clima "rebelde, mas nem tanto" do filme. Assistam!
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